Saúde pública

Outubro Rosa: autoexame não pode substituir mamografia

Especialistas alertam que exame de imagem possibilita diagnóstico precoce e aumenta a chance de cura em cerca de 95%. Correio realizará segunda edição do CB Debate Câncer de mama: uma rede de cuidados

Popular nas campanhas do Outubro Rosa nas décadas de 1990 e 2000, o autoexame não é mais recomendado como método principal de rastreamento do câncer de mama. Embora o autoexame ajude as mulheres a conhecerem melhor o próprio corpo e identificarem alterações, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) alerta que o método não substitui exames clínicos ou de imagem, como a mamografia, que é recomendada anualmente a partir dos 40 anos.

A médica mastologista Lakymê Mangueira, pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), esclarece que o autoexame é limitado para identificar apenas nódulos maiores, geralmente em estágios mais avançados. Por sua vez, a mamografia consegue identificar lesões pequenas e pré-malignas, que são tratáveis com mais eficácia se detectadas produzirem precocemente.

A médica ressalta que muitas mulheres que realizam apenas o autoexame podem deixar de buscar exames clínicos regulares, o que pode atrasar o diagnóstico e comprometer as chances de cura. "Esse autoexame, hoje, não é tão estimulado para evitar que as pacientes achem que ele é suficiente e que vai substituir a mamografia", afirma.

"Antigamente ele era estimulado como uma arma para o diagnóstico precoce do câncer de mama, mas quando você faz detecção de lesão já no exame a lesão já é mais avançada. É importante lembrar que o autoexame não substitui a mamografia e que você não tem que esperar encontrar algo no autoexame para fazer a mamografia" , explica Lakymê.

Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que a mamografia pode reduzir a mortalidade por câncer de mama em até 20%, sendo recomendada para mulheres de 50 a 69 anos a cada dois anos, conforme a política de rastreamento do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a SBM sugere que mulheres a partir dos 40 anos também realizem o exame anualmente, principalmente se houver histórico.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres no Brasil. A estimativa da pasta é de que sejam registrados 73.610 novos casos em 2024.

A empresária Clarice Videl recebeu o diagnóstico de câncer de mama de maneira precoce aos 46 anos graças a uma mamografia de rotina. "Se não fosse o exame, eu jamais teria descoberto, porque o nódulo era minúsculo, menor que 1 cm, impossível de notar pelo toque ou pelo espelho", conta.

Ela relembra que na época não havia qualquer sintoma ou sinal óbvio, o que tornou a notícia ainda mais impactante. "Foi muito ruim, porque eu nem imaginava. Era como se ele estivesse ali escondido, vivendo em mim sem eu perceber", diz.

Clarice destaca que o diagnóstico precoce foi essencial para o sucesso do tratamento e da cura. "Saber que estava no início me deu uma certa tranquilidade, me agarrava nisso e pensava: ainda tenho chance. Eu me apoiei na fé em Deus e na confiança nos meus médicos. Tenho certeza de que essa combinação, junto com a descoberta dele enquanto estava no início, salvou minha vida", comemora.

CB Debate

A incidência de câncer de mama no Distrito Federal, em 2023, foi de 49,8 casos por 100 mil mulheres, taxa que é 18,8% superior à média nacional (41,9 casos). Os dados do Inca representam uma estimativa correspondente ao triênio 2023-2025. Ainda de acordo com o instituto, esse tipo é o mais incidente entre as mulheres no Brasil, além de ser uma das principais causas de morte.

O diagnóstico precoce da doença aumenta a chance de cura em cerca de 95%. É pensando nisso que o Correio Braziliense realiza, na próxima quinta-feira, a partir das 14h30, a segunda edição do evento CB Debate Câncer de Mama: uma rede de cuidados, que ocorre no mês destinado a chamar a atenção para a prevenção contra o mal que assola as mulheres.

O debate ocorrerá no auditório do jornal e terá transmissão ao vivo pelas redes sociais oficiais do Correio, no YouTube e no Facebook. Serão dois painéis, cada um com a participação de três especialistas: o primeiro abordará o "Diagnóstico e fatores de risco" e o último discutirá o "Tratamento e pós-câncer", todos com a mediação das jornalistas Carmem Souza e Sibele Negromonte. Além disso, será aberto ao público, por meio de inscrição prévia no site do evento.

Informação acessível

Uma das especialistas com presença confirmada é a nutricionista especialista em oncologia Gianna Rosa. A painelista reforça que eventos como o que será promovido pelo Correio têm um papel essencial na conscientização. "Os debates levam a informação de maneira prática e acessível, incentivando conversas sobre prevenção e diagnóstico", avalia.

"É importante lembrar que o câncer de mama também pode acontecer em homens, embora seja raro, por isso, falar sobre o tema aumenta o alcance das campanhas e garante que todos estejam atentos aos sinais da doença", ressalta a nutricionista.

Segundo ela, a nutrição é uma aliada importante na prevenção e no tratamento do câncer de mama. "Manter uma boa composição corporal, com uma alimentação balanceada que inclui frutas, vegetais e gorduras saudáveis, é fundamental para reduzir os fatores de risco", destaca. "Não é só o peso que conta, mas como o corpo está equilibrado, pois isso ajuda a controlar a inflamação e a obesidade, que estão associadas a um risco maior de câncer de mama", completa a especialista.

De acordo com a nutricionista, campanhas como a do Outubro Rosa são essenciais para conscientizar sobre a prevenção da doença. "Além de falar sobre o diagnóstico precoce, ela reforça a importância de hábitos como alimentação saudável, exercício físico, boa hidratação e sono adequado, que são cruciais para prevenir várias doenças, incluindo o câncer", descreve. "Essas campanhas ajudam a lembrar que saúde é um conjunto de fatores que precisam de atenção no dia a dia", acrescenta Gianna.

*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 

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