Rio Grande do Sul

Porto Alegre suspende aulas após novas enchentes

A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Guaíba

Enquanto parte dos bairros continuavam debaixo d'água, áreas onde a inundação havia baixado voltaram a ser tomadas pela enchente em Porto Alegre e mais cidades da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira (23/5). A situação ocorre em meio a um sistema de prevenção e bombeamento colapsado, chuva intensa e aumento no vento que represa o escoamento do Lago Guaíba, com as águas avançando até por locais antes não afetados.

Com o agravamento da situação ao longo da manhã, a prefeitura da capital gaúcha determinou a suspensão das aulas nas escolas privadas e públicas onde tinham sido retomadas. Parte dos estabelecimentos ainda estava fechada pelo impacto e permanência da enchente em bairros da cidade. O fechamento de outros equipamentos públicos em áreas alagáveis, como postos de saúde, também foi anunciado.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a chuva extrema foi acima do que era esperado e piora ainda mais a situação da cidade, atingindo mais bairros. "Aquilo que era o problema das áreas alagadas estendeu-se praticamente por toda a cidade com essa chuvarada", afirmou em coletiva de imprensa.

Além disso, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai fechar novamente as comportas de contenção do sistema antienchente nesta tarde. O órgão anunciou que fará barreiras com sacos nos locais onde os portões foram arrancados pelo poder público (a fim de acelerar o escoamento nos últimos dias) ou afetados pelas águas.

O acúmulo de água atinge tanto bairros afetados em que a água estava baixando, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico, quanto outras que tiveram menor ou nenhuma inundação anteriormente, como na Cavalhada e na Ponta Grossa. Com a situação, foi necessário realizar o resgate de pessoas ilhadas, principalmente na zona sul, onde a maior parte não é protegida por diques.

Horas após a situação causar preocupação e saída às pressas de bairros, a população voltou a reclamar da falta de orientação sobre para onde se destinar e o cenário estimado de avanço da água. "A prefeitura não foi pega de surpresa. A gente sabia que iria chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã", justificou o prefeito.

Em locais onde a água tinha baixado, como nas Ruas 21 de Abril e Alcides Maia, no bairro Sarandi, na zona norte, a elevação da enchente causou transtornos aos moradores, que já haviam limpado suas residências na quarta-feira, 22, enquanto fazia sol.

Saionara Gomes, de 52 anos, perdeu tudo nas enchentes. A água chegou a 1,5 metro dentro de sua residência. "Os móveis estão todos empilhados nos canteiros. Estou preocupada com toda essa chuva que está vindo agora. Ontem (quarta-feira, 22), os garis estavam limpando, mas tem muitos bueiros entupidos', disse preocupada a dona de casa, que ficou mais de duas semanas abrigada em casa de familiares junto com seus dois filhos.

Na coletiva de imprensa, Melo também respondeu às críticas da população. O Estadão já havia mostrado uma série de problemas na gestão de crise da cidade ao longo do avanço das enchentes.

"Tão logo começou a acontecer, tomei a decisão: vim para o Dmae e para a Comissão Permanente de Crise, e tomamos as decisões. Alguém há de dizer: Prefeito, você poderia ter feito isso ontem. Esse pode ser o questionamento de muitos e eu respeito essa posição. Mas penso que nós agimos", justificou. "Em um momento de crise, tudo é difícil. Poderiam ter suspendido as aulas? Talvez pudéssemos", completou.

"Há sim, sem dúvida nenhuma, pelo volume de chuvas, aquilo que já era problemático potencializou fortemente com essa chuvarada. Você tem uma cidade que está completamente alagada nesses últimos 20 dias e cai mais 100 mm de chuva por m² em toda a cidade, evidentemente que isso potencializa enormemente."

Já o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, apontou que o acúmulo de lodo e sujeira também tem contribuído com a dificuldade de escoamento da água. "Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água, na sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado sobre essa rede. Então, diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva", apontou.

Além disso, defendeu que o departamento tem buscado retomar o sistema de bombeamento nas casas de bombas colapsadas. "Fora dessa catástrofe que estamos vivendo, em uma situação normal em Porto Alegre, esse volume acumulado de chuva em um curto período, que são 15 horas, já estaria nos trazendo problemas. Só que agora temos o somatório do Guaíba extremamente alto, de todos os arroios que desembocam no Guaíba sem a capacidade de desaguar no Guaíba, o solo está completamente encharcado e não consegue absorver a água. Então, tudo isso influencia para que a gente tenha alagamentos em pontos novos." (COLABOROU LUCIANO NAGEL)

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