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Tarcísio mantém Derrite na SSP-SP apesar da polícia violenta

Governador considera que secretário faz bom trabalho. Números mostram aumento da brutalidade das forças de segurança

Outorga da Medalha do Mérito Legislativo. Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira -  (crédito: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)
Outorga da Medalha do Mérito Legislativo. Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira - (crédito: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

O governador Tarcísio Gomes de Freitas deixou claro, ontem, que manterá Guilherme Derrite à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), apesar de terem sido divulgados pela imprensa dois flagrantes de violência policial. No primeiro, um PM arremessa um homem dento de um córrego de cima de uma ponte — os demais agentes que o acompanhavam, não fizeram qualquer esforço para impedi-lo. No segundo, um policial militar dá 11 tiros em um jovem que acabara de furtar de um mercado quatro pacotes de sabão.

Tarcísio foi questionado depois de participar da cerimônia na qual recebeu a Medalha de Mérito Legislativo na Câmara dos Deputados das mãos do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). "Não vou [demiti-lo]. Olhe os números, você vai ver que ele está fazendo um bom trabalho", disse, tentando se esquivar dos jornalistas.

A resposta foi seguida de um comentário sobre o homem arremessado de uma ponte por um PM — Tarcísio negou que o jovem atirado por cima da mureta teria morrido: "Ele está com ferimentos leves, [a PM] não matou. O que aconteceu foi muito ruim, nós vamos tomar providências. Então, cuidado com as afirmações", recomendou.

O governador não especificou a que números fazia referência ao defender a permanência de Derrite. Mas dados do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) mostram que as mortes causadas pelos policiais militares, em São Paulo, aumentaram 46% até 17 de novembro, se comparadas com o mesmo período do ano passado.

No total, entre janeiro e 17 de novembro, 673 pessoas foram mortas por policiais militares, enquanto o número foi de 460 nos 12 meses do ano anterior. Dos casos registrados este ano, 577 ocorreram em ações realizadas por policiais em serviço, enquanto 96 foram provocados por policiais que estavam de folga. A média atual de óbitos é de duas por dia.

As imagens do motociclista, identificado apenas como Marcelo, sendo jogado vieram à tona na terça-feira. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afastou 12 PMs, mais aquele que arremessou o jovem de um altura de 3 metros, em Cidade Ademar, Zona Sul da capital paulista.

Segundo o pai do jovem, Antonio Donizete do Amaral, o filho passa bem e não tinha antecedentes criminais. A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo pediu à Justiça Militar a prisão do soldado Luan Felipe Alves Pereira, apontado como o responsável por arremessar Marcelo da ponte.

Outro caso cujas imagens chamaram a atenção pela brutalidade foi o assassinato de Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, executado com 11 tiros pelo PM Vinicius de Lima Britto, no Jardim Prudência, na Zona Sul paulistana. O crime foi em 3 de novembro. O policial estava de folga. O jovem tinha tentado furtar quatro pacotes de sabão.

Pacheco: casos "repugnantes"

Quase ao mesmo tempo em que Tarcísio era homenageado na Câmara dos Deputados, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), divulgava nota na qual classificava como repugnante as cenas em que o motociclista Marcelo era jogado de cima de uma ponte por um policial militar, em São Paulo.

"O valor das polícias no Brasil, que é real e reconhecido pela sociedade, não está nos graves casos registrados recentemente pela imprensa, que são exceções absolutamente repugnantes. O respeito a todo cidadão é uma obrigação constitucional, que preserva a dignidade do ser humano, um dos principais fundamentos da República brasileira", frisou o presidente do Senado.

Mas não foi apenas Pacheco que criticou a atuação dos policiais em São Paulo. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns e a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) emitiram, ontem, notas de repúdio.

"Matar crianças, como o jovem Ryan, de apenas quatro anos de idade; matar a tiros um estudante de medicina de 23 anos, desarmado e indefeso; lançar um ser humano, sob custódia policial, de uma ponte; ou disparar 11 tiros, pelas costas, contra um desempregado desarmado, suspeito de furtar duas barras de sabão — não podem se tornar rotina de uma força policial honesta, decente e cumpridora de suas obrigações", afirmou a comissão, cobrando também a demissão imediata de Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado.

Cássio Thyone, integrante do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, observa que Tarcísio "está sinalizando a continuidade de uma política de enfrentamento, uma política que dá carta branca à polícia a agir da forma como age". (Colaborou Israel Medeiros)

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

 


postado em 05/12/2024 03:55
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