EDUCAÇÃO PARENTAL

Passageira estava certa em caso sobre troca de assentos em avião? Entenda

Anac tem regras para troca de assentos de passageiros com menos de 16 anos, mas que podem não se aplicar ao caso que viralizou nas redes sociais

Neuropedagoga explica que viralização desse tipo de situação reforça uma ideia distorcida sobre crianças -  (crédito: Reprodução Instagram )
Neuropedagoga explica que viralização desse tipo de situação reforça uma ideia distorcida sobre crianças - (crédito: Reprodução Instagram )

Na última quarta-feira (4/12), durante uma viagem de avião, Jeniffer Castro foi abordada por uma pessoa que a pediu para trocar de lugar com uma criança. O momento foi gravado e publicado nas redes sociais, onde ganhou a atenção dos internautas.

Nas imagens, Jeniffer se recusa a trocar de assento e a passageira aponta "falta de empatia" por parte da jovem. “Não quer trocar de lugar porque não quer. Até perguntei se ela tem alguma síndrome, alguma coisa, porque se a pessoa tem algum problema, uma deficiência, a gente entende”, disse a mulher durante a gravação.

De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o passageiro menor de 16 anos, que estiver viajando acompanhado, deve ser posto em um assento ao lado de, pelo menos, um adulto vinculado à reserva. Mesmo aqueles que não contrataram o serviço de marcação antecipada de assentos, devem ter a garantia de que viajarão ao lado de um responsável.

Ainda que as passagens tenham sido compradas separadamente, tendo números de reserva diferentes, a companhia aérea deve garantir que os dois viajem lado a lado. Nesses casos, é importante que a empresa seja contatada para que seja informada sobre a situação.

No entanto, a regra não torna Jeniffer errada, já que a criança ficaria ao lado de um adulto responsável de qualquer modo. 

Sobre troca de assentos, a Anac informa que "deve ser feita apenas em casos específicos que envolvam as saídas de emergência ou questões de segurança operacional".

A mãe fez a melhor escolha?

Em entrevista ao Correio, a neuropedagoga e educadora parental Maya Eigenmann — autora dos livros Pais feridos, filhos sobreviventes: e como quebrar este ciclo, Por que não posso ser criança? e do best-seller A raiva não educa. A calma educa — falou sobre o caso e analisou a situação

Maya explica que o acolhimento seria a melhor escolha para a mãe - e os adultos em geral - lidarem com a insatisfação da criança. Em termos práticos, seria lidar com o sentimentos do menor. "Filho, eu sei que você queria muito sentar ao lado da janela, mas a gente não vai poder sentar ali", Maya exemplifica. Segundo a profissional, é importante que o responsável entenda que é normal uma criança chorar quando ela fica frustrada e que, nessas ocasiões, um limite com respeito deve ser sustentado.

"Com a criança no colo, eu me sento no lugar onde devo me sentar e permito que ela chore. Quando uma criança tem essa segurança emocional, ela se desespera muito menos", afirma.

A neuropedagoga reforça que não há como tirar conclusões apenas de um vídeo, mas, ao supor que a criança não lide bem com limites, a questão seria mais complicada, sendo uma situação onde teria de se ter o cuidado para que o menor supere essa frustração e adquira uma maior resiliência. 

Maya também explica que a viralização desse tipo de situação reforça uma ideia distorcida de que a criança que chora é uma criança 'malcriada', provocando uma depreciação. "Minha maior crítica a essa situação do avião é a forma como os adultos, na internet, ficam arrasando a criança. Eles veem uma criança chorando e começam a xingar e a menosprezar, dizendo que ela é uma 'birrenta' ou 'mal acostumada'."

"A gente esquece que é apenas um filhote que está frustrado com uma situação. E o que mais me dói é ver a forma como as crianças são demonizadas e menosprezadas, como os adultos usam o sofrimento das crianças como palco de entretenimento", conclui Maya Eigenmann.

*Estagiário sob a supervisão de Pedro Grigori

postado em 06/12/2024 18:11 / atualizado em 06/12/2024 20:22
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