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Casos de violência policial voltam a chocar o Brasil

Duas imagens chocam pela truculência de membros da segurança pública de São Paulo. Em uma, PM lança jovem por cima de mureta em córrego — e colegas de farda nada fazem para contê-lo. Noutra, agente dispara 11 tiros em rapaz que furtara mercado

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afastou 13 policias militares depois que um deles jogou um jovem que trabalha com entregas de cima de uma ponte, dentro de um córrego, em Cidade Ademar, Zona Sul da capital paulista. Os PMs faziam uma operação de rotina e, de acordo com as imagens que circularam pelas redes sociais, nenhum dos agentes tentou impedir o colega de atirar o homem da ponte.

O governador Tarcísio Gomes de Freitas e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, se manifestaram pelas redes sociais. No X (antigo Twitter), o chefe do Poder Executivo paulista afirmou que "policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda".

Derrite comentou o caso em um vídeo postado no X. "Determinei o afastamento imediato dos policiais envolvidos nessa cena lamentável. A missão da Polícia Militar difere em muito desse tipo de atitude", afirmou.

Em entrevista à Globo News, o comandante-geral da PM paulista, coronel Cassio Araújo de Freitas, disse que em mais de três décadas de serviço na corporação jamais viu cena igual. "Tenho 34 anos de serviço e não tinha visto algo parecido com isso", lamentou. Ele assegurou que a ação foi filmada pelas câmeras corporais e que as imagens estão sendo analisadas pela Corregedoria. O coronel, porém, classificou o episódio como um "erro individual".

A imagem do homem sendo jogado da ponte se soma a outra, que circulou 24h antes, que mostra um policial atirando em um jovem que acabara de furtar quatro pacotes de sabão em um mercado. Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, foi executado com 11 tiros pelas costas pelo PM Vinicius de Lima Britto, no Jardim Prudência, na Zona Sul paulistana. O crime foi em 3 de novembro, mas as imagens circularam na segunda-feira.

As imagens mostram Gabriel pegando os pacotes numa gôndola e tentando fugir. Na saída da loja, escorrega em um papelão e chama a atenção de Vinicius. Os embrulhos vão ao chão e, no momento em que tenta pegá-los, o policial saca a arma e atira contra o jovem. No boletim de ocorrência, o PM alegou ter agido em legítima defesa. A SSP-SP confirmou que ele foi afastado das funções.

Polêmicas

Desde o começo do governo de Tarcísio de Freitas, integrantes de polícia paulista, além das próprias corporações, têm acumulado episódios de violência. As polêmicas envolvendo truculência começaram com a Operação Verão na Baixada Santista — cujo saldo foi a morte de 56 pessoas. Ao longo da operação, encerrada em abril passado, 1.025 infratores foram presos — 438 eram procurados pela Justiça — e 47 menores de idade foram apreendidos.

Outro episódio envolvendo policiais foi o assassinato, em 8 de novembro, de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, que delatou operações do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi morto no Aeroporto Internacional de Guarulhos, supostamente a mando da facção. PMs faziam a segurança de Gritzbach e 12 policiais militares foram afastados por terem alguma ligação como o homicídio.

"O governo Tarcísio com o secretário Derrite têm uma ideia de polícia que seja truculenta. Uma polícia mais "forte". Embora o comando da polícia militar seja muito profissional, muito competente, gera um sentimento, na ponta da linha, de que está tudo liberado, que eles [policiais militares] podem atuar como quiserem", explicou Rafael Alcadipani, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O especialista em direito militar Berlinque Cantelmo julga importante refletir sobre o "adoecimento das tropas", em razão do nível de cobrança por resultados. "A capacitação contínua em técnicas não letais e abordagens humanizadas é essencial, assim como a implementação de mecanismos de transparência, como o uso obrigatório de câmeras corporais", salienta.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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