Capão da Canoa (RS) — Apesar de muitas residências seguirem sem água e energia, as escolas de Porto Alegre retomaram as aulas nessa segunda-feira (20/5). A falta de infraestrutura na região metropolitana tem sido um dos motivos que mantêm muitos moradores afetados pelas enchentes ainda longe de casa.
“Agora, o síndico do meu prédio diz que não tem como a gente entrar porque não tem água, luz, gás. E também ainda tem água no entorno. A previsão de volta é mês que vem, em junho, mas não sei quando. Enquanto isso, a gente está aqui. Estamos pegando doação de comida e de higiene porque depois, quando voltarmos, não tem nada em casa”, contou ao Correio a gaúcha Sandra da Rocha, 65 anos.
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Moradora do bairro Humaitá, um dos mais atingidos pela cheia do Guaíba em Porto Alegre, a aposentada buscou refúgio na casa de uma amiga em Capão da Canoa, litoral do RS. Ela saiu de casa no dia 3 de maio “só com a roupa do corpo”, junto com o filho, quando a água ainda não tinha inundado o primeiro andar do prédio em que vivia.
O mesmo ocorreu com a amiga, Iolanda Espíndola Sarmento, 73 anos.
“Não tenho previsão para voltar. Só quando tiver luz, água e gás, porque eles desligaram tudo. Mas estou tentando ficar tranquila”, disse Iolanda, que está abrigada na casa da nora, junto com o filho, também na cidade litorânea. A Prefeitura de Capão da Canoa estima mais de 100 mil pessoas no município, que fugiram da inundação na região metropolitana.
Iolanda disse que demorou a sair de casa porque estava abrigando vizinhos dos primeiros andares, já que ela mora no terceiro. “Acolhi mais 15 pessoas no meu apartamento. Eles iam fazer as refeições no meu apartamento porque eu ainda tinha gás. Eu fazia comida para todos, fazíamos reunião para decidir se íamos sair ou não. Aí, a gente decidiu sair todos juntos no mesmo barco. Fomos resgatados saindo de dentro do prédio em um colchão de ar”, lembrou. “Estava insalubre, não tinha luz, nem água. Já estava colocando água da enchente no vaso sanitário porque eram muitas pessoas usando o banheiro”, emendou.
As duas amigas estão há cerca de 10 dias longe de casa e conversaram com a reportagem enquanto esperavam para receber doação de alimentos e material de limpeza no ginásio de Capão da Canoa. No local, ambas passam também por tratamento psicológico, por ainda estarem muito abaladas pela tragédia. Sandra relatou, inclusive, crises de pânico e vontade de se mudar em definitivo da região onde viveu por 30 anos. Já Iolanda frisou: "Tudo o que eu mais quero é voltar para casa".
Ao todo, estima-se que 180 mil lares gaúchos estão sem energia elétrica, de acordo com dados das distribuidoras de energia CEE Equatorial e RGE. A região mais afetada é a metropolitana. O desafio, segundo as empresas, é a mobilidade nas estradas extremamente danificadas pelos temporais.
Além disso, cerca de 40 mil lares estão sem água, de acordo com a Corsan, responsável pelo abastecimento no estado.
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