RIO DE JANEIRO

PM que abordou adolescentes negros disse que suspeitou de grupo aglomerado

PM disse que momentos antes de encontrar os adolescentes, que são filhos de embaixadores, uma pessoa informou aos policiais que tinha sofrido um assalto

A Polícia Militar do Rio de Janeiro abordou três filhos de diplomatas negros de 13 e 14 anos -  (crédito: Reprodução/X/Jandira Fegalli )
A Polícia Militar do Rio de Janeiro abordou três filhos de diplomatas negros de 13 e 14 anos - (crédito: Reprodução/X/Jandira Fegalli )

O policial militar Sérgio Regattieri Fernandes Marinho prestou depoimento, na quinta-feira (11/7), na Delegacia Especial de Apoio ao Turismo, sobre a abordagem a adolescentes negros filhos de embaixadores, que ocorreu em 3 de julho, em Ipanema, no Rio de Janeiro.

O policial disse que suspeitou do grupo porque os adolescentes estavam aglomerados. Segundo Sérgio, momentos antes de encontrar os menores, uma pessoa informou aos policiais que tinha sofrido um assalto. Um outro homem, que teria presenciado o crime, relatou que os suspeitos estavam em grupo, um deles utilizava uma camisa branca e alguns seriam jovens negros. As informações são do g1.

Então, Sérgio e outro sargento abordaram os adolescentes e deram ordem para que eles encostassem na parede. Um deles teria saído correndo para dentro de um prédio que estava com a garagem aberta. Os policiais fizeram revista pessoal e não encontraram nenhum objeto suspeito. Sérgio também afirmou que não disse nenhuma expressão racista e que se o grupo fosse formado só por garotos brancos a abordagem ocorreria da mesma maneira.

O caso

A Polícia Militar do Rio de Janeiro abordou três filhos de diplomatas negros de 13 e 14 anos. Nas redes sociais, a mãe de um dos meninos apontou racismo na ação, que envolveu adolescentes do Gabão, Burkina Faso, Canadá e outro menor de idade branco.

"As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros! Não há dúvida! A abordagem foi racial e criminosa. Há anos frequentamos o Rio e nunca presenciei nada parecido no quadradinho de Ipanema com meus filhos. É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem", disse Raiana Rondhon, mãe de um deles.

A Polícia Civil investiga se houve racismo ou injúria racial na ação dos policiais militares. A Polícia Militar disse que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes. No entanto, em depoimento, os policiais envolvidos na abordagem disseram que não estava utilizando câmeras corporais no momento.

Em nova nota enviada ao Correio, a Polícia Militar informou que o protocolo a ser seguido por todos os policiais militares é o do uso obrigatório das câmeras corporais e que a ausência do dispositivo será avaliado, uma vez que a não utilização do equipamento obrigatório é considerado pela Corregedoria como falta grave.

Itamaraty pede desculpas

O Ministério das Relações Exteriores informou que recebeu, na última sexta-feira (5/7), os embaixadores do Gabão e de Burkina Faso em Brasília. "Na reunião, foi entregue nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem. Nota de teor idêntico será entregue em mãos, ainda hoje, ao Embaixador do Canadá", frisou o Itamaraty.

Veja a nota da Polícia Militar na íntegra:

A Assessoria de Imprensa da SEPM informa que o protocolo a ser seguido por todos os policiais militares é o do uso obrigatório das câmeras corporais. Cabe destacar que a investigação segue em andamento e que a Corregedoria da Corporação instaurou um procedimento apuratório para investigar o caso. A situação sobre a possível ausência do uso das câmeras também será avaliado, uma vez que a não utilização do equipamento obrigatório é considerado pela Corregedoria como falta grave.

Cabe ressaltar que a SEPM não compactua com desvios por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos. A Polícia Militar segue colaborando integralmente com a investigação realizada pela Polícia Civil.

O Correio entrou em contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro para saber mais informações, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

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postado em 12/07/2024 08:14
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