Autor do livro Estórias de expatriando, o escritor Renato Gerundio de Azevedo colocou no papel suas memórias e seus aprendizados no processo demorar e trabalhar em outro país. A trajetória dele no Banco do Brasil, que começou como office boy até chegar a diretor-geral de operações em mais de 20 anos na instituição, inspira brasileiros que sonham com a vida no exterior. Renato foi o convidado da edição 164 do PodCast do Correio e falou sobre o lançamento da obra, experiências profissionais e mudanças na carreira.
Como foi o início da sua trajetória profissional?
Um dia meu pai chegou e falou: “Renato, você quer trabalhar no Banco do Brasil?”. Eu, com 14 anos, não sabia nem o que era Banco do Brasil, só sabia o que era futebol, skate, bola. Ele falou que eu trabalharia de 14h a 18he não ia prejudicar a escola. Então, eu aceitei e fui lá fazer um exame no Edifício Morro Vermelho. Fui aprovado. Na época, era o Máscara Negra, aquele prédio do Banco do Brasil emblemático no Setor Bancário Sul, em Brasília, onde comecei como office boy na contadoria-geral. Basicamente, era atender telefone, comprar lanche, tirar cópia, essas coisas. Eu fui crescendo no trabalho e houve uma seleção interna para carreira administrativa —que eu passei aos 17 anos.
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E a carreira internacional?
Me mandaram para um programa que precisava de gente nova e sem vícios e acabei sendo pioneiro do Proex, que sucedeu o Finex. Esse era o programa de financiamento das exportações. Nessa época, houve uma seleção grande e disputada para a área internacional, 28 mil candidatos e fizemos exames de estatística, comércio exterior, técnicas bancárias, português e outros. O banco treinou ao final 650 candidatos com uma pós-graduação em finanças por um ano e houve uma nova seleção para a área internacional e 24 destes passaram. Assim, me tornei estagiário de comércio exterior no Panamá, que era uma praça importante do BB.
E depois?
Eu fiz um treinamento na Universidade do Texas, depois na Bolsa de Valores de Chicago e fiquei três meses em uma dependência externa. Como fui bem sucedido, assumi em 2000 a diretoria adjunta do banco na Bolívia. Fiquei até 2006. Quando voltei para Brasília, trabalhei comum projeto, que é a parte mais difícil de finanças, na área de construção e planejamento de plataformas de petróleo. Me habilitei para assumir uma unidade em Dubai e fiquei lá três anos. Então, segui para Portugal para ser o diretor-geral do banco. Normalmente, a expatriação ocorria por cinco anos, naquela época acultura era ir uma vez, e duas era difícil, mas fui para a Bolívia, e fiquei até me aposentar.
Como foi trabalhar na Bolívia?
Primeiro, eu morei em La Paz, nos Andes, 3.600 metros de altura, ar rarefeito, não tem árvores nem inseto, nem oxigênio. Então, eu tive muita dificuldade física em me adaptar. A minha esposa corria e foi mais fácil, mas os nossos filhos, sempre que a gente voltava um deles ia para o hospital. Então, o ambiente climático da cidade é bastante hostil.
Como era o povo boliviano em comparação com o brasileiro?
Com relação ao povo, eu amo o boliviano e cada vez que ando lá, amo cada vez mais. A experiência foi boa, mas vivi coisas surreais. A Bolívia é um país com um passado muito turbulento e quando estive lá houve uma guerra entre o exército e a polícia por 15 dias. O mercado estava fechado, os clientes não tinham dinheiro. A gente precisava dar dinheiro porque nem os caixas eletrônicos funcionavam.