FAUNA

Animais silvestres são flagrados em centros urbanos após enchentes no RS

Animais silvestres foram flagrados em diversos bairros de Porto Alegre; especialista diz que o cenário era esperado

Além de uma onda de destruição, as enchentes que inundaram diversos municípios do Rio Grande do Sul também trouxeram para os centros urbanos uma série de animais silvestres que viviam nos corpos d'água que aumentaram de volume com as tempestades. Diversos peixes, jacarés e cobras foram avistados nas áreas urbanas de Porto Alegre com a instabilidade do nível do Guaíba. 

Segundo o MetSul, bairros como o de Navegantes, Centro Histórico, Floresta, Praia de Belas, Menino Deus, Cidade Baixa, entre outros, receberam animais das águas do lago durante o período de maior cheia. 

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre, não há um levantamento de animais silvestres mortos e resgatados decorrente das enchentes, porém, em locais como o Arroio Dilúvio, que atravessa Porto Alegre e deságua no Guaíba, é comum a presença de animais como capivaras, jacarés e cobras. “Peixes de pelo menos três rios diferentes podem ter vindo até o Guaíba com as enxurradas”, acrescenta o órgão. 

No entendimento do biólogo e pesquisador do Museu e Ciências Naturais da Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Gleyson Bencke, o fato se dá pela grande quantidade de chuva que transpôs as bacias hidrográficas onde habitavam algumas espécies. 

“Esses animais que vivem dentro dos rios e em ambientes marginais como banhados, áreas úmidas, foram, em parte, desalojados pelas cheias”, acrescenta o especialista. Como a água extravasou muito e de forma rápida, a área de ambiente desses animais se amplificou, o que força algumas espécies a irem em busca das áreas mais rasas, ou seja, nos ambientes urbanos. 

“Isso é um fenômeno esperado. Não estamos falando apenas de peixes, que nadam e conseguem se dispersar melhor por áreas profundas, mas principalmente animais que precisam de áreas mais rasas e margens para poder respirar e descansar, como é o caso de tartarugas e cágados. Esses animais não vão ficar lá no meio, onde é mais fundo, porque eles necessitam chegar a uma margem”, explica Bencke. 

Na análise do biólogo, a fauna silvestre é adaptável e resiliente, e consegue resistir mesmo à catástrofes ambientais. Porém, diante do cenário adverso e instável do estado, é difícil calcular os prejuízos ambientais. “É muito cedo para avaliar como serão esses impactos porque a gente nem sequer conseguiu chegar nesses locais que foram mais atingidos pelas enchentes para verificar algum impacto direto sobre a fauna silvestre”, complementa. 

Muitas áreas de vegetação ribeirinha e florestal às margens dos cursos d’água foram completamente eliminadas pela enxurrada. “E essas vegetações são muito importantes pois possuem a função ecológica importante para a fauna silvestre como corredor de dispersão. A gente pode perceber que a fauna vai ter uma dificuldade maior de se dispersar e com isso reagir a fenômenos como secas, enxurradas e enchentes, porque não tem esses corredores”, esclarece o biólogo. 

Uma pequena parte da população ainda continuam em suas casas, mesmo com as enchentes. Bencke afirma que por mais que os animais silvestres possuírem um comportamento imprevisível, se eles não forem tocados ou capturados, não há riscos aos humanos. “Mas as pessoas podem querer enxotar uma serpente, jacaré, e essa interação direta pode ocasionar algum acidente. O melhor é que não tentem tocar, pegar ou capturar esses animais por conta própria”, reitera o especialista. 

Ações governamentais 

Para enfrentar o problema escalonado pela instabilidade do nível das águas, a Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre informou que a Equipe de Fauna Silvestre da Smamus monitora a circulação de animais silvestres em ambientes urbanos. “A orientação é que a população não interfira no deslocamento da fauna silvestre, independente das características físicas e espécies”, reitera. 

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (SEMA-RS) reitera que se os animais não estiverem oferecendo risco às pessoas, não é aconselhado interferência humana. “O mesmo vale para lagartos, jacarés e outros animais silvestres”, acrescenta.

O Correio entrou em contato com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para saber sobre os planos de reconstrução ambiental das áreas afetadas no estado, assim como os processos de realocação dos animais silvestres para seus habitats naturais, mas não recebeu resposta até a publicação desta matéria. 

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