Pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) descobriram o fóssil quase completo de um dinossauro carnívoro do grupo Herrerasauridae, com idade estimada de 233 milhões de anos. O material foi encontrado em maio, no sítio fossilífero de São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul, após as intensas chuvas que atingiram o estado.
As características dos ossos revelam que o espécime se trata de um dinossauro carnívoro com cerca de 2,5 metros de comprimento, conforme explicou o paleontólogo da UFSM Rodrigo Temp Müller, que liderou a equipe do Cappa. O fóssil é o segundo mais completo já descoberto no mundo e permite maior entendimento sobre a origem dos dinossauros.
De acordo com ele, esses animais são todos predadores, carnívoros — o que é possível verificar na dentição desse animal — e são bípedes. "É um material que está quase completo, o que já dá uma boa ideia de como ele era e a qual grupo pertencia. Só não tem como dizer, ainda, se é uma espécie nova ou uma já conhecida, porque temos que fazer uma análise minuciosa", diz.
Para o paleontólogo da Universidade Regional do Cariri (URCA), Álamo Feitosa Saraiva, a descoberta é extremamente importante para a paleontologia mundial, pois permite um maior entendimento sobre a origem dos dinossauros. "Existem poucos espécimes desse período no mundo, entre 252 e 201 milhões de anos atrás. Os dinossauros que apareceram depois, no período Jurássico Cretáceo, tiveram origem a partir desses grupos mais basais. A descoberta de um dinossauro que nunca, ou muito raramente, é encontrado completo, vai dar luz dentro desse processo de entender o surgimento desse grupo", reforça o pesquisador.
A área em que se encontra o sítio, onde o espécime foi encontrado, possui características raras relacionadas à preservação de rochas sedimentares no solo. Essa preservação, que os pesquisadores dizem ser um "milagre paleontológico", permitiu a extração de outros fósseis da região da depressão central do RS.
"Aqui na região, chamada de depressão central do estado do Rio Grande do Sul, afloram rochas do período Triássico, rochas sedimentares. É nesse tipo de rocha que os fósseis se preservam, por isso temos acesso a esses fósseis", conta Saraiva. Segundo ele, em 2012 foi descoberto na mesma região o fóssil de um Macrocollum de cerca de 225 milhões de anos de idade, primeiro dinossauro completo do Brasil.
Enchentes
As enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul acabaram facilitando a descoberta de novos fósseis. A equipe do centro de pesquisa explica que as chuvas naturalmente são responsáveis por revelar novos materiais na região central do estado em todos os anos, mas que o mesmo processo de erosão que revela esses fósseis também os destrói e os deixa mais vulneráveis às intempéries.
O Cappa realiza constantes monitoramentos na região, buscando evitar que novos fósseis sejam expostos às chuvas e danificados, trabalho que foi intensificado durante as enchentes. "As chuvas, de certa maneira, ajudam a gente a encontrar os fósseis, porque elas vão causando erosão e isso vai expondo-os lentamente, então a gente consegue ir para o campo, para o sítio, e coletar esses materiais. Desta vez, a gente teve um volume muito elevado de chuvas e isso não só expôs alguns novos materiais, como também já estava danificando eles", relata Rodrigo Müller.
De acordo com o paleontólogo, é provável que alguns materiais menores tenham se perdido. "O espécime que a gente encontrou, parte da cintura pélvica, a região da bacia e parte da perna, já tinham sido perdidas pela erosão. Se a gente não tivesse chegado a tempo, talvez não teríamos como recuperar esse material", afirma.
Repatriação
Atualmente, segundo o Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil, livro do paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, que conta com detalhes onde e por quem foram coletados os fósseis brasileiros, cerca de 54 espécies foram encontradas e catalogadas em território nacional.
Desde 2014, o paleontólogo Álamo Feitosa Saraiva se dedica à proteção e repatriação dos fósseis brasileiros. "Existem, atualmente, 14 pedidos de repatriação. Eu participo desse processo denunciado a venda e posse de fósseis de origem brasileira, além de dar laudos técnicos. Depois da denúncia, o procurador da República entra em contato com o museu, site ou dono de uma coleção pedindo esses fósseis", conta.
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O pesquisador afirmou que, no ano passado, duas repatriações foram muito importantes para o Brasil, além do fóssil do dinossauro Ubirajara Jubatus, que foi devolvido ao Ceará em junho do ano passado, após quase 30 anos na Alemanha.
Álamo destaca ainda a repatriação de 998 fósseis vindos da França para o Ceará, em dezembro. "Esse trabalho de devolução vem de um processo iniciado em 2013. Não é uma coisa rápida, que você estala os dedos e diz 'é meu' e eles respondem 'tá bom, vou mandar de volta'. Não é bem assim. Esta já é a terceira repatriação em que a gente teve sucesso, e espero que ocorram muitas outras também", comemorou.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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