O secretário da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, Guilherme Derrite, criou, nesta segunda-feira (11), uma força-tarefa para investigar o assassinato de Vinicius Gritzbach, delator do PCC, no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira.
Derrite afirmou, em coletiva de imprensa, que, apesar dos assassinos utilizarem máscaras e luvas, após o crime, foi possível periciar o carro que eles utilizavam, encontrado no dia seguinte.
"Quando os criminosos estavam neste veículo, já não dispunham mais, segundo informações, de balaclava, de luva, ou seja, com os devidos cuidados que estavam quando cometeram o crime", comentou o secretário. No dia seguinte ao crime, o carro dos criminosos juntamente com uma mochila foram encontrados a sete quilômetros do aeroporto. Derrite afirmou que, quando os agentes chegaram ao local, encontraram armas e materiais utilizados pelos atiradores. Além destes, foram encontrados, segundo o chefe da pasta, materiais combustíveis, que indicavam que os criminosos tinham a intenção de queimar as evidências. "Por que isso acaba sendo positivo para a investigação? Porque foi feita uma perícia longa e exaustiva, e material genético foi colhido nesse veículo. O armamento vai passar por peritos também", afirmou Derrite.
Há, porém, indícios de ligação entre a polícia e o crime organizado, citados por Vinicius oito dias antes de seu assassinato, em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil. Quando foi preso pela primeira vez, suspeito de encomendar a morte de um ex-chefe do PCC, Anselmo Bechele Santa Fausta — o "Cara Preta" — e seu motorista, o empresário acusou agentes da Polícia Civil, que revistaram sua casa de roubarem R$ 20 mil e uma caixa com cinco relógios de luxo. Após a denúncia, apenas o dinheiro foi devolvido.
Enquanto Gritzbach estava preso, em março deste ano, fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) para expor os crimes da facção e de policiais envolvidos. Vinicius acusou, também, um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de sugerir um suborno para amenizar a sua participação na morte de Cara Preta.
Em sua delação, Gritzbach entregou, ainda, um áudio de 4 minutos e 59 segundos aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo. Na gravação, um investigador do Denarc e o advogado Ahmed Hassan, acusado de fazer parte da cúpula do PCC e lavar dinheiro para a facção, discutiam aumentar o prêmio pela "cabeça" de Gritzbach de R$ 300 mil para R$ 3 milhões.
De acordo com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do MPSP, Gritzbach recusou ingressar no programa de proteção de réu colaborador, por não abrir mão do seu estilo de vida e, apesar de ter consciência do risco que corria, iria arcar sozinho com segurança particular. Conforme o Correio apurou, os policiais militares Adolfo Oliveira Chagas, Leandro Ortiz, Romarks César Ferreira de Lima e Jefferson Silva Marques de Sousa foram os contratados para realizar a escolta de Vinicius.
A falha na escolta foi o que levantou as maiores dúvidas em relação ao assassinato de Gritzbach. No dia do ocorrido, os quatro policiais deveriam ter ido buscar o delator no Terminal 2 do aeroporto de Guarulhos, mas somente um apareceu. Em depoimento ao DHPP e à Corregedoria da PM, eles afirmaram que um dos dois carros que utilizariam no comboio apresentou problemas mecânicos.
Participam da força-tarefa o secretário-executivo da Segurança Pública, dois delegados da Polícia Civil, dois coronéis da Polícia Militar, uma perita Classe Especial e um representante do Ministério Público.