Durante as tempestades que colocaram grande parte do estado do Rio Grande do Sul debaixo d'água, o nível do lago Guaíba, que banha a região metropolitana de Porto Alegre, recebeu cerca de 30 milhões de litros de água entre 5 e 6 de maio. A informação é do Programa de Gestão Ambiental Portuária do Porto de Porto Alegre, em convênio entre a Portos RS e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para entender a magnitude da quantidade de água, o professor Elírio Toldo, docente do Instituto de Geociências (IGEO) da UFRGS, exemplifica, em comparação com o valor histórico de vazão registrado pelas Cataratas do Iguaçu em 2023, de 24 milhões de litros d'água por segundo, que a vazão do Guaíba, em dois dias, superou a marca. “O que chama a atenção é o volume de água na queda nas Cataratas, e o fato de o Guaíba superar mesmo não tendo desnível”, afirma.
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“As velocidades das correntes medidas nos dias 5 e 6 excederam a 4 m/s, e são tão expressivas que equivalem às velocidades máximas já registradas no Rio Amazonas”, acrescenta.
Para o registro das vazões do desastre climático sobre a extensa Bacia Hidrográfica do Guaíba, foram realizadas medições pontuais nos locais onde ocorre a concentração do escoamento superficial dos afluentes dependentes Jacuí-Taquari, Sinos, Caí e Gravataí, que seguem caminho e desembocam na Ponta de Itapuã.
Cheia duradoura
De acordo com dados atualizados do nível d’água no Guaíba divulgado às 12h desta sexta-feira (10/5) pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), a previsão é de que o cenário reafirme uma cheia duradoura. O volume do lago segue em torno de 4,73m, comportamento conforme as previsões anteriores.
Em 5 de maio, o nível do Guaíba alcançou a marca de 5,27 metros, ultrapassando a média histórica registrada em 1941, de 4,76m. Desde a data, o lago apresentou uma recessão lenta.
“As principais preocupações seguem sendo a duração dos níveis elevados e as possibilidades de repiques em função de novas chuvas ou efeito do vento”, reforça o instituto.
Na análise do professor do IPH-UFRGS, Fernando Dornelles, a região está em um prenúncio de repico. “Vínhamos com uma queda gradual do nível da água, mas contando com essas precipitações que já estão ocorrendo na parte alta da bacia, que contribui para o Guaíba”, afirma.
“Temos previsões bem consolidadas de que vai aumentar principalmente pela atuação do vento Sul, que vai trazer uma entrada de frente fria na segunda-feira (13). Isso tem um efeito de elevação rápida do nível em função do vento”, explica Dornelles.
Em relação à diminuição do nível da água, ainda é incerto afirmar um período fechado para que a situação se normalize, segundo a análise. “Na enchente de 1941, levou cerca de 20 dias para sair do pico, de 4,75m, para baixar da cota de 3m, medição em que se avalia se pode ou não abrir o sistema de proteção — que não protegeu nada”, argumenta o docente.
Previsão para os próximos dias
A previsão do IPH para as próximas 24 horas se configura com chuva forte, podendo alcançar valores de 50 mm até 100 mm em algumas localidades. Já para os próximos três dias, é possível que o nível pluviométrico supere 200 mm em alguns pontos.
Com a possibilidade de grande chuva, o instituto reforça a possibilidade do nível das águas das enchentes retornar a marca dos 5m. “Caso o vento sul forte se confirme, pode causar elevação adicional podendo ser maior que 20 cm. Caso as chuvas volumosas não se confirmem, há tendência de redução gradual atingindo a marca de 4 m na próxima semana”, acrescenta o órgão.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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