O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) deve ter percebido que seu partido está cedendo suas bandeiras para a direita. No dia da posse ilegal de Nicolás Maduro, ele se apressou em ocupar espaço e postar no X, de Elon Musk, o que resumo com as mesmas palavras: "O governo venezuelano é uma ditadura e a posse de Nicolás Maduro, hoje, é ilegítima e farsante… regime que desrespeita direitos humanos, alternância e soberania popular… é dever do democrata condenar qualquer ditadura." Enquanto o mundo escutava o silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representantes do PT erguiam a voz para saudar Maduro em Caracas. Randolfe não quis participar desse abandono de bandeiras a que a esquerda se obriga a cada circunstância.
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Nas manifestações esquerdistas de maio de 1968 em Paris — lembro bem —, a bandeira principal era "É proibido proibir". Em setembro do mesmo ano, no Festival Internacional da Canção, no Maracanazinho, Caetano Veloso levava o slogan para a esquerda brasileira protestar, cantando É Proibido Proibir. Hoje, no Brasil, a esquerda quer proibir e é a direita que insiste, nas redes, que é proibido proibir. (Afinal, é a própria Constituição que veda censura "de natureza política, ideológica e artística"). Bandeiras trocadas?
Jovens de sucesso, hoje ícones do progresso, Musk e Mark Zuckerberg estão sendo rotulados de retrógrados na mídia de esquerda, porque não querem censura em suas redes e porque deixaram de acreditar no dogma woke de que em vez de mérito, a escolha tem que ser pelo sexo, a cor da pele, a preferência sexual — essa "ordem" alimentou o fogo em Los Angeles, com o fracasso dessas escolhas nos governos locais. Enquanto isso, a direita aplaude a livre iniciativa dos chefes do X e da Meta. Bandeiras trocadas?
O ex-vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, em magistral pensata que bomba nas redes, citou letras de músicas de protesto da esquerda contra o governo militar e perguntou por que não cantam hoje versos parecidos com os de Apesar de Você, Alegria, Alegria, Cálice, Meu Caro Amigo, Acorda Amor, Pra Dizer Que Não Falei de Flores, cujos sons de protesto estariam atualizadíssimos hoje, assim como o filme Ainda Estou Aqui pode se referir, também, à maioria dos presos do 8 de janeiro de 2023, segundo ele. A mesma classe artística intelectual está calada ante a censura ilegal, o arbítrio, enquanto a direita protesta por liberdade de expressão com artistas mais próximos do povão. Bandeiras trocadas?
O nacionalismo era bandeira da esquerda, incluindo a defesa da Amazônia. Aldo Rebello deixou o Partido Comunista do Brasil depois de 32 anos e tornou-se o maior defensor da soberania e da ocupação da Amazônia por brasileiros. Hoje, quem defende a soberania da Amazônia são vozes da direita, enquanto a esquerda se omite diante do que já foi apurado por CPI sobre ONGs estrangeiras e cala ante incêndios e a truculência do Estado que expulsa brasileiros pobres que praticam agricultura e pecuária no território amazônico.
A esquerda já não fala, não faz música nem teatro e cinema para protestar, ante o descumprimento de direitos fundamentais da Constituição. Ao contrário, incita e aprova prisões políticas e censura, nega anistia, enquanto a direita agita as bandeiras de liberdade de expressão, anistia, cumprimento da Constituição. A esquerda que havia proposto comprovante do voto, com Roberto Requião, Brizola Neto, Flávio Dino, agora critica a demanda de transparência na apuração.
Por fim, a decisiva troca de bandeiras: a esquerda, que nas ruas, de 1964 ao impeachment de Fernando Collor, cantava o Hino Nacional, hoje agita bandeiras vermelhas, sem o verde e amarelo. Cedeu a bandeira do Brasil, que hoje é da direita.
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