Chuvas no RS

Rio Guaíba bate recorde de inundação, transborda e invade Porto Alegre

Nível das águas ultrapassa marca histórica de 1941 e prefeito pede evacuação do centro. Número de mortes chega a 39 no estado

Há três dias, os governos estadual e municipal trabalham para tentar conter o avanço das águas sobre o centro da cidade -  (crédito:  AFP)
Há três dias, os governos estadual e municipal trabalham para tentar conter o avanço das águas sobre o centro da cidade - (crédito: AFP)

Porto Alegre vive a pior enchente já vista na história da capital. Em medição feita ontem à noite, o Lago Guaíba alcançou nível de 4,77 metros, superando o recorde da inundação de 1941, que registrou 4,76m e atingiu grande parte da cidade. Os especialistas preveem que o lago pode ultrapassar a marca de 5m ainda hoje.

O Guaíba recebe as águas de rios que também apresentam níveis jamais vistos. O volume de chuvas passou de 500mm em muitos municípios. O lago também recebe água da Barragem 14 de Julho, em Cotiporã, que rompeu na quinta-feira e elevou em cerca de 6m a profundidade dos rios Taquari e das Antas.

Há três dias, os governos estadual e municipal trabalham para tentar conter o avanço das águas sobre o centro da cidade. “O sistema de proteção está sendo estressado, posto à prova por conta de um volume muito grande e persistente de água. A gente trabalha com todas as ferramentas. Tudo feito para que as estruturas resistam, mas não há como garantir que não haja, em algum momento, algum tipo de ruptura. Isso pode causar uma onda arrastando pessoas, ferindo, machucando e até colocando em risco a vida”, disse o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB).

Até o fechamento desta edição, 39 pessoas haviam morrido, 68 estavam desaparecidas e mais de 30 mil tiveram que deixar suas casas no Rio Grande do Sul. Os temporais avançaram sobre Santa Catarina — onde uma pessoa morreu, em Ipira — e Paraná — com duas mortes, em Bela Vista da Caroba.

A região central do Rio Grande do Sul foi a primeira a ser afetada drasticamente. Depois, a Serra e, agora, a enchente chegou à capital gaúcha. Desde 1941, após a cheia histórica, um sistema com 14 comportas e muros de 3 metros de altura protegem o centro metropolitano das águas do Guaíba. A contenção, no entanto, suporta elevação do nível de água em até 6m, o que está muito próximo de acontecer. A atualização do nível do lago é feita por medição manual, no Cais Mauá, depois que o sistema automático e on-line do governo do estado parou de funcionar, na manhã de ontem.

Ontem, uma das barreiras se rompeu, acarretando uma grande inundação no centro da cidade, uma das regiões mais movimentadas de Porto Alegre. A prefeitura e a Defesa Civil recomendaram a evacuação da região próxima à comporta rompida. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), afirmou que há problemas de vazamento em outras comportas e, por isso, a decisão de evacuação foi tomada.

Moradores em alerta

O consultor financeiro Felipe Santos, 31 anos, mora perto da Usina do Gasômetro, na margem do Guaíba, e teme ficar ilhado nos próximos dias e não ter acesso a itens básicos. “Penso muito em como vai ser a situação de abastecimento nos próximos dias, acho que vai ser muito comprometida porque a malha rodoviária do estado está praticamente destruída. Por sorte, eu estou com mantimentos em casa, luz não faltou, mas a água vai faltar, possivelmente, hoje (ontem). O panorama para os próximos dois dias é de muita tensão”, lamenta o gaúcho.

O fotógrafo Francisco Santana, 34, também mora na região e diz que está se locomovendo de bicicleta, pois não consegue usar com o automóvel. Segundo ele, nos mercados, as pessoas temem a falta de mantimentos. “As pessoas estão com os carrinhos lotados de água, papel higiênico, bolacha, parecia que ia acabar o mundo”, afirma.

Tricolor, o gaúcho também lamentou a inundação dos centros de treinamento do Internacional e Grêmio. Ele também está preocupado com amigos que moram no interior. “Tem pessoas nos grupos de WhatsApp que não responderam mensagens ainda. A gente não sabe se eles perderam o celular, se estão sem Internet. Prefiro pensar no óbvio, que estão sem Internet ou sem luz para carregar o celular”, conta.

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postado em 04/05/2024 05:00
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