Porto Alegre — Agora que as águas recuam na capital gaúcha, emergem os sinais da destruição. Com a lama seca em algumas regiões, o cenário é de montes de entulho — que incluem móveis, eletrodomésticos, brinquedos, roupas e outros objetos inutilizados — que se acumulam nas ruas. O cenário lembra filmes hollywoodianos de catástrofe, acompanhado de um cheiro insuportável. A conta da sanitização, segundo a prefeitura de Porto Alegre, supera os R$ 24 milhões, mas deve ir a mais de R$ 100 milhões, dizem os técnicos.
Para coletar esse lixo, o município tem contado com a ajuda do Exército, que disponibilizou pessoal e caminhões para ajudar a liberar as vias tomadas por entulhos — que dificultam o tráfego e impedem que muitos voltem para casa por causa do odor de podridão.
De acordo com o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Carlos Alberto Hundertmarker, em diversas ruas a camada de lama é retirada por retroescavadeiras, mas, no centro da cidade, com calçadas de ladrilhos e vias de paralelepípedos, a limpeza é manual. Funcionários da prefeitura usam enxadas, escovas e jatos de água para remover a sujeira e limpar prédios icônicos, como a Casa de Cultura Mário Quintana.
"Em áreas tombadas, temos ladrilhos portugueses e estamos escovando toda a lama. Todo o DMLU tem um cuidado ao fazer a limpeza", explicou Hundertmarker.
O detrito está sendo removido para um aterro sanitário em Gravataí, cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Receberá cerca de 180 mil toneladas de dejeto contaminado.
Se em Porto Alegre o lixo está quantificado, no estado ainda não. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a empresa Max Debris elaboraram uma pesquisa que quantifica os resíduos em todos os municípios gaúchos. Estruturas imobiliárias e industriais compõem a maior parte do lixo a ser retirado.
A pesquisa demonstrou que há cerca de 46,7 milhões de toneladas de detrito. A bacia do rio Gravataí, por exemplo, tem a maior quantidade — são 17,5 milhões de toneladas de lixo. Nesses resíduos, são mais de 400 mil estruturas imobiliárias e industriais.
Segundo a pesquisa, dois picos de geração de resíduo são esperados. O primeiro somará aproximadamente 24 milhões de toneladas de detritos. O segundo virá quando os edifícios e estruturas que ficaram submersas forem avaliados estruturalmente.
O doutor em ciências e ecólogo da Universidade Federal de Rio Grande (UFRG), Marcelo Dutra, salienta que é preciso conter a contaminação do solo pelo lixo. "Tem um risco grande de contaminação do solo e dos corpos hídricos se o descarte não for adequado. Lugares sanitizados, como aterros sanitários, diminui o problema", afirma.
*Colaborou Marias Beatriz Giusti, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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