A vacina contra a Covid-19 SpiN-TEC, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai para a etapa de testes em humanos, que é o último estágio antes da aprovação, e poderá estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) no próximo ano. O anúncio foi feito pela ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, em visita a Belo Horizonte, ontem (12/7). A chefe da pasta esteve no terreno onde está sendo construído o Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), que será o primeiro complexo no país capaz de executar todas as etapas do desenvolvimento de imunizantes (pesquisa básica, além de testes pré-clínicos e clínicos).
Nas palavras da ministra, o CNVacinas será o principal centro de pesquisa e desenvolvimento na área de imunizantes do Brasil. Diferentemente do Instituto Butantã e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o espaço não vai fabricar vacinas, mas apenas desenvolvê-las. Assim que for entregue, o centro absorverá e ampliará as atividades do CT Vacinas da UFMG, responsável pelo desenvolvimento da SpiN-TEC e de imunizantes contra a dengue e leishmaniose. “O CT Vacinas tem uma importância estratégica para o país, porque aqui nós tratamos de pesquisas e desenvolvimento para vacinas, para novos fármacos, para insumos farmacêuticos ativos”, destacou a ministra.
Ter um centro capaz de executar todo o desenvolvimento de uma vacina ajudará a reduzir a dependência do Brasil de imunizantes e insumos estrangeiros, defende Luciana Santos. “Se o Brasil não responder às suas demandas de doenças, ninguém responderá. E nós sabemos bem o que significou, no período da COVID, essa dependência desses medicamentos, de vacinas e de insumos”, disse a ministra, fazendo referência ao atraso da vacinação contra a COVID-19 no início de 2021 devido à escassez de insumos fundamentais para a produção dos imunizantes.
O CNVacinas está sendo construído em um terreno de 4,4 mil metros quadrados dentro do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), no Bairro Engenho Nogueira, na Região da Pampulha. O investimento é de R$ 80 milhões, dos quais R$ 50 milhões são provenientes do MCTI . O restante (R$ 30 milhões) vem do governo de Minas Gerais.
A gestão administrativa e financeira ficará a cargo da Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), que também é responsável pela execução da obra. O convênio para a construção do espaço foi firmado em dezembro de 2021 pelo governo Bolsonaro. As obras tiveram início um ano depois, em dezembro de 2022, e devem ser finalizadas até o final de 2025.
Imunizante brasileiro
A SpiN-TEC não apenas é a primeira vacina contra a COVID desenvolvida inteiramente no Brasil, mas também o primeiro imunizante 100% brasileiro a chegar na etapa de testes clínicos, na qual é estudada a resposta imunológica do ser humano contra o vírus. O estágio anterior, de testes pré-clínicos, é feito em células e em animais. Essa etapa foi concluída no mês passado e os resultados serão entregues para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovará ou não a continuidade para a última etapa.
A expectativa é de que a fase três comece ainda no segundo semestre, explica o professor Ricardo Gazzinelli, coordenador do CT Vacinas e pesquisador da Fiocruz. “(Com os resultados) já poderemos partir para o registro da vacina, que tem como alvo principal o SUS. Achamos que pode ser uma grande contribuição para o ecossistema de vacinas”, disse o professor.
A ideia é que SpiN-TEC funcione como dose de reforço para quem já se vacinou contra a COVID. Tanto que, inicialmente, os testes serão feitos com pessoas que tenham sido imunizadas com duas doses da CoronaVac. Além de economia para os cofres públicos, já que reduzirá a importação de vacinas estrangeiras, a SpiN-TEC apresenta outras vantagens em relação aos imunizantes que já estão no mercado. “Você consegue mantê-la em temperatura de geladeira por mais de um ano e em temperatura ambiente por um mês. Ela vai ser uma vacina mais fácil para ser distribuída a regiões mais remotas do país”, explica Gazzinelli.
Além das Fronteiras
O CT Vacinas tem trabalhado também no desenvolvimento de outros imunizantes, com foco especial contra doenças que, segundo Gazzinelli, atingem populações negligenciadas e esquecidas pela indústria farmacêutica. “Nós temos vacina contra malária e contra leishmaniose que já estão em estágios bem avançados e esperamos iniciar os estudos clínicos no começo do ano que vem. E também temos trabalhado numa vacina contra a dengue. A vacina já existia, mas as fábricas não eram capazes de produzir em número suficiente e agora estamos com uma estratégia que talvez torne mais fácil a produção em massa”, explica.
O desejo dos cientistas ligados ao CNVacinas é de que o centro também seja responsável pelo desenvolvimento de imunizantes para outros países. “Vai ser uma grande contribuição do estado de Minas Gerais e da UFMG para o Brasil e com esperança de ultrapassar as fronteiras”, disse o professor.
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