Morto durante abordagem policial em um hotel em Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, Marco Aurélio Cardenas Acosta tinha 22 anos. Ele cursava medicina na Universidade Anhembi Morumbi, também na capital paulista. O jovem foi baleado por um policial militar na altura do peito e morreu na última quarta-feira (20/11). Ele deixou composto e gravado um trecho uma música sobre um amigo que também teria sido morto devido à violência policial.
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Filho de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros, Marco Aurélio estava no quinto ano de medicina. A mãe, Silvia Monica, informou que concluiu o ensino médio com 15.
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Além da carreira de médico, a qual além dos pais os dois irmãos também seguem, Marco era MC. Sob o nome artístico MC Boy da VM, ele canta em canção publicada no YouTube em 2021: “Inevitavelmente, o que aconteceu: tremenda injustiça com um amigo meu; morto a tiros pela polícia na porta de casa, ele era trabalhador e nem mexia em fita errada”.
“Eles (policiais) não quis (sic.) nem saber; (o amigo) virou estatística, enquanto na sua casa sofre toda a sua família, sentindo a falta de um parente, um ente querido; eu também sofro muito (de) saudades, meu amigo.”
Ao SBT, a mãe disse que “nada justifica” a violência policial: “Meu filho não está armado, meu filho está dando para ver que está até sem camiseta”. Ela ainda diz que, mesmo que se a pessoa abordada pelos policiais fosse um “ladrão”, o que não era o caso, “não era para a polícia atirar desse jeito”. Imigrante e funcionária do Estado, ela questiona: “O que tenho que fazer neste país para ganhar meus direitos”.
Em outro vídeo, de 2020, ele se apresenta. “Meu nome de nascimento é Marco Aurélio Cardenas Acosta”, diz. “Tenho origem peruana, então os dois sobrenomes são lá do Peru (...). Meu nome de MC é MC Boy da VM, Vila Mariana.”
Em publicação no Instagram, um dos irmãos de Marco Aurélio, Frank, agradeceu mensagens de conforto que a família está recebendo. “Tá muito difícil, a gente tá sofrendo muito, nossa alegria foi embora”, diz, em vídeo. “Meu melhor amigo foi embora (...). Eu nunca mais vou ver o meu irmão, com quem eu cresci junto, a gente brincava junto (...). Eu nunca vou ver ele se formar, nunca vou ver ele ser pai, nunca vou poder ir no casamento dele, ele não vai poder ir no meu.”
Segundo o irmão, ele era uma pessoa muito boa e gostava de cantar e de jogar bola. Era muito próximo aos pais e ligava todos os dias para a mãe. “Era um bom filho, era o mais carinhoso de nós três.”
No Instagram, a atlética do curso de medicina, do qual o estudante fazia parte do time de futsal, postou homenagem afirmando que o estudante será lembrado com amor e carinho. “Que você encontre a paz”, diz a publicação. “Lamentamos profundamente o seu falecimento.”
Entenda o crime
Câmeras de segurança de um hotel da Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, registraram o momento em que Marco Aurélio foi baleado pela Polícia Militar (PM), por volta das 2h50.
Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) divulgada na quarta-feira, o estudante teria golpeado uma viatura policial e tentado fugir. “Ao ser abordado, ele investiu contra os policiais, sendo ferido. O rapaz foi prontamente socorrido ao hospital Ipiranga, mas não resistiu ao ferimento. A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia.”
Segundo a versão, ele teria fugido para o interior do Hotel Flor da Vila Mariana, onde estava hospedado com uma mulher e onde recebeu um tiro na altura do peito. Em vídeo divulgado, é possível ver Marco Aurélio entrando no saguão do estabelecimento sem camisa, seguido por policiais, e sendo abordado.
Em nova nota, a SSP informou que “os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações”. Segundo a instituição, “toda a conduta dos agentes é investigada”, e “as imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)”.
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