A expectativa de vida do brasileiro voltou aos patamares pré-pandemia de covid-19. Segundo dados da Tábua de Mortalidade 2023, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023 o país superou o patamar de antes da crise sanitária mundial e atingiu a marca histórica de para 76,4 anos no ano passado — superando 2019, quando o índice foi de 76,2.
O levantamento do IBGE apontou, também, que a expectativa de vida média dos homens é de 73,1 anos, um aumento de 12,4 meses em relação a 2022. Já as mulheres tiveram um aumento de 10,5 meses: média de 79,7 anos de vida. Nos últimos 84 anos, a expectativa de vida média do brasileiro aumentou em 68% — saiu dos 45,5 anos registrados em 1940 para os 76,4 anos de 2023.
Izabel Marri, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, explicou ao Correio que o aumento absoluto entre 2022 e 2023 é conjuntural. Ou seja: a expectativa de vida dois anos atrás estava abaixo do esperado num contexto sem pandemia, e a redução dos óbitos excedentes, causados pelo coronavírus entre os dois anos, "fez com que o ganho fosse também maior".
"A partir de 2023 e 2024, esperamos que haja um crescimento menor, mas constante, voltando à tendência esperada de ganhos na expectativa de vida ao nascer", explicou.
Ainda segundo Izabel, com exceção dos anos afetados pela pandemia, houve ganhos nas expectativas de vida médias em todas as faixas etárias. Ela afirmou não ser possível apontar um único fator como o responsável pelo aumento nos últimos anos. A pesquisadora observa que "o conjunto de melhorias nas condições de vida, no aumento da escolaridade, na renda e nas políticas de atendimento à saúde da população" são os maiores responsáveis por esse crescimento.
Mortalidade infantil
A Tábua de Mortalidade também mostrou que de 1940 até 2023, a Taxa de Mortalidade infantil (TMI) caiu 91,5%. Ao longo da II Guerra Mundial (1939-1945), a TMI brasileira por cada mil nascimentos era de 146,6. Em 2023, a taxa caiu para 12,5 óbitos, sendo 13,5 para crianças do sexo masculino e 11,4 para as do sexo feminino.
Ainda segundo o levantamento do IBGE, a taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos por cada mil nascimentos caiu de 76,7 (em 1940) para 2,2 (em 2023), uma redução de 97,1%. O índice, porém, ficou estável nos últimos dois anos da série — 2022 teve uma taxa de 2,3.
A pesquisa do IBGE trouxe, ainda, dados que mostram que homens de 20 a 24 anos têm 4,1 vezes mais chances de morrer do que as mulheres. "Um homem de 20 anos tem 4,1 vezes mais chance de não completar os 25 anos do que uma mulher do mesmo grupo de idade. Esse fenômeno pode ser explicado pela maior incidência dos óbitos por causas externas ou não naturais, que atingem com maior intensidade a população masculina", salienta o levantamento.
As informações sobre a expectativa de vida do brasileiro são usadas como um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário, no cálculo das aposentadorias do Regime Geral de Previdência Social.
Idade não é barreira
A retomada do aumento da longevidade do brasileiro coincide com o fato de que o país, atualmente, tem o homem mais velho do mundo. Trata-se do cearense João Marinho Neto, de 112 anos, segundo o ranking do LongeviQuest. Alcançou o posto na segunda-feira, depois de ser reconhecido como o homem mais velho do Brasil e da América latina. Antes dele, o inglês John Tinniswood, de 111 anos e que morreu poucos meses após receber o título, era o home mais idoso do planeta.
Marinho teve quatro filhos e perdeu a mulher em 1994, com 74 anos. Mas a vida não parou. Pouco tempo depois, casou-se novamente com Antonia Rodrigues Moura e teve mais três filhos. Atualmente, tem seis filhos vivos, 22 netos, 15 bisnetos e três tataranetos.
Uma vida longa como a de Epifânia Maria de Jesus, de 107 anos. Ela nasceu em 1917 e mudou-se para Brasília em 1958, onde viu a capital sair da poeira e ser erguida no Cerrado. Para ela, a maior lição que a vida deu é que "a esperança não morre". "A gente sempre tem esperança de que amanhã será outro dia, não é? Amanhã é outro dia", comentou.
Para Epifânia, o mais importante para se ter uma vida longeva é ser honesto e saber viver. Ela define "saber viver" como uma arte e diz que Deus deu a ela esse dom. "Sou uma felizarda, cheia de amigos e amigas. Estou de bem com a vida. Não gosto de brigas, gosto da paz de Deus e, com ela, eu vivo", ensina.
Assim como Epifânia, Rosa Bernhoeft, de 84 anos, mostra que a vida continua independentemente do tempo que se vive nesta terra. Diretora-executiva da Alba Consultoria, diz que uma vida longa e feliz é construída diariamente.
"Na hora em que agradeço meu corpo, na hora em que agradeço pela próxima hora a ser vivida, quando comprometo meu futuro e digo que não posso desaparecer sem cumprir o contrato. Isso me dá norte", frisa.
Bartholomeu Ferreira, de 78 anos, também se recusa a parar para não dar vez à "ferrugem" da idade. Estudante de odontologia na Universidade Católica de Brasília, para ele a receita de uma vida feliz e longeva se dá pelo cultivo da simplicidade, do equilíbrio, da gratidão e de manter relacionamentos saudáveis.
Bartholomeu ressalta que família e amigos são o alicerce da vida. "Eles dão sentido a tudo. Ao longo dos anos, aprendi que os laços familiares e as amizades verdadeiras são fontes de amor, de apoio e de inspiração, especialmente nos momentos mais difíceis", salienta.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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