tragédia no sul

Fiocruz alerta para o avanço de doenças com o recuo das cheias no RS

Pesquisadores mostram que, depois das enchentes, a expectativa é de que o estado enfrente um aumento de casos. Lixo e água poluída trarão, sobretudo, problemas respiratórios e gastrointestinais

Lixo e higiene precária potencializam a disseminação das doenças -  (crédito: Henrique Lessa /CB/D.A Press)
Lixo e higiene precária potencializam a disseminação das doenças - (crédito: Henrique Lessa /CB/D.A Press)

Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (ICICT/Fiocruz) advertem que, após as enchentes no Rio Grande do Sul, a expectativa é de que o estado enfrente um aumento nos casos de diversas doenças. Entre as principais preocupações estão os problemas respiratórios e gastrointestinais, lesões físicas e acidentes com animais peçonhentos, que podem aparecer dentro das casas com a redução no nível da água.

Em nota técnica divulgada ontem, os cientistas emitiram um alerta sobre o assunto, enfatizando que a tendência de aumento é maior se as condições de saneamento e acesso a cuidados médicos continuarem comprometidas. O documento chama atenção, também, para doenças transmitidas por vetores — principalmente a dengue e a leptospirose — e aponta que, historicamente, picos dessas infecções ocorrem nos meses seguintes às enchentes, quando a sociedade se recupera dos desastres.

"Com a subida do nível das águas, podem ocorrer mais acidentes com aranhas e serpentes, assim como aumenta o risco da transmissão de doenças transmitidas por água contaminada e vetores", explicou Diego Xavier, pesquisador do Observatório de Clima e Saúde.

A nota técnica chama a atenção para os sete aspectos a serem levados em consideração pelas autoridades. Um deles é sobre doenças agudas e salienta o aumento da incidência de covid-19, gripes, resfriados e tuberculose. Adverte, também, para doenças gastrointestinais — como hepatite A e diarreia infecciosa, dengue e leptospirose.

Em relação às áreas de risco para animais peçonhentos, o documento alerta para as regiões dos vales, planalto, depressão central e o litoral norte do Estado. Nesses locais, historicamente há maior incidência de acidentes com animais peçonhentos.

O documento também chama a atenção para o fato de que os períodos mais perigosos podem ter se alterado. As doenças estão mais concentradas no verão, mas podem se estender nos próximos meses devido às alterações do ambiente original devido às chuvas intensas e enchentes.

Contaminação

Outra questão é a contaminação ambiental. A nota técnica ressalta que existem 1.518 estabelecimentos potencialmente poluidores dentro da área que esteve inundada. São indústrias, terminais de transporte, obras civis, comércios e depósitos que, invadidos pelas enchentes, podem expor a população a substâncias tóxicas nos meses posteriores ao desastre. Porto Alegre seria uma das cidades sob maior risco.

A nota adverte para a saúde mental de desabrigados, profissionais e voluntários que estão trabalhando na emergência. Segundo o documento, as perdas materiais e/ou de parentes e amigos podem causar um aumento de casos de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.

No caso das doenças crônicas — como diabetes, hipertensão, males cardiovasculares e transtornos mentais —, podem apresentar descontrole em decorrência da interrupção do acesso a medicamentos e a cuidados médicos contínuos. E entre os potenciais motivos para o aumento da maioria dos problemas de saúde estão a aglomeração de pessoas nos abrigos, as obras de recuperação das cidades atingidas e o contato com água contaminada.

 

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postado em 15/06/2024 03:55
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