MINAS GERAIS

Eutanásia na Suíça: jovem diz que doará dinheiro que sobrar da vaquinha

Jovem mineira que sofre da pior dor do mundo arrecada dinheiro para realizar eutanásia na Suíça; quase metade da meta foi batida

Carolina Arruda Leite abriu vaquinha on-line para realizar eutanásia na Suíça -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Carolina Arruda Leite abriu vaquinha on-line para realizar eutanásia na Suíça - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

A jovem mineira que está organizando uma vaquinha on-line para custear sua ida até a Suíça para realizar eutanásia afirmou que doará o dinheiro que sobrar da arrecadação para instituições que tratam pessoas com dores agudas. Carolina Arruda Leite, de 27 anos, abriu a vaquinha na segunda-feira (1/7) e até a manhã desta sexta (5/7), alcançou quase metade do valor estipulado, de R$ 150 mil.

Carolina conta que ainda não sabe se o valor será o suficiente para arcar com os gastos e que, se necessário, abrirá uma nova vaquinha. Caso sobre dinheiro, ela pretende doar a instituições que cuidam de pacientes com doenças que causam dores fortes, como a dela. De acordo com ela, os R$ 150 mil foram estipulados com base em algumas pesquisas feitas na Instituição Dignitas, na Suíça.

“Eu não quis colocar o valor mais alto porque eu não sei se vou precisar de mais. Prefiro fazer outra vaquinha para arrecadar mais dinheiro do que correr o risco de sobrar e as pessoas acharem que fiz outra coisa com esse dinheiro. Caso sobre, eu pretendo doar para alguma instituição que trabalhe com dor”, conta.

Segundo a veterinária, a vaquinha ficará aberta até a arrecadação total do valor de R$ 150 mil, que deve arcar os custos de viagem para o país e passaporte, médicos na Suíça e médicos no Brasil para indicação do procedimento e formulação dos laudos médicos, eutanásia, cremação e possíveis advogados. Até a publicação desta matéria, a jovem arrecadou R$ 70.455,42, com a contribuição de 1.594 apoiadores. A mineira diz acreditar que as pessoas têm se sensibilizado por ela, pois sabe que existem várias outras pessoas acometidas por doenças que causam dor.

“Acho que meu caso está sensibilizando muita gente, por isso esse aumento do valor tão repentino. Muita gente sofre com dores ou conhece alguém que sofre bastante, acredito que as pessoas que estão ajudando sejam empáticas com a situação”, conta a jovem.

Carolina é médica veterinária e atualmente mora em Bambuí, na Região Central de Minas Gerais. Ela tem neuralgia do trigêmeo bilateral, uma doença que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face. Segundo especialistas, a doença causa uma das piores dores do mundo. Devido à baixa qualidade de vida, a jovem decidiu realizar uma eutanásia, interrupção da vida de um paciente acometido de grave doença. Como no Brasil a prática é proibida, ela arrecada dinheiro para fazer o procedimento na Suíça.

A mineira conta que a filha, de 10 anos, entende sua escolha. De acordo com a mulher, ela conversa muito sobre o assunto com a menina. Embora a pequena Isabela sofra com a decisão, diz entender a situação, assim como outros familiares.

A dor e a limitação causadas pela doença são tema de conversa com a família, que já disse que se uma pessoa opta por morrer é porque a dor deve ser muito forte. Para ela, é difícil tomar a decisão, ainda mais por saber que a filha vai sofrer com a perda, mas a doença também impacta emocionalmente a vida de Isabela. Em entrevista ao Estado de Minas, a jovem desabafa a respeito da decisão tomada e o impacto sobre a família.

“A decisão vai afetá-la, assim como a toda família, mas lidar com a dor da perda é momentânea. Acho que depois ficarão só as lembranças”, conta.

A jovem lembra que perdeu muitos momentos com a filha desde o nascimento da pequena. Segundo a veterinária, a dor atrapalha em muitos quesitos com a menina. Isso porque, desde 1 ano, Isabela teve de morar com a avó em São Lourenço, no Sul de Minas, já que Carolina não tinha estabilidade na saúde para cuidar da criança.

“Perco muitos momentos com ela, dos momentos que eu poderia ter de mãe e filha, perco vários. Eu perdi vários. Perdi os 10 anos da vida dela, porque ela foi morar com a minha avó com 1 ano, porque não aguentava mais cuidar dela. Quando vou para o hospital, não sei quantos dias vou ficar lá, se são semanas. Então não podia deixar uma criança com essa instabilidade de vida”, desabafa.

A situação é intensificada com a rotina de vida que segue. A mulher visita a filha todo mês, mas sente que não é a mesma coisa. Os momentos em família que deveriam ser divertidos foram comprometidos pela doença de Carolina.

Para ela, a decisão não é fácil, mas é a melhor a se fazer. Além da filha, Carolina conta que já conversou com as pessoas que convivem com ela sobre a decisão, como a mãe, a avó e o marido. De acordo com a jovem, familiares já sabem da vontade dela há muito tempo e, apesar de entenderem a decisão, não concordam.

“As pessoas lidam de uma forma bem compreensível. Minha família fala que entende, que compreende minha situação e minha vontade, mas obviamente eles não aceitam. Não querem que eu faça, mas entendem”, diz.

Vaquinha

A sensibilização pelo caso tomou repercussão depois da jovem passar a compartilhar sua rotina de cuidados nas redes sociais. Ela compartilha as dificuldades, como os momentos de crise, que causam dor extrema, e as medicações que toma. Em vídeos, ela conta que já tentou buscar tratamentos, além de realizar quatro cirurgias para reverter a situação, mas sem sucesso.

Interessados em contribuir com a vaquinha podem clicar aqui ou ajudar usando a chave pix 4925543@vakinha.com.br.

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Melissa Souza* - Estado de Minas
postado em 05/07/2024 11:04 / atualizado em 05/07/2024 12:37