Após cinco anos de esforço para reverter a queda da cobertura vacinal, o Brasil voltou a ser considerado livre do sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita. O reconhecimento veio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) nesta terça-feira (12/11), em anúncio feito pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante uma cerimônia em Brasília.
A trajetória para recuperar esse status de eliminação, perdido em 2019, envolveu uma mobilização para reerguer o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ampliar a cobertura vacinal, que havia caído drasticamente desde a pandemia. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cobertura da primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, caiu de 95%, em 2016, para apenas 74%, em 2021. Essa queda contribuiu para surtos de sarampo, especialmente entre 2018 e 2019, que atingiram Amazonas, Roraima e São Paulo, totalizando 39.799 casos e 40 mortes.
Para conquistar novamente o certificado, o Brasil intensificou as campanhas de vacinação e buscou reverter o movimento antivacina que afetou parte da população. Em 2024, a cobertura vacinal voltou a crescer, alcançando 91% na primeira dose e mais de 80% na segunda. “Os últimos anos marcaram a reconstrução do PNI, permitindo ao Brasil reverter a queda na vacinação e sair da lista de 20 países com mais crianças não vacinadas”, afirmou Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A recuperação da confiança nas vacinas e a atuação conjunta de instituições científicas e sociedade civil fizeram parte desse progresso. A presidente da SBIm, Mônica Levi, destacou que, apesar da vitória, a mobilização precisa ser constante. “O sarampo continua circulando em outras partes do mundo. Perder o certificado novamente seria um retrocesso enorme. Precisamos manter e expandir nossos esforços para garantir que o Brasil se mantenha livre da doença e com boa cobertura vacinal para outras doenças, como a pólio.”
No passado, o sarampo foi uma das principais causas de mortalidade infantil no país. Desde a implementação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, em 1992, o Brasil passou a ver um controle gradual da doença, sendo reconhecido pela primeira vez pela Opas como livre do sarampo em 2016.
A nova certificação significa que o Brasil demonstrou estar sem transmissão do vírus por mais de um ano. O sarampo é altamente contagioso, e uma pessoa infectada pode contaminar de 12 a 18 outras pessoas. A transmissão ocorre pelas gotículas respiratórias ao tossir, espirrar ou falar. Seus sintomas incluem febre alta, manchas vermelhas pelo corpo e, em alguns casos, complicações graves, como pneumonia, infecções de ouvido e encefalite, que podem levar à morte.
Para garantir que o país permaneça livre da doença, a vacina tríplice viral — que protege contra sarampo, rubéola e caxumba — é oferecida gratuitamente para pessoas de 12 meses a 59 anos no Sistema Único de Saúde (SUS). As crianças recebem uma dose aos 12 meses e outra, aos 15 meses, e quem não completou o esquema vacinal deve buscar regularizar a imunização na fase adulta.
Em nível global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o aumento dos casos de sarampo, que, em 2023, ultrapassaram os 320 mil. “Precisamos manter o foco. Se uma pessoa infectada de outro país vier para o Brasil e encontrar alguém que não está imunizado, há o risco de novos surtos”, ressaltou o vice-presidente da SBIm.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro