INDÍGENAS

Após assassinato de Neri, mais um Guarani Kaiowá é encontrado morto em MS

O jovem Fred Souza Garcete, de 15 anos, foi encontrado morto na segunda-feira (23/9) na rodovia MS-384. Comunidade Guarani Kaiowá e organizações dos direitos indígenas cobram investigação sobre o caso

Indígenas desconfiam que morte de jovem não tenha sido um acidente -  (crédito: Povo Guarani Kaiowá)
Indígenas desconfiam que morte de jovem não tenha sido um acidente - (crédito: Povo Guarani Kaiowá)

Um jovem Guarani Kaiowá de 15 anos foi encontrado morto na rodovia MS-384 na segunda-feira (23/9), entre a aldeia Campestre e o município de Antônio João, no Mato Grosso do Sul. O corpo de Fred Souza Garcete, que residia na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, apresentava ferimentos graves na cabeça e uma perfuração abaixo do ouvido, levantando suspeitas de que o ocorrido não tenha sido um acidente de trânsito, conforme a versão preliminar da Polícia Civil.

De acordo com relatos de membros da comunidade indígena, divulgados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Fred estava na aldeia Bananal e, de madrugada, retornaria de moto para sua casa, localizada na aldeia Campestre, dentro da mesma TI. Testemunhas afirmaram ter visto uma caminhonete Hilux branca parada no local onde o corpo foi encontrado, um indício que reforça as desconfianças da comunidade de que o caso envolve violência.

A Polícia Civil, que foi chamada ao local, realizou a perícia ainda ontem e declarou que a causa da morte teria sido um traumatismo craniano, aparentemente resultado de um acidente de trânsito. No entanto, a comunidade Guarani Kaiowá e organizações dos direitos indígenas contestam essa versão. O principal ponto de questionamento é a ausência da moto de Fred no local e a falta de sinais claros de uma colisão entre veículos, fatores que colocam em dúvida a hipótese de acidente.

Para os indígenas, a explicação apresentada pelas autoridades não condiz com as evidências, e eles exigem que a Polícia Federal assuma a condução das investigações, para garantir que o caso seja apurado. A comunidade teme que o crime seja tratado com negligência, dado o histórico de violência e conflitos envolvendo os povos indígenas na região.

A perícia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) não foi conclusiva, conforme informado ao Correio. O local tem um contexto de muita violência, com novos ataques em outros lugares que os indígenas residem.

Há apenas dois dias, a comunidade indígena havia enterrado Neri Ramos da Silva, outro indígena Guarani Kaiowá, que foi assassinado durante uma operação da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS). A operação policial, que ocorreu na Terra Indígena Laranjeira Nhanderu, gerou protestos e denúncias por parte de organizações dos direitos humanos, que alegam o uso excessivo da força contra os indígenas.

Os conflitos na região estão relacionados à disputa por terras e ao não cumprimento de demarcações de áreas tradicionais indígenas, um problema que afeta os Guarani Kaiowá há décadas. A TI Nhanderu Marangatu, onde Fred vivia, já foi palco de muitos episódios de violência, ataques de fazendeiros e forças policiais, em um cenário marcado pela luta constante pela retomada de territórios ancestrais.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 24/09/2024 16:21 / atualizado em 25/09/2024 00:30
x