tragédia no sul

Um mês de dores e muita luta no Rio Grande do Sul

Desde 29 de abril, com a subida das águas e o início da destruição, país se uniu pela ajuda e pela recuperação do estado. Mas cálculo das perdas ainda é subestimado

 A car is partially submerged in a flooded street in the Sarandi neighborhood, one of the hardest hit by the heavy rains in Porto Alegre, Rio Grande do Sul state, Brazil, on May 27, 2024. Cities and rural areas alike in Rio Grande do Sul have been hit for weeks by an unprecedented climate disaster of torrential rains and deadly flooding. More than half a million people have fled their homes, and authorities have been unable to fully assess the extent of the damage. (Photo by Anselmo Cunha / AFP)
      Caption  -  (crédito:  ANSELMO CUNHA/AFP)
A car is partially submerged in a flooded street in the Sarandi neighborhood, one of the hardest hit by the heavy rains in Porto Alegre, Rio Grande do Sul state, Brazil, on May 27, 2024. Cities and rural areas alike in Rio Grande do Sul have been hit for weeks by an unprecedented climate disaster of torrential rains and deadly flooding. More than half a million people have fled their homes, and authorities have been unable to fully assess the extent of the damage. (Photo by Anselmo Cunha / AFP) Caption - (crédito: ANSELMO CUNHA/AFP)

A tragédia do Rio Grande do Sul está completa mês e potencializa o trauma de um estado que nem sequer tinha se recuperado das cheias de setembro de 2023. Apesar do investimento maciço feito pelo governo federal — que inclui pacotes e ajuda financeira e liberação de crédito ao estado, aos municípios e aos setores da economia, além da inclusão de um percentual expressivo da população em programas de benefícios — para amenizar o drama, os cálculos das perdas e o gasto da reconstrução ainda é considerado subestimado.

Quando o governador Eduardo Leite, em 4 de maio, disse que o Rio Grande do Sul precisaria de um Plano Marshall — a ajuda financeira que os Estados Unidos deram aos países do oeste europeu, após a II Guerra Mundial, e que atualmente equivaleria a US$ 132 bilhões —, já ali não parecia exagero. Cálculos de fontes do governo gaúcho estimam que será preciso investir algo em torno de R$ 200 bilhões para levantar o estado. Mas somente à medida que as águas forem baixando é que esse custo poderá ser avaliado com maior precisão.

Atividade paralisada

A chuva forte começou em 27 de abril, mas somente no dia 29 é que se percebeu que tratava-se de um fenômeno até então inédito — tal a violência da precipitação pluviométrica. As principais áreas afetadas são o lago Guaíba, em Porto Alegre, a Lagoa dos Patos, em Pelotas e Rio Grande, além dos vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí. Os níveis das águas subiram rapidamente — e tudo que estava no caminho do transbordamento foi levado junto.

Apenas na economia, cálculo conjunto das áreas técnicas da Federasul (Federação de Entidades Empresariais), do Sistema Fecomércio-RS, da Farsul (Federação da Agricultura), da Federasul (Federação de Entidades Empresariais), da Fiergs (Federação das Indústrias) e da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) de Porto Alegre avalia que as perdas de atividades no estado somam R$ 40 bilhões — por baixo. Os prejuízos patrimoniais estão em aproximadamente R$ 10 bilhões e afetam cerca de 66 mil estabelecimentos dos setores de comércio, serviços e indústria. Além disso, a projeção de perdas das entidades é de R$ 5 bilhões em ativos — estoques, máquinas e equipamentos, por exemplo. (Veja este e outros dados no infográfico ao lado).

Arrecadação

A arrecadação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) também foi severamente afetada pela tragédia. De acordo com o Boletim Econômico-Tributário do Governo do Rio Grande do Sul, 44 mil estabelecimentos estão nas áreas inundadas — o equivalente a 16% dos 278 mil estabelecimentos em todo o estado. E isso já pode ser percebido: a previsão inicial de arrecadação do tributo, para o período de 1º e 23 de maio, era de R$ 3,02 bilhões, mas entraram nos cofres gaúchos R$ 2,34 bilhões.

Por conta disso, os municípios só veem a cota da devastação aumentar. Segundo o último balanço dos prejuízos feto pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), as perdas estão avaliadas parcialmente em R$ 11 bilhões. A entidade ainda calcula um rombo de R$ 4,6 bilhões no setor habitacional, com mais quase 110 mil casas abaladas, 100 mil danificadas e 9,2 mil destruídas.

Segundo a CNM, os equipamentos públicos — como calçamento, asfaltamento de ruas e avenidas, viadutos e sistema de drenagem urbana — destruídos em todo o estado somam R$ 1,7 bilhão em prejuízos. Já os danos materiais (escolas, hospitais, prédios de serviços públicos e instalações de uso comunitário) estão orçados, por ora, em R$ 431,2 milhões. A destruição do sistema de transporte está avaliada em R$ 106,8 milhões.

Principal setor da economia gaúcha, a agricultura estima R$ 3,1 bilhões em perdas. A pecuária, por sua vez, orçou o prejuízo em R$ 272,4 milhões, enquanto que indústria, comércios locais e serviços amargam um vermelho de R$ 486,5 milhões.

BRA-Ajuda Rio Grande do Sul
BRA-Ajuda Rio Grande do Sul (foto: Valdo Virgo)

Micro e pequenas empresas receberam linha de crédito de R$ 30 bilhões pelo Fundo Garantidor de Crédito. Para a agricultura familiar e os médios produtores foi aberto um aval de R$ 4 bilhões. Além disso, o governo federal determinou a postergação do pagamento da dívida do estado e a suspensão de juros por três anos.

Bancos públicos — Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa, Banco do Brasil e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) — suspenderam por 12 meses o pagamento de financiamentos.

Ação voluntária

A tragédia gaúcha mobilizou todo o país e, em um primeiro momento, voluntários dos quatro cantos do Brasil deram sua contribuição para amenizar o drama da população. Afinal, cerca de 83 mil pessoas foram afetadas e 14 mil animais resgatados das áreas mais atingidas. Ao território gaúcho chegaram aproximadamente 7,7 mil toneladas de doações. Meia centena de aeronaves foi mobilizada e as operações de resgate e de restabelecimento de serviços consumiram mais de 2,4 mil horas de voo.

O governo federal incluiu 21,7 mil famílias no programa Bolsa Família — um desembolso de R$ 16 milhões. O primeiro lote do auxílio reconstrução destinou R$ 174 milhões para 34.196 famílias. Mais de 6,6 mil trabalhadores afetados pelas cheias receberam duas parcelas extras do seguro-desemprego — um investimento de R$ 11 milhões.

A liberação do saque calamidade do FGTS beneficiou 228,5 mil trabalhadores, em 368 municípios. Doze hospitais de campanha foram instalados e atendem aproximadamente 14 mil pessoas — a Força Nacional de Saúde realizou mais de 6 mil atendimentos emergenciais. Também foram distribuídos 8 milhões em medicamentos e insumos.

Já o programa Minha Casa Minha Vida suspendeu o pagamento de financiamento para 17,4 mil famílias por até seis meses.

*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 30/05/2024 03:55
x