Um baile funk clandestino realizado na Praça Dr. Celestino Marra, na esquina das avenidas Portugal e Guarapari, no Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, está tirando o sossego de moradores e comerciantes locais. A festa, que acontece ali às sextas, aos sábados e aos domingos, transformou a praça em palco de constantes conflitos, com barulho excessivo, consumo de drogas e insegurança.
Na tarde dessa quarta-feira (11/9), a reportagem do Estado de Minas esteve na praça e flagrou inúmeros pinos de cocaína descartados no chão, além de cacos de vidro de garrafas de bebida espalhados por todo o local. Moradores relataram que o som "insuportável" começa por volta das 23h e se estende até depois do amanhecer. Além disso, o tráfico de drogas na região gera medo entre os moradores, que pediram para não ser identificados. "Vou morrer um dia, mas não quero morrer assassinado", desabafou um deles, que afirmou já ter sido ameaçado.
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Imagens cedidas ao Estado de Minas mostram uma multidão de jovens ao redor da praça, carros equipados com potentes aparelhos de som e pessoas consumindo álcool e drogas livremente. Em uma cena captada na madrugada do último domingo (8/9), um circuito de segurança registrou a Polícia Militar de Minas Gerais (PM) dispersando o grupo com bombas de gás por volta das 2h40. "Eles pulam em cima dos carros de som até as 5h da manhã, especialmente de domingo para segunda, quando todo mundo precisa descansar para trabalhar", comenta outro morador.
O baile funk na praça teve início há cerca de três anos, e desde então os moradores notaram um aumento nos furtos e na insegurança na região. Eles temem que a situação piore ainda mais se nenhuma providência for tomada. Apesar de já terem procurado tanto a PM quanto a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), os moradores alegam que os órgãos ficam jogando a responsabilidade um para o outro. Enquanto isso, a rotina do bairro continua sendo prejudicada pelo som alto, motos acelerando na rua e a presença constante de indivíduos que, segundo denúncias, utilizam o local para consumo e tráfico de drogas.
Moradores ainda acusam o dono de um bar próximo à praça de ser o "patrocinador" do evento e denunciam a presença de menores de idade no baile. "Quando eu vim pra cá, há mais de 10 anos, achei que estava no paraíso. Era muito tranquilo. Mas agora, a baderna é constante", relata um dos moradores ouvidos pela reportagem. Ele, como outros, está cogitando vender sua casa, mas admite que, devido à situação atual, é difícil encontrar compradores interessados. "Algumas pessoas tentam vender o imóvel, mas não conseguem. Além de ter que baixar o preço, ninguém quer comprar por causa da insegurança e do barulho", lamenta.
Para muitos moradores, a situação já ultrapassou o limite do suportável. "A polícia não tem mais controle deles. Eles sabem como organizar a bagunça. Quando a polícia chega, eles diminuem o som, mas assim que a viatura sai, tudo volta como antes", relata um morador. A sensação de insegurança é constante, e muitas pessoas até evitam sair de casa nos dias das festas e nos finais de semana preferem pedir comida por delivery, pois têm medo de passar pelo local. "Moro aqui há um ano e já estou pensando em me mudar. A situação é insustentável. Já houve até morte no baile", conta um morador do bairro.
Conflitos e brigas são comuns no local. Em agosto do ano passado, uma discussão terminou com a morte de um jovem de 22 anos, baleado durante o evento. Segundo testemunhas, o autor dos disparos sacou uma arma e atirou primeiro para o alto e depois mirou na vítima, atingida por outros três tiros.
A segurança das mulheres também preocupa. Em reunião do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) da Pampulha, uma moradora relatou ter sido abordada de forma abusiva por um frequentador do baile. "A gente se sente vulnerável. Eles não têm medo de câmeras, sabem que estão sendo filmados e continuam com a baderna", relata outra moradora ao Estado de Minas. Ela destacou que a música ao vivo nos bares da região não é o problema, já que os estabelecimentos respeitam a Lei do Silêncio de BH.
Comércio abalado
Comerciantes também sofrem com a situação. Várias lojas fecharam, e os negócios restantes têm perdido clientes. "Eles urinam nas portas das lojas, quebram garrafas e deixam sujeira por toda parte", denunciou um comerciante, indignado com a situação. “Está causando um transtorno para todo mundo, porque os demais comerciantes estão perdendo a clientela. Tem cliente que não vem mais aqui, porque a região está ficando perigosa”, completa outro lojista.
Os moradores esperam mais ação por parte das autoridades, mas sentem que o problema tem sido negligenciado. Uma base móvel da PM fica na praça das 15h às 23h, mas não resolve o problema. "Já procuramos a prefeitura e a polícia, mas nenhuma providência foi tomada. Estamos vivendo uma guerra", reclamou um morador. Para muitos, a solução está em uma ação entre as autoridades de segurança pública e a prefeitura.
Procurada pela reportagem, a PBH informou que o local é alvo de ações integradas entre a fiscalização urbanística e ambiental, a Polícia Militar e o Juizado de Menores. Na segunda-feira (9/9), representantes de diversos órgãos municipais, incluindo a Guarda Municipal, BHTrans e SLU, se reuniram com moradores e a Secretaria de Estado de Segurança para discutir a ampliação das medidas de combate ao problema. “Eventos clandestinos como esse são enfrentados por meio de operações conjuntas que envolvem a Guarda Civil, a Polícia Militar e a Subsecretaria de Fiscalização”, destacou em nota.
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