Nos próximos dias, serão desembarcados no Rio Grande do Sul 100 kits para montar um tipo de abrigo temporário, chamado tecnicamente de unidade habitacional para refugiado (RHU, na sigla em inglês), um misto de tenda e casa pré-fabricada. Os equipamentos estão vindo da Colômbia. Essa é uma das medidas que a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) coordena para dar assistência a cerca de 42 mil estrangeiros que vivem no Rio Grande do Sul, sob proteção do governo brasileiro.
A Acnur não tem um balanço de quantos refugiados foram afetados pelas enchentes que arrasaram o estado, mas, com a ajuda de parceiros brasileiros, busca identificar cada um deles nos abrigos públicos e nas listas de desalojados das prefeituras. Cerca de 35 mil integram o Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), o que facilita a identificação e a localização.
"É uma tragédia na tragédia. Eles vêm de perseguição política, violência ou catástrofes naturais em seus países. Agora, precisam sobreviver a mais esse drama", disse a oficial de Proteção do Acnur Brasil, Silvia Sander.
O escritório está preocupado com a segurança dos refugiados que estão em abrigos públicos e com as dificuldades que enfrentam para garantir a subsistência das famílias. Há, inclusive, relatos de xenofobia e racismo sofridos pelos imigrantes.
Nacionalidades
Mais da metade dos refugiados no Rio Grande do Sul é venezuelana. São 29 mil pessoas registradas no Brasil que deixaram o país vizinho por perseguição política ou para fugir da grave crise econômica da Venezuela. Depois, estão haitianos (12 mil pessoas) e cubanos (1,3 mil).
Quando as chuvas começaram a provocar estragos no Rio Grande do Sul, há quase duas semanas, os parceiros da Acnur no estado iniciaram a mobilização para dar assistência aos estrangeiros. Muitos deles ainda têm dificuldade com o português e entender as mensagens do poder público sobre situações de emergência. Outra prioridade dessa rede de proteção é viabilizar a emissão de documentos perdidos nas enchentes.
"A Acnur também tem um grupo com mais de 50 organizações comunitárias lideradas por refugiados — como a Associação de Haitianos no Rio Grande do Sul. Essas organizações começaram a receber pedidos de apoio e oferta de solidariedade. Estamos mapeando os abrigos", explicou Silvia.
A chegada das unidades residenciais provisórias — comuns em campos de refugiados no mundo inteiro — indica a preocupação das Nações Unidas com a duração da crise humanitária gaúcha. Após as águas baixarem, haverá um longo período de reconstrução. Prefeitos já falam em mudar bairros inteiros de lugar. E os abrigos públicos que estão recebendo desalojados funcionam de forma improvisada, sem estrutura para longas permanências. Por isso, a Acnur quer providenciar locais com infraestrutura para acolher as pessoas por vários meses, se for necessário.
A Acnur ainda negocia com as prefeituras e com o governo gaúcho um local para montar a "cidade dos deslocados". Como cada habitação temporária pode receber até duas famílias de quatro pessoas, o complexo poderá abrigar uma população de cerca de 800 refugiados por um período mais longo.
Outra medida, essa voltada para a segurança dos estrangeiros, é a possibilidade de organizar abrigos exclusivos para essas populações, que sofrem racismo e xenofobia. A agência da ONU está mapeando os locais onde essas violações estão acontecendo para ter uma dimensão do problema.
"Xenofobia, racismo e outras discriminações têm gerado conflito nos abrigos. À medida em que esses espaços seguem de forma improvisada, riscos de violação tendem a aumentar", lamentou Silvia.
Discriminação
Brasília recebe, entre hoje e amanhã, representantes dos países latino-americanoS para a Segunda Consulta Temática do processo de Cartagena 40 — mecanismo consultivo sobre a questão dos refugiados no continente. As Nações Unidas identificaram, nos últimos anos, um movimento sem precedentes de deslocamento de pessoas na América Latina — são 23 milhões de pessoas que deixaram suas cidades de origem e 973 mil com status de refugiados. Os principais responsáveis por esse fenômeno na América do Sul são Venezuela, Colômbia e Equador.
Para o chefe de Relações Externas da Acnur nas Américas, Juan Carlos Murillo, a xenofobia e o racismo são os maiores problemas para os migrantes. "Infelizmente, a reação das pessoas (aos estrangeiros) tem mais a ver com a cor da pele. É uma situação perversa com os migrantes, que acabam sendo bodes expiatórios de outros problemas da sociedade", lamenta.
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