meio ambiente

Pantanal: incêndios avançam quase 1.000% em comparação com 2023

Mudanças climáticas antecipam a estação seca no bioma e focos disparam entre janeiro e junho, na comparação com o mesmo período de 2023. Governo cria sala de situação para acompanhar o problema

O início da estação seca trouxe um cenário preocupante para o Pantanal. De acordo com dados do Programa de Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos de incêndio no bioma aumentaram 974%, entre janeiro e junho, em comparação com o mesmo período de 2023. Até o momento, foram registrados 978 focos, enquanto que, no ano passado, foram 91.

Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor de Comunicação do SOS Pantanal, lembra está completando quatro anos dos incêndios de 2020 e que, de lá para cá, considera que pouco foi feito. "Apesar de o poder público ter investido mais na prevenção e na estruturação para combates, ainda falta muito. Burocracia e a falta de prioridade na prevenção continuam sendo os gargalos", ressaltou.

O avanço dos focos de incêndio no Pantanal não passou despercebido à oposição ao governo no Congresso — que usou as redes sociais para fazer críticas. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bate "recorde atrás de recorde". Publicou que o Pantanal tem um mês de junho com a maior quantidade de focos de incêndio da história.

O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) preferiu ironizar a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva: "Conquistou os dois maiores recordes de queimadas no Pantanal", alfinetou.

Para acompanhar o avanço dos focos na temporada mais seca no bioma, foi criada uma sala de situação sob coordenação da Casa Civil — outros 19 ministérios auxiliarão nas ações contra desmatamento, incêndios e seca e enfrentamentos de queimadas. Uma reunião de emergência convocada pelo presidente em exercício Geraldo Alckmin definiu a criação do colegiado.

A primeira reunião da sala será no dia 17 e tratará de processos de simplificação de contratações de brigadistas e equipamentos. Marina citou os fenômenos El Niño e La Niña, as mudanças climáticas e a situação na bacia do Rio Paraguai como condições ideais para que os focos de incêndio, provocados pela ação humana, avancem no Pantanal.

"Geralmente temos a escalada dos incêndios em agosto. Nesse momento, estamos em uma situação de muita preocupação. Desde outubro passado, agimos por entendermos que o custo de prevenir é sempre menor que o de remediar. No Pantanal, uma combinação de incêndios provocados pelo homem e incêndios naturais dificultam a ação, porque temos áreas de difícil acesso", explicou.

Segundo Marina, há a possibilidade de se alterar a legislação para permitir a operação de aeronaves de países, em caso de necessidade, com vistas a atuar contra os incêndios.

"A gente começa o ano enfrentando as cheias (no Rio Grande do Sul) e a segunda parte do ano é enfrentando as secas e as queimadas. Isso é resultado do grave problema da mudança do clima, que está nos afetando de forma severa e preocupante", advertiu.

Ineditismo

Já o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, afirmou que a situação no Pantanal é inédita. Segundo ele, os focos foram registrados mais cedo do que em anos anteriores — normalmente, no primeiro semestre, o Pantanal sofre com chuvas. A instituição contratou mais de dois mil brigadistas para atuarem no bioma e na Amazônia.

"Pela primeira vez, a gente está com o Pantanal seco no primeiro semestre. Estamos com pelo menos 15 focos de incêndios, em épocas em que nunca se teve fogo no Pantanal", disse.

O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, reforçou que o governo tem trabalhado para antecipar e prevenir os impactos das mudanças climáticas. "O governo atua com antecedência para diminuir não o evento, o que é impossível, mas o estrago que faz na vida das pessoas", salientou.

 

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