EDUCAÇÃO

Educadores de Mato Grosso relatam dificuldades em meio à onda de queimadas

Com mais de 590 focos de incêndio registrados em 48 horas, segundo dados do Inpe, as escolas do interior do estado batalham para contornar as consequências da poluição e do fogo

Mato Grosso é o estado que mais tem sofrido com os incêndios em 2024. Segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado lidera o ranking anual com 40.966 focos de fogo, correspondendo a 21,9% de todo o país.

O estado também está na área de alerta vermelho (não saudável) do índice de qualidade do ar da organização suíça IQAir. Nesta terça-feira (17/9), o governo federal informou que o Ministério da Educação (MEC) está orientando as escolas sobre como lidar com a poluição do ar e os incêndios, para garantia da segurança dos alunos e docentes.

Professor da rede pública em Guarantã do Norte (MT), Joares Ribeiro conta como a fumaça e a névoa seca impactam as instituições onde ele ensina. “A quantidade de fumaça é enorme, você tem dificuldade de enxergar mais de 100 metros à frente. Aí, durante a noite, dá impressão de que ela desce e fica mais difícil que durante o dia. Por conta da colonização e da relação do homem com o meio ambiente, aqui as fumaças não são um elemento totalmente estranho. O fato é que esse ano extrapolou.”

“Eu também trabalho no período noturno e à noite você dura dentro da sala de aula. Você até consegue respirar melhor, por conta do ar condicionado e as portas e vidro fechado, mas do lado de fora a quantidade de fumaça é enorme, gerando tosse, irritação no olho, né?”, completa Joares.

Ana Cristina Freires, coordenadora de uma escola estadual em Vila Bela da Santíssima Trindade, na fronteira com a Bolívia, e presidente da subsede local do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep), relata o mesmo problema que Joares. Na região, ela afirma que há alguns dias a fumaça ainda estava “insuportável”, especialmente no período da noite.

Para tentar contornar a situação, Ana contou que a escola dela tomou medidas, como evitar as aulas práticas de educação física, orientou as crianças e adolescentes a beberem bastante água e criou intervalos menores para evitar que as crianças passassem mal. "O aumento das doenças respiratórias e os perigos da fumaça nos atingiram em cheio. Na escola isso altera as condições de trabalho dos educadores e compromete a aprendizagem, uma vez que ocorrem constantes faltas e saídas no meio das aulas", explica.

Uma das orientações do MEC foi o incentivo ao uso de máscaras de proteção, como as utilizadas durante a pandemia de covid-19. Ana Cristina e Joares relatam que, apesar de repassar a orientação aos pais, poucos alunos aderiram à sugestão. No entanto, Joares afirma que, na escola onde leciona, ainda há um estoque de máscaras adquiridas durante a pandemia, que podem ser usadas agora.

Em consenso, ambos os educadores também afirmam ter notado uma queda no rendimento dos alunos e uma alta no número de faltas e saídas mais cedo das escolas, com queixas de estarem passando mal. “A escola faz o que pode. Entramos em contato com os pais imediatamente. Somos professores, nem sempre estamos preparados para atender a contento quando o assunto é saúde pública”, afirmou a coordenadora.

Ana ainda relata dificuldade em planejar ações que ajudem os alunos de baixa renda. “Os meninos e meninas de baixa renda de nosso município contam com a sorte. Infelizmente, não nos preparamos para o aumento intenso das queimadas”, lamentou.

A Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso (Seduc-MT) foi procurada para comentar sobre a situação das escolas em meio à crise climática e não deu retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

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