
Recife — Começava com este verso o samba-enredo Festa Profana, da escola de samba União da Ilha do Governador, no carnaval de 1989. Diante dessa determinação do Rei Momo, está aberto o período da festa popular em todo o país, embora, na verdade, já tenha começado há alguns dias, em várias cidades do país, com desfiles de blocos de rua.
Em Recife, a brincadeira começou cedo, com a multidão reunida para esperar a chegada da alegoria mais aguardada do ano: o Galo da Madrugada. Nesse clima de celebração da alegria, milhares de recifenses, pernambucanos de outras partes do estado e uma incontável quantidade de turistas se aglomeram na Praça Marco Zero, no centro de Recife. A representação do galo, de mais de 20m de altura, foi erguida diante da multidão na quarta-feira, mas o cortejo sai hoje, às 9h.
Tradição de Recife, o Galo da Madrugada começou quando 75 pessoas fantasiadas de fantasmas percorreram as ruas do bairro de São José, na área central da capital pernambucana. Com seus sacos de confetes e serpentinas, eram acompanhadas por uma orquestra de frevo composta por 22 músicos. Nascia, então, o Clube das Máscaras O Galo da Madrugada.
A expectativa é de que o bloco receba, hoje, em torno de 2,5 milhões de pessoas. Com mais de nove horas de duração, o desfile conta com uma sofisticada organização: serão 30 trios elétricos, 30 bandas e orquestras de frevo, 10 carros de apoio, seis carros alegóricos, 200 diretores e coordenadores de desfile, cerca de 1 mil artistas — entre cantores, músicos e bailarinos —, 97 figurantes e 312 carregadores de bonecos e bandeiras.
Criado pelo ceramista e designer de moda Leopoldo Nóbrega, o Galo da Madrugada inova utilizando, este ano, elementos recicláveis. A estrutura teve como base materiais sustentáveis — tampas de garrafas PETs foram utilizadas e pneus descartados foram utilizados para construir as sandálias do galo.
No segundo dia oficial da festa, os foliões se divertiram, ontem, ao som d'O Grande Encontro, que reuniu as vozes da paraibana Elba Ramalho e dos pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Também agitaram o público os cantores João Gomes e Priscila Senna.
Alceu tem, ainda, mais um compromisso para esses dias de festa: o bloco criado por ele, o Maluco Beleza. "Este ano, colocamos o bloco na Rua da Aurora (cartão postal de Recife) pela primeira vez. No carnaval, cantamos frevo e, no São João, baião", afirmou. O prefeito João Campos (PSB) acompanhou a abertura do carnaval recifense acompanhado da namorada, a deputada federal Tábata Amaral (PSB-SP).
A folia em Recife se estende até terça-feira. Haverá shows espalhados em vários polos de apresentação, nos quais estarão Pablo Vittar, Gloria Groove, Fafá de Belém, Lenine, André Rio, Spok Frevo, Mart'nália, Chico César, Barão Vermelho, Mundo Livre, Nação Zumbi, além de orquestras e grupos regionais.
Carmelitas e o papa
No Rio de Janeiro, em Santa Teresa, na Zona Sul da cidade, o Bloco das Carmelitas saiu pelas ruas do bairro não apenas espalhando alegria, confete e serpentina, mas, também, boas vibrações pela saúde do papa Francisco — que esteve representado por um sósia. Para hoje, a vez é de o Cordão do Bola Preta — o mais antigo bloco da cidade — descer a Rua do Riachuelo, no Centro, rumo aos Arcos da Lapa para abrir o circuito dos megablocos que se encontram na Avenida Presidente Antônio Carlos — e puxar milhares de foliões.
As escolas de samba se apresentam a partir de amanhã. As primeiras a irem para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí são Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Mangueira. Na segunda-feira é a vez de Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Acadêmicos do Salgueiro e Unidos de Vila Isabel. Na terça-feira, os desfiles são da Mocidade Independente de Padre Miguel, da Paraíso do Tuiuti, da Acadêmicos do Grande Rio e da Portela.
Em Salvador, a farra vem acontecendo desde a quinta-feira no ritmo da Axé Music — que completa 40 anos de folia neste carnaval. Com oito circuitos oficiais, a capital baiana tem festa para todas as idades e gostos. O trio elétrico mais tradicional, o de Armandinho, Dodô e Osmar, percorre o circuito Barra-Ondina, mas terá apresentações nos circuitos do Campo Grande, do Mestre Bimba (Manoel Reis Machado, criador da capoeira regional), do Batatinha (o cantor e compositor baiano Oscar da Penha), o do Sérgio Bezerra, o do Riachão (que homenageia o sambista Clementino Rodrigues), o da Mãe Hilda Jitolu e o do Orlando Tapajós.
Já em São Paulo, a Prefeitura da capital espera pelo 16 milhões de foliões para pular e sua em um dos 601 blocos, cujas saídas estão espalhadas por vários bairros da cidade. Com dois dias de desfile, as 14 escolas de samba se apresentam no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo.
Para concluir, não custa lembrar o que propunha o refrão do samba-enredo Festa Profana: "Eu vou tomar um porre de felicidade/ Vou sacudir, eu vou zoar toda cidade".
Repórter foi enviada especialmente a Recife
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