País mais maduro

'É imprescindível repensar como o país pretende envelhecer', afirma juíza

Coordenadora da Central Judicial do Idoso no TJDFT, a juíza Monize Marques defende a implementação da Política Nacional do Idoso, estabelecida por lei em 1994. Ela considera fundamental ainda ações educativas de valorização dos brasileiros acima dos 60 anos

Coordenadora da Central Judicial do Idoso no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, a juíza auxiliar da corregedoria de Justiça do DF, Monize Marques, considera urgente a adoção de medidas para melhorar a vida de uma população que crescerá muito nas próximas décadas. A magistrada defende a implementação da Política Nacional do Idoso, estabelecida pela lei nº 8842, de 1994. Trinta anos após a sanção da lei, o país ainda precisa avançar muito na valorização da população acima de 60 anos.

"É imprescindível que o poder público e a sociedade se unam para repensar como o país pretende envelhecer. É uma construção que depende do engajamento de todos", afirmou Marques em entrevista ao Correio, em comentário às projeções demográficas divulgadas na quinta-feira (22/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Leia, a seguir, as considerações da juíza Monize Marques sobre o tema.  

A senhora já alertou sobre a falta de preparo do poder público e da sociedade para o envelhecimento da população. Quais mecanismos deveriam ser adotados para reverter essa situação?

O principal mecanismo é a educação. A Política Nacional do Idoso (Lei nº8842/94) em seu art. 10, inc. III, prevê que a necessidade de adequação dos currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais destinados ao idoso; a inserção nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, de conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto; a inclusão da Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores; o desenvolvimento de programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a fim de informar a população sobre o processo de envelhecimento; o desenvolvimento de programas que adotem modalidades de ensino à distância, adequados às condições do idoso e o apoio à criação de universidade aberta para a terceira idade, como meio de universalizar o acesso às diferentes formas do saber. Ou seja, desde 1994 este assunto foi normatizado. Até quando deveremos aguardar a efetiva implementação?

Ainda dá tempo do Brasil se preparar para essa mudança na curva do crescimento prevista para 2042?

Mesmo que o prazo seja exíguo, ainda há tempo para a implementação de políticas públicas para adaptar à nova curva demográfica. É um assunto urgente e que precisa ser seriamente enfrentado.

Como isso deve ser feito? Poderia citar alguns exemplos de iniciativas do poder público?

Diversas iniciativas podem proporcionar resultados surpreendentes a médio e longo prazo. Trago alguns exemplos: a aprovação do Projeto de Lei sobre a Política Nacional de Cuidados, enviado recentemente ao Congresso Nacional; o fortalecimento dos Conselhos Municiais de Direitos da Pessoa Idosa, bem como o estímulo e estabelecimento das normas de organização e funcionamento dos Fundos Municipal e Estadual da Pessoa Idosa; o fortalecimento do diálogo com a sociedade civil, mediante oitiva de organizações sérias como a Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

No exterior, a senhora tem conhecimento de estratégias que funcionam e que poderiam ser aplicadas aqui?

Alguns países da Europa e também da América do Norte, como o Canadá, possuem ferramentas legais mais apropriadas para a preservação da autonomia da pessoa idosa. Além disso, em 2015, o Brasil assinou a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, mas ainda não ratificou. É um importante instrumento internacional de proteção.

Além do preconceito, quais as outras barreiras que precisamos enfrentar para montarmos um plano de envelhecimento seguro e saudável?

É imprescindível que o poder público e a sociedade se unam para repensar como o país pretende envelhecer. É uma construção que depende do engajamento de todos, sobretudo quando consideramos o impacto do envelhecimento nos cálculos da população economicamente ativa e no
mercado de trabalho.

A senhora também mencionou em criar uma "sociedade para todas as idades". Como seria?

A sociedade para todas as idades pressupõe relações intergeracionais saudáveis, com a preservação da autonomia das pessoas idosas e a inclusão deste grupo em todos os ambientes, desde espaços de poder até os espaços de lazer. É a realização do objetivo fundamental da República Federativa do
Brasil de construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

 

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