Trânsito

Acidente reacende alerta para segurança em BR-116

Acidente matou 41 pessoas em rodovia de Minas Gerais

Um acidente envolvendo um ônibus, uma carreta e um carro deixou 38 mortos em Teófilo Otoni (MG) na madrugada deste sábado (21). -  (crédito: Divulgação Bombeiros MG)
Um acidente envolvendo um ônibus, uma carreta e um carro deixou 38 mortos em Teófilo Otoni (MG) na madrugada deste sábado (21). - (crédito: Divulgação Bombeiros MG)

A rodovia onde ocorreu o mais grave acidente de trânsito no país também ostenta um recorde indesejável. Segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), por meio do Painel de Acidentes Rodoviários 2023, a BR-116 foi considerada a mais letal de 2023. A estrada liga o extremo sul do país, na fronteira com o Uruguai, até a longínqua Fortaleza (CE).

Somente no ano passado, foram registradas 736 mortes ocasionadas por acidentes rodoviários na BR-116, o que representa um crescimento expressivo de 15,3% em relação ao ano anterior, quando foram contabilizadas 640 vítimas. O avanço deste número foi maior do que o da BR-101, que ficou em segundo lugar, com variação de 9,6% e 661 mortes, e da BR-163, que aparece na sequência, com 10,4% de crescimento e 244 pessoas mortas.

Ao levar em consideração mortos e feridos em sinistros nas rodovias, a BR-116 fica na segunda posição, com 9.704 vítimas, ante 9.979 da BR-101. Apesar disso, a estrada que liga o Rio Grande do Sul ao Ceará registrou o maior aumento de vítimas em acidentes entre as dez estradas que mais registraram casos no ano passado. Nesse período, o avanço foi de 12,8% na comparação com 2022.

O acidente que ocorreu na madrugada do último sábado foi o maior dos últimos dezoito anos em todas as rodovias federais brasileiras, período em que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) começou a contabilizar as vítimas de acidentes nas rodovias sob jurisdição da União no país. O recorde anterior era de 2011, quando uma ocorrência deixou 33 mortos na cidade de Nova Itarana, na Bahia.

A gravidade da ocorrência reacende o debate sobre a duplicação do trecho da rodovia, que convive com um intenso fluxo de caminhões pesados que atravessam o país de norte a sul do país, além de milhares de carros, motos e ônibus. O transporte de granito, como no caso da carreta envolvida no sinistro de anteontem, é muito comum na região, visto que o norte de Minas é conhecido por ser um local de intensa atividade extrativa da rocha.

Outro problema é a falta de fiscalização em alguns trechos — uma das reclamações mais constantes, o que se torna mais grave em pontos críticos da pista, como em curvas acentuadas. A falta de fiscalização e a má qualidade das pistas também são problemas recorrentes em grande parte das rodovias de Minas Gerais. O estado foi o líder isolado em mortes ocasionadas por acidente ocorridos em rodovias federais no ano passado, com 727 vítimas no total, com um avanço de 3,7% ante 2022. MG também liderou o ranking de estados com mais acidentes com vítimas (mortos ou feridos). Foram 7.845 casos no total e um crescimento de 10,3%.

O governador do estado, Romeu Zema, é um defensor do avanço das privatizações das rodovias. No mês passado, ele propôs a criação de uma agência reguladora de serviços de transporte no estado, a Artemig. O tema foi discutido no plenário da Assembleia Legislativa. A definição deve ocorrer no ano que vem. O objetivo, segundo o Executivo local, seria garantir transparência e segurança jurídica nos processos de concessão e privatização das rodovias.

Foragido

A Polícia Militar de Minas Gerais tenta achar o motorista do caminhão bitrem envolvido no acidente para executar uma ordem de prisão contra o foragido que, de acordo com as suspeitas da Polícia, fugiu com a carreta para o Espírito Santo. A identidade dele não foi revelada, apesar de confirmarem a informação de que ele teve o direito de dirigir suspenso em 2022, após ser parado no município capixaba de Mantena.

Para o advogado especialista em direito de trânsito Clezer Costa, uma fiscalização mais incisiva sobre motoristas remunerados pode reduzir o número de acidentes. "São motoristas profissionais que têm a obrigação de zelar por um trânsito seguro. Cabe aos órgãos de trânsito uma maior fiscalização com esse tipo de profissional, pois, acidentes envolvendo essa categoria tem a tendência de serem acidentes muito mais graves", avalia.

Na avaliação do advogado Marcelo Araújo, especialista em direito de trânsito, há três fatores de risco que tornam a probabilidade de acidentes maior: humano, veículo e via. "Os fatores de risco, somados, podem levar a uma fatalidade. Se você tem um condutor mal preparado e que ingeriu substância psicoativa, que altera o comportamento, se você tem um veículo mal conservado com fatores de segurança, pneus, freios, etc., direção comprometida, e você tem uma via ruim, o sinistro ou acidente é praticamente inevitável", explica.

 


Raphael Pati
postado em 23/12/2024 05:45
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