A tragédia climática no Rio do Grande do Sul afeta 388 municípios gaúchos. Além disso, 80 comunidades e territórios indígenas foram diretamente impactadas, o que representa mais de 8 mil famílias. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os povos Guarani Mbya, Kaingang, Xokleng e Charrua, espalhadas em 49 municípios do estado, precisaram deixar suas casas para se deslocar para áreas mais elevadas, por causa do risco de alagamento e deslizamento de terra.
No último domingo (5/5), a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, esteve na aldeia Polidoro, em Porto Alegre, onde vivem indígenas Charrua. Acompanhada da Coordenação Técnica Local (CTL) da Funai, Joenia ouviu relatos sobre os impactos das chuvas na comunidade. Segundo a cacica Acuab, há escassez de água potável. Além disso, existe a preocupação de que os próximos temporais levem os telhados das casas.
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"A Funai está realizando um levantamento das comunidades atingidas com o objetivo de articular políticas públicas, por meio de planos de ação do governo federal e dos municípios, que incluam os povos indígenas", disse Joenia.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) destacou que as aldeias foram devastadas e as comunidades estão em situação de extrema vulnerabilidade. "A crise climática tem afetado a todos, nós povos indígenas do Brasil temos lutado e alertado constantemente sobre essa emergência. As consequências dessas catástrofes afetam os mais vulneráveis, aldeias e comunidades indígenas vítimas do racismo ambiental estão entre as vítimas", diz a entidade.
Além disso, o Cimi e a Apib afirmaram que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) destruiu casas na aldeia Pekuruty, sem qualquer consulta ou justificativa. Segundo Roberto Liegbott, missionário do Cimi Regional Sul, “essa comunidade foi removida para que o DNIT pudesse consertar uma tubulação que passa ali e eles acabaram destruindo toda a comunidade indígena. Eles arrancaram as casas dos indígenas sem que os Guarani sequer soubessem ou tivessem sido comunicados. Os indígenas no momento encontram-se em um abrigo, mas quando retornarem, a comunidade já não existirá mais, porque o DNIT destruiu tudo”.
"A destruição do acampamento guarani Pekuruty em meio à extrema situação de vulnerabilidade vivida pela comunidade, que segue abrigada de maneira provisória e emergencial sem acesso, no momento, ao local da aldeia, é um disparate que denota a atuação discriminatória em relação aos povos indígenas no Rio Grande do Sul", emenda a Apib.
Em nota enviada ao Correio, O DNIT afirmou que está atuando ativamente em todas as regiões do Rio Grande do Sul, inclusive na BR-290/RS, em Eldorado do Sul, nas proximidades da comunidade indígena Mbyá-Guarani, e que concluiu os serviços no km 132 da BR-290/RS na noite de segunda-feira (6/5).
"A autarquia reitera o compromisso com a preservação da vida e recuperação imediata da infraestrutura. Vale destacar que a ação emergencial implantou um novo sistema de drenagem com quatro galerias pluviais em concreto e recomposição da pista. O trabalho de urgência visa ao restabelecimento de um corredor logístico para garantir o abastecimento, as operações do sistema de saúde e demais necessidades das regiões central e fronteira Oeste do RS", disse o DNIT.
Como ajudar?
As organizações indígenas pedem apoio e doação de alimentos, material de higiene e limpeza, lonas, telhas, colchões e cobertores para as comunidades. As doações podem ser feitas na Paróquia Menino Jesus de Praga, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para quem está longe do estado, o Cimi Regional Sul, a ArpinSul e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também disponibilizaram uma conta bancária para receber doações financeiras.
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