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Ambientalista defende princípio para prevenir desastres: "Trabalhar com a natureza"

CEO da Nature Invest sugere aplicação do conceito de "Cidades Esponja" para prevenção de desastres como o que assola a população do Rio Grande do Sul desde o começo do mês

 Podcast do Correio Braziliense. Michael Becker, presidente do Nature Invest -  (crédito:  Sara Campos/Agencia Cajuí)
Podcast do Correio Braziliense. Michael Becker, presidente do Nature Invest - (crédito: Sara Campos/Agencia Cajuí)

Mestre em engenharia ambiental pela Universidade Técnica de Cottbus, na Alemanha, com ênfase em economia ambiental e gestão de recursos hídricos, Michael Becker acredita que trabalhar junto à natureza é o princípio básico do qual é preciso partir para se pensar na prevenção de desastres ambientais extremos, como a enchente que assola o Rio Grande do Sul. Durante o Podcast do Correio desta sexta-feira (17/5), o CEO da Nature Invest disse que o planejamento das cidades não pode continuar sendo feito como era no passado, mas sim visando “reduzir riscos ao máximo”.

“Tem a parte de manutenção e todas essas questões de infraestrutura básica, mas eu acho que a gente não pode continuar a planejar as cidades como a gente planejava no passado porque, no passado, a gente não tinha esses eventos extremos e agora nós temos. Assim, eu acho que a gente tem que trabalhar com a natureza para tentar minimizar essas catástrofes ao máximo.

Becker sugeriu a aplicação do conceito de “cidade esponja” como uma alternativa para o planejamento de cidades visando a prevenção de inundações. Em entrevista com as jornalistas Fernanda Strickland e Rafaela Gonçalves, o engenheiro ambiental explicou o funcionamento da estratégia, já utilizada em cidades chinesas, em que o solo e a infraestrutura são trabalhados para absorver um grande volume de água e, além disso, direcionar os maiores fluxos para longe das regiões de maior vulnerabilidade.

“A ideia é deixar, por assim dizer, a água ‘invadir’ a cidade, mas essa invasão acontece de maneira muito mais controlada. Ou seja, tem-se áreas definidas na cidade que podem ser invadidas, onde não existem habitações, onde a água pode se expandir, e expandindo naquelas regiões, você tira a água, por exemplo, do centro. Então o centro, onde tem aquela infraestrutura, não é atingido porque a água pode expandir para outras regiões. Isso está planejado dentro das Cidades Esponja, e isso sem dúvida é um conceito muito importante que a gente pode aplicar para as cidades do RS, inclusive a própria Porto Alegre”, argumentou.

Para o CEO da Nature Invest, a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul é um dentre tantos fenômenos climáticos extremos que têm ocorrido ao redor do planeta nos últimos anos, decorrentes das mudanças climáticas recentes. Mais especificamente, ele cita alguns fatores recentes que, em conjunto, teriam resultado nas inundações em território gaúcho.

“A gente teve o El Niño, que configurou uma zona de alta pressão no cerrado, onde a gente está agora, em Brasília. Mas também tivemos a influência de uma frente fria e, depois, mais os jatos de ares bastante úmidos vindos da Amazônia. Esses elementos e essa combinação fez com que exatamente houvesse uma uma precipitação, uma chuva muito forte, ou seja, uma chuva com grandes volumes, em curto espaço de tempo, concentrados naquela região de serra. E o relevo também é mais um elemento que contribuiu para as inundações naquela região de Porto Alegre, então é realmente uma combinação de fatores”, explicou.

Com um histórico de trabalhos focados no cerrado, Becker demonstrou preocupação com o que chamou de “afrouxamento” das legislações ambientais que regem o bioma. Para o engenheiro ambiental, o cerrado poderá ser negativamente impactado por legislações que, por exemplo, resultem no aumento do uso de agrotóxicos. As legislações que tendem a flexibilizar o licenciamento ambiental e a autodeclaração da posse de terras também são vistas pelo CEO da Nature Invest como um enfraquecimento do Código Florestal.

“Essas questões impactam também a questão da posse da terra, que também está em discussão, ou seja, no afrouxamento dessa legislação e que a gente possa, com isso, liberar mais ainda as questões que estavam relacionadas ao Código Florestal. Então eu acho que esse enfraquecimento do Código Florestal, colocando essas outras leis agora em debate, é muito ruim, muito prejudicial, realmente, ao Cerrado. Eu acho que as leis (vigentes) estão boas, foram bem debatidas e desejo que aqueles que estão no agronegócio e fazendo a coisa certa realmente tenham uma voz forte também no Congresso e no Legislativo dos estados”, disse.

Nature Invest

Empresa da qual Becker é CEO, a Nature Invest funciona em sistema de crowdfunding — financiamento coletivo por vaquinha eletrônica. A plataforma possibilita e incentiva que membros da população e pequenas empresas publiquem ideias de projetos ambientais de pequeno e médio porte que sejam possibilitados por meio do financiamento coletivo. Segundo o CEO, a Nature Invest visa fomentar o senso de comunidade e democratizar a conservação ambiental.

“Você, como pessoa física, vai lá, cadastra o seu projeto, a gente lê. Não é assim também uma coisa muito criteriosa, não é preciso um doutorado, um mestrado, nada tão complicado. A gente tá realmente aí para fomentar esses projetos e, sem dúvida, a praça pode ser construída, pode ser melhorada no sentido ambiental, podem ser plantadas mudas lá e você pode até eventualmente falar pro bar que está eventualmente compartilhando a praça lá doar uns R$200 para o seu projeto. Então eu acho que a gente gostaria muito de fomentar esse senso também de comunidade, para que aí depois esse meio ambiente também urbano ou rural seja melhorado”, explicou.

Assista a entrevista completa

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

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postado em 17/05/2024 21:28
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