Cúpula do G20

No G20, Lula pede que os países antecipem metas do clima

Em discurso no encerramento do encontro de líderes, o presidente disse que "não há mais tempo a perder". Ao citar a COP-30, a se realizar no Brasil, em 2025, ele lamentou que o planeta está longe de atingir o acordo de Paris

Rio de Janeiro — A Cúpula do G20 sob presidência brasileira chegou ao fim nesta terça-feira (19), após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passar a liderança ao presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. No último dia do encontro, a atenção às mudanças climáticas e diminuição dos gases de efeito estufa foram destaque da terceira sessão de discussão dos países.

"Poucos de nós imaginavam que, três décadas depois, estaríamos vivendo o ano mais quente da história, com enchentes, incêndios, secas e furacões cada vez mais intensos e frequentes", disse o presidente, durante abertura da terceira sessão da Cúpula do G20, relembrando a conferência Rio-92, primeira conferência do Clima. O encontro, ocorrido também no Rio de Janeiro, foi essencial para estabelecer o conceito de desenvolvimento sustentável, incorporado na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Lula também lembrou do Acordo de Paris, que limita o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC, o que já está acontecendo neste ano. "O Acordo de Paris está chegando a Belém (na COP-30, em 2025) com 10 anos, e seus resultados ainda estão muito aquém do necessário. Não há mais tempo a perder. O G20 é responsável por 80% das emissões de gases do efeito estufa", ressaltou.

O Brasil sediará, no ano que vem, a COP-30, em Belém, no Pará, quando as metas climáticas voltarão a ser analisadas. O evento é o maior encontro para debater mudanças climáticas do mundo. Neste ano, a COP-29 está sendo realizada em Baku, no Azerbaijão, e os países precisam apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas, chamadas de "NDCs" — que são as metas nacionais atualizadas dentro do que foi pactuado no Acordo de Paris.

Na Declaração de Líderes do G20, consensuada na segunda-feira, o grupo prevê que os países limitem o aumento da temperatura média global "bem abaixo de 2ºC". Uma Força-Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima também foi anunciada para mitigar os efeitos do aquecimento global. As emissões de gases do efeito estufa entraram na declaração, que pede para que as emissões líquidas dos poluentes sejam zeradas até meados do século.

"Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais. Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa. É essencial que considerem adotar metas absolutas de redução de emissões", pediu ainda o presidente na Cúpula do G20.

Aliança Global

A presidência brasileira à frente do G20 encerrou com vitória, após o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A iniciativa internacional abrangerá a construção de políticas públicas nas áreas sociais em 82 países, com o auxílio de outros 66 organismos internacionais.

A iniciativa terá sede em todas regiões do mundo, uma delas será em Brasília, que representará a América do Sul. As outras devem funcionar em Roma, na Itália (Europa), Washington, nos Estados Unidos (América do Norte), Addis Ababa, na Etiópia (África) e Bangkok, na Tailândia (Ásia).

O comando da Aliança se dará pelo chamado "Conselho de Campeões", que é composto por países e organizações que foram fundadoras da ideia e representam a diversidade da aliança. O principal papel do grupo é motivar politicamente a participação das nações na iniciativa e angariar financiamento. Até o momento, são 18 membros, entre eles, o Brasil.

A equipe responsável pelo funcionamento da Aliança custará de US$ 2 a 3 milhões por ano e funcionará até 2030, quando a Agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) irá reavaliar as definições atuais dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), que tem como número 1 e 2 a erradicação da fome e da pobreza, respectivamente.

Presidência africana

No encerramento da Cúpula do G20, o Brasil passou o bastão à África do Sul, que estará na presidência do grupo pela primeira vez na história. Ele, então, destacou a cooperação histórica entre os países, com a presença do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.

"Esta não é uma transmissão de presidência comum, é a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África", destacou o presidente.

Lula também escolheu uma citação de Nelson Mandela para a ocasião — o ícone do combate ao racismo no mundo também foi presidente da África do Sul. "É fácil demolir e destruir; os heróis são aqueles que constroem", citou. "Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável", declarou o presidente.

A relação entre os países, durante essa edição do G20 foi de muito apoio. Ramaphosa apoiou as principais iniciativas brasileiras no grupo: a taxação dos super ricos, a reforma da governança global — com destaque para o Conselho de Segurança da ONU — e a adesão à Aliança Global contra a Fome.

O presidente da África do Sul também afirmou que deve dar continuidade ao G20 Social, iniciativa inédita de participação social prévia ao encontro de chefes de Estado. Lula se colocou à disposição para auxiliar na transferência de conhecimento de como foi organizada a estrutura no Brasil.

 

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