Capão da Canoa (RS) — A aproximação do inverno, que reduz a frequência das chuvas, não faz apenas com que as águas baixem de nível, nas cidades gaúchas afetadas pelas enchentes. Também leva as pessoas que estão em abrigos a voltar para as próprias casas ou a buscar a residência de parentes — uma vez que as rodovias, aos poucos, tornam-se transitáveis.
De acordo com o balanço de ontem da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 39.595 pessoas permanecem em abrigos improvisados em ginásios de escolas, de universidades e em igrejas. Nesta mesma semana, porém, esse número era maior: na segunda-feira, 55 mil pessoas permaneciam nessas estruturas.
Vinte e quatro horas depois, houve a diminuição de 7 mil abrigados. A maior parte dos locais que receberam vítimas das enchentes é em Porto Alegre e na Região Metropolitana — onde o vazamento das comportas do Lago Guaíba inundou quase todas as cidades.
Com o recuo das águas e o tempo firme em todo o estado, as pessoas se animam a deixar a moradia improvisada e a retomar a vida nas casas que foram obrigadas a deixar. A coordenadora do abrigo da Unisinos, Cybeli Moraes, relatou ao Correio que o local foi desmobilizado na última quarta-feira, pois a maioria das pessoas voltou aos lares.
A estrutura, localizada em São Leopoldo, na Região Metropolitana, era a terceira maior do estado. No auge das cheias, receber em torno de 1,5 mil pessoas, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social do estado.
"É uma mistura de respostas. Algumas (pessoas) estavam, sim (ansiosas para voltar para casa), por essa situação de viver em abrigo coletivo. Outras, não, pois o nosso oferecia serviços que não são comuns em muitas comunidades vulneráveis", explica Cybeli. O local disponibilizava ambulatório, atendimento odontológico e psicossocial, fisioterapia, além de cinco refeições por dia.
Para aqueles que retornaram às casas, as condições climáticas estão favoráveis para a limpeza e reconstrução. O climatólogo Dakir Silva já havia salientado ao Correio que, por conta de um ciclone extratropical no estado, seguiriam-se muitos dias sem chuva — condição que se concretizou quarta-feira. O MetSul Meteorologia estima que o tempo deve seguir firme por, pelo menos, 10 dias.
Período de pico
O pico de desabrigados foi de 11 para 12 de maio: cerca de 81 mil pessoas estavam nas estruturas provisórias montadas pelo governo do estado e pelas prefeituras. Dias antes, de 5 para 6 de maio, houve um salto na procura pelas instalações temporárias: pulou de 18 mil para 47 mil pessoas.
Essas 48 horas foram as mais críticas das enchentes, pois as comportas do Guaíba começaram a vazar, inundando o Centro de Porto Alegre e o bairro Mathias Velho, em Canoas. O lago alcançou a marca histórica de 5,33m e seguiu acima da cota de inundação (de 3m) durante quase todo o mês. Ontem, estava com 3,67m, o menor nível desde 3 de maio.
A descida das águas também se verifica nos principais afluentes do Guaíba. O Caí saiu, ontem, da cota de alerta e está em 2,66m. O Rio dos Sinos e o Gravataí caíram 10cm nas últimas 24h — baixaram, respectivamente, a 4,7m e a 5,18 m. Mas Jacuí não tem uma medição atualizada desde a madrugada do dia 30, quando estava em 11,37m.
No sul do estado, a Lagoa dos Patos estabilizou-se em 2,34m. Apesar do nível ainda estar acima da referência de inundação, os hidrólogos não preveem piora na região.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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