RIO GRANDE DO SUL

O que é o arsênio, substância encontrada no sangue de família no RS

Arsênico é um composto inorgânico do arsênio e pode ser tóxico para as pessoas

Resultados de análises laboratoriais apontam que havia arsênio no sangue de uma das vítimas e de dois sobreviventes que passaram mal após comer um bolo em uma confraternização familiar -  (crédito: Polícia Civil/Divulgação)
Resultados de análises laboratoriais apontam que havia arsênio no sangue de uma das vítimas e de dois sobreviventes que passaram mal após comer um bolo em uma confraternização familiar - (crédito: Polícia Civil/Divulgação)

Resultados de análises laboratoriais feitas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes apontam que havia arsênio no sangue de uma das vítimas e de dois sobreviventes que passaram mal após comer um bolo em uma confraternização familiar em Torres (RS).

O arsênio é um semi-metal, também chamado de metaloide, que está presente de forma natural na crosta da Terra e liberado de forma natural em poeiras de vulcões, por exemplo. O elemento, contudo, também poder ser obtido pela ação humana, especialmente pela mineração. O arsênio pode gerar compostos orgânicos e inorgânicos. Esse segundo é o mais perigoso para as pessoas. Um desses compostos inorgânicos é o arsênico — o elemento é usado em pesticidas ou venenos para roedores, por exemplo.

Fabiana Soares, médica, mestre em medicina de família e comunidade pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica ao Correio como o composto pode afetar o corpo humano. "Na forma aguda, ou seja, imediata, (o arsênico) causará vomito, enjoo, diarreia, a pessoa pode ficar desorientada. A gente coloca 'volume', hidrata a a pessoa, mas ela pode não responder e acaba falecendo, especialmente se ela não souber que teve contato com o arsênico. A exposição crônica, ou seja, a longo prazo, uma pequena exposição todos os dias, a pessoa pode ter pressão alta, diabete e até câncer", detalha.

Segundo informações do Laboratório de Análises Químicas, Industriais e Ambientais (LAQIA) da Universidade de Federal de Santa Maria (UFSM), a toxidade do arsênico varia de acordo com o estado de oxidação do composto, sendo a espécie As3+ considerada a mais tóxica.

De acordo com Fabiana, os casos de intoxicação por arsênico são raros nos hospitais. "Não é nada comum chegar pacientes com intoxicação por arsênico no pronto socorro. Nós médicos não costumamos atender esses quadros e quando ocorre a pessoa não está sabendo (que se trata de arsênico). Chegou o paciente com quadro de intoxicação, o tratamento é monitoramento, suporte com reposição de liquido e fazer com que a pessoa responda. Claro que se a pessoa souber que se trata de contato com o arsênico existem remédios que cortam a ação", pontua.

Segundo relatório Exposição ao arsénio: uma grande preocupação de saúde pública, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado em 2019, existem diversas razões para as pessoas serem expostas ao arsênio — com liberação na atmosfera ou na água. Veja algumas:

  •  Ações naturais, como atividades vulcânicas
  •  Ações humanas, como combustão de combustíveis fósseis (em especial, carvão), mineração, produção e uso de pesticidas
  •  Reutilização de fontes de água contaminadas

Entenda a história 

Sete pessoas da mesma família estavam reunidas em um café da tarde quando começaram a passar mal, conforme a Polícia Civil. Somente uma delas não comeu o alimento.

Três delas morreram e seus corpos foram enviados para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP). Resultados de exames que testam a causa de morte devem ser divulgados na próxima semana.

Foram analisados o sangue de Neuza Denize Silva dos Anjos, que morreu depois de ingerir o alimento, e de outras duas pessoas: da mulher que preparou o bolo e do sobrinho-neto dela, de 10 anos. Os nomes deles não foram oficialmente divulgados. Eles estão hospitalizados e estão "clinicamente estáveis", segundo boletim médico.

Outras duas pessoas, além de Neuza, morreram em um intervalo de poucas horas. Tatiana Denize Silva dos Santos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória.

O delegado Marcos Vinícius Veloso, que conduz as investigações, disse ao g1 que a mulher que fez o bolo foi a única a comer duas fatias. A maior concentração de veneno foi encontrado no sangue dela.

O delegado informou que o ex-marido da mulher que fez o bolo morreu em setembro por intoxicação alimentar. Na época, a morte não foi investigada pela polícia por ter sido considerada natural, mas agora a instituição instaurou inquérito e pediu a exumação do corpo.

Ronayre Nunes
Isabela Stanga
postado em 27/12/2024 18:50 / atualizado em 27/12/2024 21:52
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