NATAL

Natal rima com família disfuncional

Não são em todas as casas do Brasil em que o Natal é celebrado como uma reunião familiar agradável. Conheça histórias de famílias que não contemplam o tradicional

Dinâmicas familiares disfuncionais podem ser afloradas em datas comemorativas -  (crédito: Freepik)
Dinâmicas familiares disfuncionais podem ser afloradas em datas comemorativas - (crédito: Freepik)

Em famílias disfuncionais, gritos e brigas podem substituir os agradáveis abraços e presentes na véspera do Natal. É importante lembrar que o período de reuniões familiares não é uma realidade igual para todos, e aqueles que se sentem sozinhos não devem ser julgados.  

Dinâmicas familiares abusivas causam o afastamento independente da época do ano. Para Juliana*, 21 anos, a melhor celebração é passar o Natal sozinha, em paz, longe de confusões. Filha de pais divorciados, a jovem optou por se ausentar da ceia natalina caracterizada por discussões sobre pensão e ideias pessoais. 

“O que menos traria felicidade para o meu Natal seria que a minha família se unisse, porque isso só causaria muita briga e desconforto”, ela explica. As propagandas natalinas que sempre retratam felicidade incondicional incomodam Juliana*, que argumenta serem falsas: “Essa ideia de família ideal é ilusória, cada família, no fundo, tem muitos problemas.” 

Com parentes que discutem desde quando era criança, Juliana* afirma que todos fingem se dar bem em prol da família, o que acaba gerando um clima desconfortável. “Por mais que a fachada possa parecer feliz, internamente estamos brigando horrores", explica. 

Enquanto tudo desmorona, ela prefere se abster da confusão que a deixa exausta. “Tudo que eu queria era ter um dia de paz, realmente sozinha, sem a influência deles, seja uma briga entre eles ou contra mim”, completa.

Já para Olívia*, 19, que também é filha de pais divorciados, o Natal nunca contemplou memórias positivas com o pai. Mesmo acordado na Justiça que a data seria comemorada com o genitor, ela não se sentia confortável com a interação. 

Agora que está mais velha, Olívia* decidiu se afastar da mãe, com quem desenvolveu uma relação abusiva. “Não me sinto querida nem amada, sempre escuto conversas que me desagradam”, afirma. O Natal da jovem será celebrado com a família do pai desta vez, pessoas que tentam acolhê-la da melhor forma possível para compensar o tempo perdido. 

A psicóloga Junia Cristina Viannini explica que a dinâmica familiar é aflorada em períodos comemorativos, e relações tensas podem se tornar mais explícitas. “O significado do Natal não pode ser generalizado. A escolha de se ausentar de reuniões desagradáveis pode ter um impacto positivo ao evitar situações de estresse e desgaste”, enfatiza.

Junia recomenda respeitar pessoas que se identificam com as histórias descritas pelas entrevistadas, pois a falta de uma condição familiar satisfatória é uma questão pessoal complexa. “É lamentável que algumas famílias não consigam se conciliar, todos saem perdendo", pontua. 

A especialista afirma que os danos psicológicos causados por falta de rede de apoio familiar são sempre desastrosos, resultados da primeira referência afetiva que uma criança tem. Sem cuidados necessários no processo de desenvolvimento, Junia opina que pessoas desamparadas de família saudável podem desenvolver diversos transtornos. 

*Os nomes das entrevistas foram alterados para preservar a identidade delas. 



Bianca Lucca
postado em 24/12/2024 17:31
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