SAÚDE

Seis em cada 10 municípios enfrentam falta de vacinas, aponta CNM

"Pesquisa da Confederação Nacional de Municípios alerta que imunizantes estão em falta devido à distribuição insuficiente pelo Ministério da Saúde. Algumas cidades relatam ausência de vacinas por mais de 90 dias

Um dos casos mais graves é a falta da vacina infantil contra a covid-19, uma ausência que já persiste há cerca de 30 dias em parte das cidades pesquisadas -  (crédito: EBC)
Um dos casos mais graves é a falta da vacina infantil contra a covid-19, uma ausência que já persiste há cerca de 30 dias em parte das cidades pesquisadas - (crédito: EBC)

O Brasil enfrenta um cenário preocupante no que diz respeito à vacinação. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), 64,7% dos municípios brasileiros relatam falta de imunizantes, principalmente aqueles destinados às crianças, devido à distribuição insuficiente pelo Ministério da Saúde.

A pesquisa, realizada em 2.415 municípios entre os dias 2 e 11 de setembro de 2024, revela que algumas cidades enfrentam a ausência de determinadas vacinas há mais de 30 dias, enquanto outras relatam ausência de imunizantes por mais de 90 dias.

Um dos casos mais graves é a falta da vacina Varicela, utilizada para prevenir a catapora em crianças de quatro anos, com desabastecimento em 1.210 municípios. Além disso, 770 relatam a falta da vacina infantil contra a covid-19, uma ausência que já persiste há cerca de 30 dias.

O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, alerta para o perigo da situação. “É importante lembrar que a vacinação foi um dos eixos do desfile de 7 de Setembro deste ano. Apesar disso, o que verificamos, infelizmente, foi a falta de imunizantes essenciais há mais de 30 dias na maioria das cidades pesquisadas.”

Segundo ele, a situação não é apenas alarmante pelos números, mas também pelo risco de retorno de doenças que já haviam sido eliminadas no país, como o sarampo, e outras que correm o risco de reintrodução, como a paralisia infantil. A baixa cobertura vacinal, combinada com a distribuição irregular de doses, abre espaço para o ressurgimento dessas doenças, que podem causar complicações graves e até a morte. "Existe o risco de retorno de doenças graves, como a paralisia infantil”, enfatizou o especialista.

A lista de imunizantes em falta nos municípios inclui ainda a Tetraviral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola, ausente em 447 municípios; a vacina contra Hepatite A, em falta em 307 municípios; e a DTP, que combate difteria, tétano e coqueluche, com escassez em 288 municípios. 

Em nota, o Ministério da Saúde negou a falta de vacinas. "Não há falta generalizada de vacinas no Brasil, o levantamento da CNM traz questões pontuais para as quais o Ministério da Saúde adota estratégias para manter a vacinação em dia e a proteção da população", informou a pasta.

Mais afetados pelo desabastecimento

O levantamento da CNM revela que o estado de Santa Catarina é o mais afetado, com 83,7% dos municípios relatando falta de imunizantes. Pernambuco aparece em segundo lugar, com 80,6%, seguido pelo Paraná, com 78,7% dos municípios enfrentando desabastecimento. Regionalmente, o Sudeste concentra o maior número de cidades afetadas, com 68,5% relatando a falta de vacinas, seguido por Sul e Nordeste, ambos com 65,1%, e Centro-Oeste, com 63%.

No Norte, a situação é relativamente melhor, com 42,9% dos municípios apresentando falta de imunizantes, mas o problema permanece grave em nível nacional. Além de deixar crianças expostas a doenças que poderiam ser prevenidas, o desabastecimento afeta diretamente os índices de mortalidade infantil, que há décadas vinham sendo reduzidos graças a programas de vacinação.

O risco de doenças erradicadas voltarem a circular também é lembrado pelo infectologista Hemerson Luz. De acordo com ele, o desabastecimento representa um retrocesso histórico e um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS). “Felizmente, o Brasil saiu da lista dos países com mais crianças não vacinadas do mundo. Há dois anos, estávamos na 20ª posição”, disse.

“Outras vacinas que não apresentam bons índices são a contra a tuberculose e a contra a hepatite B, que têm apresentado uma baixa cobertura vacinal na última década”, emendou.

Na opinião do infectologista Dalcy Albuquerque Filho, a vacinação é mais do que uma proteção individual de doenças, é uma proteção coletiva. “Quando você imuniza uma criança, além de diminuir o risco de adoecimento dela e da sua faixa etária, garante o nível de imunidade da comunidade no futuro. Sempre que a cobertura vacinal diminui, aumenta a possibilidade de casos de doenças reduzidas ou eliminadas voltarem. A falta de imunizantes é sempre ruim, pois, além de diminuir o número de vacinas aplicadas, contribui para a baixa cobertura e frustra a população.”

Confira a íntegra da nota do Ministério da Saúde:

O Ministério da Saúde mantém envios regulares de vacinas aos estados, que são responsáveis por abastecer os municípios.

Não há falta generalizada de vacinas no Brasil, o levantamento da CNM traz questões pontuais para as quais o Ministério da Saúde adota estratégias para manter a vacinação em dia e a proteção da população. Essas ações são realizadas em diálogo constante com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Foram distribuídas 65,9 milhões de doses das dez principais vacinas citadas pelo levantamento, incluindo a de Covid-19, com 22,9 milhões de doses aplicadas até o momento.

Sobre a vacina contra Varicela, no final de 2023, foram compradas 2,7 milhões de doses via Fundo Rotatório da OPAS/OMS, com 150 mil previstas para serem entregues até setembro. A aquisição regular para 2024 está em andamento.

Para Covid-19, a entrega semanal segue a capacidade de armazenamento da rede de frio estadual, uma vez que essa vacina exige armazenamento em baixíssima temperatura. O Ministério da Saúde está finalizando pregão para a compra da vacina mais atualizada XBB.

Em relação à oferta da vacina contra Meningo C, nas regiões que registrarem falta, a orientação do Ministério da Saúde é para substituição pela Meningo ACWY, de mesma eficácia, mantendo a população protegida.

Abaixo a tabela com os quantitativos das dez vacinas mais citadas pelos municípios:

Doses distribuídas em 2024 | Doses registradas como aplicadas até 12/09/2024*

  • Febre Amarela | 13.241.290 | 5.051.329
  • Hepatite A (rotina pediátrica) | 2.284.350 | 1.572.790
  • Varicela | 1.512.554 | 1.479.293
  • Meningo ACWY | 5.014.324 | 3.645.704
  • Meningo C | 3.354.795 | 2.592.921
  • Tríplice Viral | 17.102.800 | 4.020.219
  • Raiva | 1.355.260 | 669.578
  • Covid-19 (Moderna XBB) | 7.646.135 | 2.820.002 (campanha) | 763.527 (rotina)
  • Tetraviral | 2.737.519 | 921.997
  • DTP | 3.554.180 | 3.007.591
  • BCG | 8.190.760 | 1.381.883
  • Total | 65.993.967 | 22.926.834

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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postado em 13/09/2024 18:15 / atualizado em 14/09/2024 16:01
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