O comerciante João Carlos da Silva foi condenado a 18 anos de prisão em regime inicialmente fechado, na segunda-feira (15/4), pela morte do professor indígena Ari Uru-EU-Wau-Wau. O réu foi condenado por homicídio duplamente qualificado. O corpo de Ari, 33 anos, foi encontrado com sinais de espancamento em 17 de abril de 2020. A sessão de julgamento durou quase 12 horas.
Ari era professor e muito conhecido no estado de Rondônia por trabalhar registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da Terra Indígena Uru-EU-Wau-Wau. Ele integrava o Grupo de Monitoramento do território indígena. A história dele foi retratada no documentário O território, dirigido pelo norte-americano Alex Pritz e premiado no Emmy Awards em janeiro deste ano.
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A sessão do julgamento foi realizado no Fórum Criminal de Jaru. Durante o júri, o promotor de Justiça Roosevelt Queiroz Costa Júnior afirmou que Ari foi assassinado no bar do acusado, local que costumava frequentar. João teria oferecido bebida à vítima em quantidade que a fez ficar inconsciente. Desacordado, Ari foi golpeado pelo comerciante, com dois instrumentos perfurocortantes na região do queixo, pescoço e cabeça.
O Ministério Público sustentou que o homicídio ocorreu por motivo fútil, visto que o acusado matou a vítima sob o argumento de que ela alterava o comportamento quando bebia. O crime também foi praticado com recurso que dificultou a defesa de Ari, o que foi configurado pelo estado de embriaguez a que o denunciado induziu a vítima.
Quem mandou matar Ari?
Leonice Tupari, coordenadora da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia, frisa que a condenação de João não é o único objetivo dos povos indígenas, pois ainda falta descobrir quem mandou matar Ari.
"O legado de Ari não será esquecido. Seu nome ressoa eternamente nos corações daqueles que batalham incansavelmente pela justiça e pela proteção das terras ancestrais. É vital que o mandante do crime seja descoberto, não apenas como um ato de justiça para Ari e seu povo, mas também como um exemplo contundente de que crimes contra os defensores da natureza e dos direitos indígenas não serão tolerados", disse a Associação Kanindé.
Além da condenação, movimentos indígenas também pedem medidas de proteção dos povos e territórios. "Exigimos justiça, a condenação do executor é apenas o primeiro passo. A TI precisa de uma desintrusão, que garanta a proteção à vida e ao território contra madeireiros e grileiros", destacou a Articulação dos Povos Indígenas.
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