Tragédia no Sul

Porto Alegre: A limpeza de uma cidade tomada pela lama

Cheiro forte e lama tomam conta do centro da cidade; comerciantes jogam produtos inutilizados no lixo

Porto Alegre  Caminhar pelas ruas do centro de Porto Alegre após a baixa das águas é como andar em um cenário de guerra. Com as enchente, os esgotos e o lixo do centro da cidade se misturaram com os mais diversos produtos que estavam dentro das lojas e deixam um odor insuportável que chega a dar náuseas em quem caminha pelas ruas. A reportagem do Correio passou por essas vias e presenciou o início da limpeza e a desolação de pequenos comerciantes que perderam tudo com as cheias.

 

Henrique Lessa / CB / DA Press -
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Na rua Voluntários da Pátria, tradicional rua de comércio popular do centro da cidade, registramos comerciantes abrindo as lojas e jogando fora toneladas de produtos inutilizados pelas águas. Em uma dessas lojas, especializada em cama, mesa e banho, os funcionários usavam rodos para empurrar para fora do estabelecimento um lodo preto fétido que dominava todo o estabelecimento.


A empresa visitada, a Bem Me Quer Enxovais, com sede em Goiás, calcula em mais de R$ 1 milhão o prejuízo com o estoque perdido na loja do centro da capital gaúcha. “Foi grande a perda, perdemos quase tudo, quase 1 milhão de reais, nada disso poderá ser vendido, a gente vai primeiro ter que tirar tudo isso para fora”, disse ao Correio a gerente do estabelecimento, Amanda de Oliveira. Junta de funcionários e amigos voluntários, ela usava rodos e mangueiras para tirar o lodo de dentro da loja.

Os comerciantes colocavam para fora todos produtos estragados que não poderiam mais ser vendidos. Apesar do cheiro fétido que exalava dos cobertores, lençóis, edredons e travesseiros, centenas de populares, entre eles diversos moradores da cidade que perderam tudo nas enchentes, disputavam aos gritos os cobertos de lama e esgoto que julgavam ser recuperáveis após uma boa lavagem.

Cada vez que os funcionários chegavam para colocar na frente da loja os fardos de produtos perdidos, os populares recolhiam a mercadoria e, na tentativa de reduzir o peso de roupas de cama encharcadas, torciam as peças antes de colocar em sacolas plásticas.

A empregada doméstica Sônia Silva, de 63 anos, estava na espera pelos produtos, ela diz que a casa dela não foi atingida, mas que teve muitos parentes que perderam tudo. “Eles estão botando fora as roupas de cama, então vamos aproveitar, eu levo para a minha casa lavo e fica bom de novo, o difícil vai ser levar que está muito pesado”, disse a senhora que garante que uma parte dos “salvados”, após a limpeza, vai repassar para os amigos e parentes que perderam tudo nas enchentes.


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