
Paraupebas (PA) — Com a proximidade da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP30), a maior do mundo sobre o tema, que ocorre em Belém, de 10 A 21 de novembro, os olhos do planeta se voltam ao Pará. No entanto, para quem vive ali, a importância da região vai muito além dos debates entre as lideranças nacionais e internacionais. O foco, para a população local, é conservar a floresta em pé, na prática. Atualmente, numerosos projetos estão ativos para preservar a Amazônia e, ao mesmo tempo, levar renda e dignidade para a população. O Correio conheceu algumas dessas ações com relevância socioambiental.
Entre sistemas agroflorestais (SAF), fabricação de biojoias, cerâmicas que contam a história dos povos tradicionais e apicultura, os pequenos produtores do município de Parauapebas, vizinhos da Floresta Nacional de Carajás (Flonaca), recebem apoio de diferentes fontes, como da Vale, que apoiou 340 iniciativas de impacto socioambiental. Outras 120 ações foram impulsionadas por meio de parcerias. A Flonaca é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a companhia mineradora.
Em muitas atividades socioambientais, as mulheres são líderes. Na Associação Filhas do Mel
(AFMA), as apicultoras coordenam os trabalhos com abelhas com e sem ferrão, essenciais para a manutenção da floresta e também uma fonte de renda para as famílias. Sem esses insetos, as plantas não são polinizadas e morrem. "Nosso sonho é que nossa ideia se torne grandiosa para colaborar com o município e com o meio ambiente", destaca Ana Alice de Queiroz, presidente da AFMA.

Luta
Para que as colmeias vivam bem, os associados mantêm a vegetação nativa. "Demos continuidade a uma atividade que está no nosso sangue. Nosso objetivo é conscientizar a sociedade da importância da floresta em pé. Sem floresta, não tem alimento. A abelha faz parte da família, cuidamos como se fosse uma filha", revela Rosemir Ferreira, apicultora da AFMA. Recentemente, ela perdeu 200 caixas de criação em decorrência do uso de agrotóxicos pelo vizinho pecuarista. Agora, luta para conseguir reproduzir as abelhas restantes, para continuarem cuidando do meio ambiente.
Já a iniciativa Diamante Negro da Amazônia (Dinam) incorpora sustentabilidade na produção de pimenta-do-reino. Tradicionalmente, o tempero é plantado sem a integração com outras plantas, mas a proposta é incluir os sistemas agroflorestais, cultivando a espécie junto ao açaí, ao cacau e a outras árvores nativas, criando uma produção amiga da natureza local. "Assim, é possível produzir e recuperar ambientes degradados ao mesmo tempo", sublinha a fundadora da startup, Thainara Vasconcelos.
Os sistemas agroflorestais têm se mostrado essenciais na conservação ambiental aliada à produção. O instituto Belterra integra cacau, milho, bananas e árvores nativas, e a iniciativa conseguiu recuperar mais de 50 hectares de terras degradadas, ajudando na preservação da flora local e ajudando na renda da população. Esse tipo de estratégia é apontada como uma aliada para alcançar metas de reflorestamento.
"Fomentamos o surgimento de startups agroflorestais, e a Belterra é uma delas. Ela trabalha com sistemas agroflorestais no consórcio de diversas espécies. Entramos com milho, feijão, banana, cacau e espécies nativas, como jatobá ou jaborandi", detalha Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale. "Nessa perspectiva, além de um impacto ambiental, que é transformar um solo degradado em um sistema agroflorestal e criar uma floresta secundária, manter a floresta em pé, também há um ganho de renda, porque produtores rurais envolvidos nas parcerias têm um retorno financeiro."
Violência doméstica
Na mesma linha, a Cooperativa Mulheres Agricultoras (Coopmusa) acolhe 55 produtoras da zona rural de Parauapebas e incentiva a agricultura local sustentável. A iniciativa entrega entre 4t e 6t de alimentos por semana para escolas da região e outros compradores. A ideia inicial era integrar a comunidade feminina e resgatar a autoestima das agricultoras que sofriam violência doméstica, mas o sucesso foi grande e a cooperativa cresceu.
Usando a técnica da hidroponia, as mulheres não precisam corrigir o solo para o plantio e também economizam água, além da redução do tempo de produção. "Nos apaixonamos por essa ideia. Cada uma produz um pouco na sua terra, estamos construindo uma história para essas mulheres. Não é porque estamos no mato, que vamos ficar esquecidas. Entregamos alimentos de qualidade e isso requer persistência", conta Kerliane Ribeiro, presidente da cooperativa.
*A repórter viajou a convite da Vale
Saiba Mais
Preservação da biodiversidade amazônica
O Bioparque Vale Amazônia, criado em 1985, consolidou-se como um dos principais centros de pesquisa, conservação e educação em biodiversidade do Brasil. No centro da Floresta Nacional de Carajás, o espaço, que ocupa 30 hectares e tem 70% de floresta nativa, é dividido em 29 recintos, conta com mais de 360 animais de 70 espécies locais, além de um herbário, com mais de 16 mil espécies da flora amazônica.
Com o ambiente perfeitamente equilibrado, foram registrados nascimentos de onças-pintada, ararajuba, urubu-rei e harpia, todas essas espécies vulneráveis. No local, há um viveiro de imersão com mais de 86 aves de 24 espécies.
Atualmente, o herbário é indexado pelo Jardim Botânico de Nova York e faz parte da Rede Brasileira de Herbários e da rota internacional de pesquisa científica. O Bioparque Vale Amazônia recebe cerca de 100 mil visitantes por ano, e tem um hospital completo, que recebe animais vítimas de maus-tratos e recuperados do tráfico. Bichos feridos encontrados na região também são cuidados lá.
Genética
"O bioparque tem esse papel fundamental na conservação das espécies amazônicas, justamente por ser um lugar que protege. Ele também se tornou um banco genético vivo para essas espécies", relata Nereston Camargo, veterinário da instituição. "Caso ocorra a extinção no ambiente natural, a gente tem aqui um banco genético bem forte, e as espécies são totalmente saudáveis. Por isso, é importante esse trabalho, tanto na conservação como na educação ambiental."
Para estimular e facilitar o reflorestamento, o Viveiro de Mudas de Carajás já recebeu mais de 25 mil toneladas de sementes em seis anos. Em parceria com a comunidade extrativista da região (Coex), o viveiro planta espécies nativas que serão distribuídas nas áreas já mapeadas.
As sementes recebidas são levadas para uma espécie de berçário e depois para a casa de germinação, onde crescem até ter tamanho suficiente para ficar expostas a um ambiente não controlado. Assim, as árvores se adaptam ao clima do local onde serão plantadas. (IA)
Mosaico de proteção
O Mosaico de Carajás abrange seis unidades de conservação: quatro de uso sustentável e duas de proteção integral. São elas: Floresta Nacional de Carajás, Reserva Biológica do Tapirapé, Floresta Nacional do Tapirapé-aquiri, Floresta Nacional do Itapiúnas e Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado:
» São 800 mil hectares de área, o equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo
» As unidades de conservação estocam cerca de 601 megatoneladas de gás carbônico
» No total, há 22.537 nascentes protegidas
Floresta Nacional de Carajás, no Pará, é uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a mineradora Vale:
» Abriga mais de 3 mil espécies de animais e plantas
» Tem mais de 11 mil nascentes de água protegidas
» Para proteger a área, uma equipe de guardas florestais realizou mais de 14 mil patrulhamentos nos últimos três anos
» A vigilância é feita por terra, ar e água
» A atuação dos guardas florestais evitou, entre 2021 e 2023, 422 tentativas de atividades, como garimpo ilegal, caça e pesca predatórias e extração de madeira