A tragédia ambiental que já deixou 95 mortos no Rio Grande do Sul caminha para atingir uma nova região do estado. Com grandes estragos já ocorridos nas regiões central, da serra e metropolitana, o alto volume de água do Guaíba deve castigar o sul do estado — principalmente, as cidades de Pelotas e de Rio Grande, onde está o mais importante porto gaúcho.
"O alerta, agora, é para a região sul do estado, da Lagoa dos Patos. Essa água que está causando todo esse transtorno na região metropolitana da capital vai descendo pela Lagoa dos Patos, depois que sair do Guaíba. E a depender da direção do vento, vai escoar mais rapidamente ou mais lentamente. Mesmo assim, vai subir muito o nível da lagoa e trazer muitos transtornos nos municípios da região da Costa Doce", alertou o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB).
- Vídeo: Moradores do DF fazem fila para entregar doações para o RS
- Conteúdos falsos atrapalham ações e geram pânico sobre tragédia no RS
De acordo com ele, assim como a enchente na capital gaúcha superou a marca histórica de 1941, a maior até então, os reflexos na Lagoa dos Patos devem também bater recorde. "Fiz reunião com os prefeitos do sul (do estado), expedimos alertas, me reuni com eles para dar noção da criticidade e urgência deste momento. A região sul já está sofrendo as consequências e isso tende a se agravar, principalmente, amanhã (hoje)", declarou o governador, que é pelotense.
A Lagoa dos Patos está a cerca de 118 quilômetros do Guaíba e é para onde escoa todo acúmulo de água dos últimos dias na capital gaúcha. Com o marco histórico de 5,30m de profundidade, a tendência para os próximos dias é que o nível do Lago Guaíba baixe enquanto o da lagoa suba.
O impacto deve ser sentido diretamente na Praia do Laranjal, à beira da lagoa. A prefeitura de Pelotas, à qual o distrito faz parte, emitiu, ontem, um alerta de evacuação para toda a população do arroio, bem como a de outros balneários populares, como São Gonçalo, Valverde e Pontal da Barra.
"A previsão é que esta enchente repita a projeção de 1941, com um pouco mais de gravidade. É importante dizer também que, na época, não tínhamos nenhum sistema contra cheias, mas estamos trabalhando como se não houvesse essa contenção", explicou a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), do mesmo partido do governador.
Pelotas é a quarta cidade mais populosa do estado, com 328 mil habitantes. A previsão é que os reflexos da cheia atinjam diretamente um terço dos moradores do município, em diversos bairros e distritos. O nível da Lagoa dos Patos pode subir em até 40cm. Para tentar conter o avanço desse fluxo de água nos bairros, barricadas de sacos de areia estão sendo montadas em vários pontos da área urbana.
Minuano
Também em alerta está o município de Rio Grande, no litoral sul, ponto onde a lagoa desemboca no Oceano Atlântico. Ontem, o mar já havia avançado o Prédio da Alfândega, no centro da cidade, que está a um quarteirão da orla. Ao menos 20 ruas foram bloqueadas pelas chuvas e, assim como em Pelotas, as aulas na rede municipal foram canceladas.
Apesar da previsão de enchente, o Porto de Rio Grande opera normalmente, de acordo com nota da Portos RS. "A correnteza ao longo de toda a tarde (de ontem) seguiu de vazante, ou seja, contribuindo para o escoamento das águas em direção ao Oceano Atlântico", informou a autoridade portuária gaúcha. O terminal é considerado o segundo mais importante para o desenvolvimento do comércio internacional brasileiro, por causa da localização geográfica privilegiada. É por lá que o estado escoa grande parte da sua produção agrícola.
A previsão do tempo também não está favorável para a região. Para hoje, estão previstas chuvas em todo estado, com temperaturas amenas. Amanhã não há previsão de precipitação, mas a temperatura deve cair, com mínima entre 5ºC e 11ºC. De acordo com o MetSul Meteorologia, há ainda o agravante de que o Vento Sul, conhecido pelos gaúchos como Minuano, deve represar as águas do Guaíba na Lagoa dos Patos e gerar maior elevação do nível da água, que já está em patamar crítico.