Rogério Andrade, apontado como o maior bicheiro do Rio de Janeiro, foi preso ontem com mais cinco pessoas, sob a acusação de ordenar a morte do contraventor rival Fernando Miranda Iggnácio, em 2020. A prisão ocorreu no condomínio de luxo onde ele reside, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, após uma denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Andrade controla bancas de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis pela cidade. De acordo com o Gaeco, o contraventor mandou matar o bicheiro rival Fernando Iggnácio em uma emboscada no Recreio dos Bandeirantes há quatro anos atrás. Segundo as investigações, eles disputavam há mais de 10 anos o controle da região. Iggnácio foi executado a tiros de fuzil em um heliponto.
Gilmar Enéas Lisboa, acusado de monitorar Fernando Iggnácio até o momento da execução, também tem mandado de prisão expedido e deve se entregar na Cidade da Polícia nas próximas horas.
O Ministério Público fluminense já havia denunciado Andrade em março de 2021 pelo mesmo crime. Mas a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou o processo em fevereiro de 2022 por falta de provas conclusivas do envolvimento de Andrade como mandante. Agora, o Gaeco afirma ter obtido indícios mais robustos, incluindo a participação de Gilmar Enéas Lisboa.
Segundo informações do Ministério Público divulgadas na tarde de ontem, Rogério de Andrade será transferido para presídio federal. Ele ficará no presídio de segurança máxima Bangu 1 até a transferência ocorrer.
Briga familiar
Rogério Andrade, de 61 anos, é sobrinho de Castor de Andrade, um dos maiores nomes do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Castor morreu em 1997. A continuidade dos negócios ilícitos ficou com o filho, Paulo Roberto de Andrade (Paulinho), e com Fernando Iggnácio, genro e braço direito de Castor.
Iggnácio assumiu o controle das máquinas caça-níqueis, enquanto Paulinho ficou responsável pelas bancas do jogo do bicho. Em 1998, um ano após a morte do pai, Paulinho foi assassinado. O crime foi atribuído a Rogério Andrade, que havia sido excluído da herança de Castor de Andrade. Após a morte do primo, Rogério tomou os negócios que pertenciam a Paulinho e iniciou uma disputa pelo controle das operações de Iggnácio.
Rogério esteve envolvido em lavagem de dinheiro, suborno de policiais, corrupção ativa e assassinatos para manter e expandir seus negócios. Entre 1999 e 2007, a rivalidade com Fernando Iggnácio deixou um saldo de 50 mortes, segundo a Polícia Federal.
Em 10 de novembro de 2020, Fernando Iggnácio foi morto no estacionamento de um heliponto no Recreio dos Bandeirantes, após retornar de uma viagem a Angra dos Reis. Ele foi atingido por vários tiros de fuzil na cabeça. A investigação concluiu que Rogério Andrade encomendou o assassinato. Em março de 2021, ele foi denunciado pelo crime, mas, em fevereiro de 2022, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) trancou a ação penal por falta de provas.
Rogério Andrade é patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e marido de Fabíola Andrade, rainha de bateria da agremiação. Assim como Castor, o sobrinho é um dos patrocinadores da escola e presidente da honra da agremiação.
Rogério Andrade também já foi alvo de diversos atentados. Em 2010, seu filho Diogo, de 17 anos, morreu após uma bomba explodir em um carro na Avenida das Américas, uma das mais movimentadas da Barra da Tijuca.
Em 2017, criminosos chegaram a atirar contra Rogério e sua mulher, Fabíola Andrade, enquanto o casal chegava em casa. Fabíola levou um tiro no braço e precisou passar por cirurgia, mas o contraventor sofreu apenas ferimentos leves.
O Correio entrou em contato com a defesa de Rogério Andrade, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para eventual manifestação.
* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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