O barulho de bombas, mísseis e drones passaram a ser rotina para Sara Ali Melhem, desde a última semana. Filha de libaneses, a brasileira — que estava no sul do país e, agora, se encontra perto da capital, Beirute —, cuida de sua filha de três anos enquanto busca abrigo.
“Ontem à noite, depois que terminou esse ataque do Irã, acho que eles (os israelenses) ficaram com raiva e vieram para cá. Descontaram aqui, porque Beirute não parou um minuto (de ser bombardeada). Era toda hora, em todo lugar”, relatou ao Correio.
Sara não está na lista de 220 brasileiros que serão resgatados pela Operação Raízes do Cedro, organizada pelo governo federal. “Ninguém falou nada comigo, mas vi notícias de que eles (os representantes diplomáticos brasileiros) começaram a falar com as famílias, que estão chamando para o voo de agora. Então, provavelmente, fiquei de fora — não sei”, lamenta. O voo rumo ao Líbano partiu na madrugada de ontem, por volta de 1h, da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. Primeiramente, o KC-30 destacado para o resgate dos brasileiros faz uma escala em Lisboa, onde pousou às 10h10 (horário de Brasília). A Força Aérea Brasileira (FAB) aguarda a autorização para iniciar a viagem rumo a Beirute.
Acompanhamento
O ministro da Defesa, José Múcio, interrompeu as férias para acompanhar a operação de repatriação de brasileiros no Líbano. Por enquanto, o governo federal mantém a orientação de que os brasileiros deixem o país árabe por conta própria e que evitem o sul libanês, onde tem se concentrado os ataques israelenses.
O governo do oriente médio anunciou que a repatriação seguirá uma ordem de prioridade — mulheres, crianças e idosos estão no topo da lista. Dos 21 mil brasileiros que vivem no Líbano, mais de 3 mil pediram repatriação.
A princípio, não está programado um novo voo para efetuar o resgate. Essa possibilidade, porém, não está afastada e a tendência é que se faça como no ano passado, quando eclodiu a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas — seis voos foram realizados para trazer 1.135 brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) trabalha com a possibilidade de resgatar até 5 mil pessoas.
“Em um primeiro momento, deverão ser priorizados os residentes no Brasil, sem passagem aérea, tendo em vista a situação precária em que se encontram, sem redes de apoio no país”, diz comunicado da Embaixada em Beirute, enviado aos brasileiros.
Na semana passada, a representação diplomática solicitou aos brasileiros que quisessem deixar o Líbano o preenchimento de um formulário. Mas desde então não houve mais contatos com diversos brasileiros — como Sara — que aguardam a realização de mais um voo para deixar o Líbano.
Não há previsão de quando a aeronave da FAB deixará Lisboa rumo a Beirute, mas a expectativa é de que o voo aconteça até o fim desta semana. O KC-30 deverá entrar no espaço aéreo libanês pelo norte, longe da zona de guerra entre o Hezbollah e Israel. A fronteira sul do país árabe está fechada desde segunda-feira. A rota de repatriação, porém, pode ser alterada (ou mesmo temporariamente suspensa) por questões de segurança.
O governo da Colômbia, por exemplo, enviou um avião para repatriar 144 colombianos no Líbano. O Canadá ajudou a reservar passagens nos voos comerciais que estão deixando o aeroporto de Beirute. A França anunciou que enviou um navio militar à costa do país por “precaução”, caso haja a necessidade de evacuação de seus nacionais. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de um milhão de pessoas foram deslocadas desde que as hostilidades se intensificaram, em 23 de outubro.
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