Preferência nacional

Café: bebida que é paixão mundial tem evolução em ritmo acelerado

Da lavoura aos drinques, bebida mostra desenvoltura e obtém bons avanços no quesito sustentabilidade

Carlos Alberto e Laize Coutinho, cafeicultores do Lago Oeste: Minelis é o primeiro premiado fora do DF -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Carlos Alberto e Laize Coutinho, cafeicultores do Lago Oeste: Minelis é o primeiro premiado fora do DF - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Formalmente, o Dia Mundial do Café foi definido como 14 de abril. Mas, no cotidiano dos brasileiros, todo dia é dia de apreciar a bebida escura. Coado ou solúvel, quente ou gelado, com ou sem açúcar, na xícara ou até no copo americano, café é sinônimo de tradição no Brasil. Afinal, somos o maior produtor mundial e segundo mercado consumidor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Mas o grão também tem forte poder transformador e capacidade de se adaptar aos novos tempos. O café mudou completamente a vida do casal Carlos Alberto e Laize Coutinho, um dos maiores produtores do Distrito Federal. Instalados no Lago Oeste, região rural de Sobradinho, eles relataram ao Correio a estruturação do Café Minelis e a introdução da família ao mercado cafeeiro. Os Coutinho são testemunhas de como o café está plenamente sintonizado com conceitos modernos, como sustentabilidade e mercado gourmet.

"A gente escolheu o café por um acaso, depois que fomos nos apaixonar por esse grão. É muito gratificante ver, tornou-se amor. Não sabíamos de nada. Quando começamos a participar foi tão bom, aprendemos bastante", afirma Laize. A decisão de torrar e vender café veio de um incentivo familiar.

A fama do café brasiliense ultrapassou os limites do DF e alcançou repercussão internacional. Em 2019, os grãos produzidos na fazenda Novo Horizonte alcançaram o posto de uma das três melhores do país no 28º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso. A premiação ocorreu em São Paulo e consagrou o Café Minelis como o primeiro do Centro-Oeste a atingir o pódio.

Como ressalta o produtor, a qualidade do grão influencia muito os compradores. Quando se trata de café, os consumidores buscam não apenas uma bebida para saciar sua sede, mas uma experiência sensorial completa que envolva sabor, aroma e textura. "O café é uma combinação de sabor e aroma. Se você moer o café e deixar aberto por dez minutos, o aroma vai embora", explica Carlos Alberto.

Ainda assim, há desafios nesse processo, como as variações de safra, os impactos climáticos — e a mão de obra. "O maior desafio do mercado de café é a mão de obra. Os pequenos produtores, quando chegam na colheita, precisam de gente para colher. O café, assim como todas as culturas, têm ciclos de altas e baixas. Porém, no caso da soja, milho e algodão, é mais fácil porque é uma cultura anual. Já o café leva três ou quatro anos para subir de novo", conclui Carlos Alberto.

Aumento na safra

No primeiro levantamento de 2024, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já projetava um incremento de 5,5% na produção brasileira de café para a safra atual, em relação ao ano passado, com um volume total de 58,08 milhões de sacas. Além do aumento no volume de produção, as variedades do grão acumulam valorização no mercado internacional, o que fez com que as exportações brasileiras atingissem US$ 9,2 bilhões no ano passado.

"A área brasileira do café se mantém estável e tem sido compensada no ganho de produção, em função do pacote tecnológico que tem avançado no campo agrícola brasileiro, de um modo geral, o que é muito importante para a nossa economia", ressalta o diretor-presidente do órgão, Edegar Pretto.

Desde 2016, pesquisadores estudam e implementam novas cultivares do café arábica — o mais produzido no país — com o objetivo de difundir novas variedades de café que sejam resistentes a pragas e doenças. Além disso, o intuito é transferir novas tecnologias para o produtor, que garantam a implementação de boas práticas de manejo das lavouras.

André Dominghetti, pesquisador da Embrapa Café, estima que, em oito anos, o projeto já alcançou um resultado significativo na avaliação dos pesquisadores. Ao todo, foram implementados 12 cultivares em 22 propriedades localizadas em diferentes partes do território mineiro.

Os primeiros resultados do estudo estão sendo divulgados neste semestre de 2024, com as previsões de colheitas apresentando produtividade acima da média nacional de 26,7 sacas/ha, segundo a Conab. "Então, nós fizemos todo esse trabalho, essa estratificação, e chegamos assim nas melhores cultivares, que apresentaram melhores respostas para essas várias condições, tanto de altitude quanto de irrigada ou de sequeiro", conta André Dominghetti.

O mercado cafeeiro também caminha para a sustentabilidade. No dia 2 de abril, foi lançado o Projeto Cafeicultura Brasileira Sustentável. Trata-se de uma iniciativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para garantir uma compensação de crédito de carbono e seguro rural aos produtores empenhados que diminuírem a emissão de poluentes nas lavouras.

Para o Conselho Nacional do Café (CNC), favorável ao projeto sustentável, a ideia é promover maior resiliência à cafeicultura brasileira, com a compensação de crédito de carbono no pagamento da apólice de seguro rural. Diante disso, a entidade destaca que a ação envolveria um engajamento tanto do ministério quanto das cooperativas, associações e entidades, em promover práticas sustentáveis na agricultura.

O presidente da CNC, Silas Brasileiro, ressalta o esforço para que o Brasil seja considerado um dos países com a melhor regulamentação de emissões. "Para mostrarmos ao mercado consumidor números confiáveis, precisamos de metodologias acreditadas por instituições sérias. Vemos nos parceiros desse programa essa riqueza de conhecimento. Estamos certos de que será um grande diferencial para a cafeicultura brasileira", ressaltou.

Seja na cidade, seja na lavoura, a relação entre o brasileiro e o café permanece sólida, duradoura, íntima. Para o gestor de tráfego Ayron Aquino, 36 anos, o vínculo com a bebida vai além do hábito matinal. Mais do que proporcionar um prazer gustativo, a bebida é um catalisador de conexões e oportunidades. "O café tem me ajudado a conhecer pessoas, acessar novos lugares e graças aos encontros e network em cafeterias, ele tem me feito prosperar", diz.

Ele descreve sua rotina matinal de apreciação da bebida como um momento sagrado, quando ele fica sob a árvore em frente à sua casa para saborear uma xícara de café fresco, moído na hora e feito no método coado, consumindo uma média de quatro xícaras diárias. "Café é vida. Um nordestino sem café, fica só o 'nor', perde o destino completamente", brinca Aquino, fazendo trocadilho com sua origem.

Já a barista Rayane Silva, 37, iniciou a carreira relutante em seguir centrada no café, mas acabou se apaixonando pelo mundo complexo e diversificado da bebida. "Eu dizia que não quero seguir nessa vida de café, nem sabia como as pessoas bebiam café sem açúcar", lembra.

No entanto, ao entrar na cultura do café e aprender sobre técnicas como a arte do latte, ela descobriu um novo apreço pela bebida. Hoje, ela não apenas aprecia o café sem açúcar, mas também o vê como um meio de conexão com os outros. "Eu tentei sair do café, mas ele não saiu de mim", conta Rayane.

O professor de educação física, Leonardo Melo, 29, cresceu em um ambiente onde o café era parte integrante da rotina. "Desde criança eu sempre tomei café, na minha casa não tinha esse negócio de que criança não pode tomar café", lembra.

A relação com a bebida mudou quando ele começou a estudar para concursos públicos e percebeu os efeitos negativos do consumo excessivo. "Com o tempo, beber muito café acabou se tornando algo prejudicial, pois eu tinha insônia e, no outro dia, acabava acordando menos disposto do que no dia anterior", relata. Desde então, ele estabeleceu limites estritos para seu consumo de café, evitando-o após as 14h.

*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 


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postado em 21/04/2024 04:25 / atualizado em 21/04/2024 15:42
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