Entre 2018 e 2022, a taxa de mortes de crianças indígenas de até 4 anos foi mais que o dobro que o registrado no restante da população infantil brasileira. Em 2018, a cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 14,7 morreram no período neonatal, ou seja, antes dos 27 dias. Entre as crianças não indígenas, essa taxa foi de 7,9. Já em 2022, o índice foi de 12,4 mortes para mil nascidas vivas — valor 55% maior do que a taxa entre as crianças não indígenas. Os dados foram divulgados pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), na terça-feira (9/4).
Em relação a mortalidade de crianças indígenas com até 4 anos, em 2018 a taxa foi 2,6 vezes maior do que entre crianças não indígenas, pois a cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 34,9 morreram antes de completar 5 anos — número próximo à taxa de 34,7 encontrada em 2022. Entre as crianças não indígenas da mesma faixa etária, as taxas permaneceram em 13,3 no ano 2018 e 14,2 em 2022.
A pesquisa também aponta que as causas mais frequentes de mortalidade de crianças indígenas são doenças evitáveis. Enquanto quase 70% das mortes entre não indígenas estão ligadas a complicações decorrentes da gestação, parto ou malformação, na população indígena esse percentual fica em 40%. No entanto, quando as causas são relacionadas a doenças do aparelho respiratório, doenças infecciosas e parasitárias ou doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, a proporção entre não indígenas é de apenas 14%, enquanto entre os indígenas sobe para 38%.
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“O Brasil é um país diverso e de múltiplas infâncias. Mapear como as crianças indígenas vivem hoje e entender quais os principais gargalos para que elas possam se desenvolver plenamente contribui para a elaboração de políticas públicas efetivas”, explica Marcia Machado, integrante do Comitê Científico
do NCPI e responsável por coordenar o estudo.
Fatores
Um dos fatores que explica o índice de mortalidade de indígenas é o número insuficiente de profissionais de saúde e a alta rotatividade nas comunidades tradicionais. Isso se dá, em parte, pelas longas distâncias percorridas para a realização de atendimentos. Essa realidade provoca espaçamentos entre as consultas e interrupções em tratamentos.
Cabe destacar também que cada comunidade indígena tem compreensões próprias sobre o enfrentamento de doenças e os cuidados com o corpo, que incluem rituais, técnicas corporais e estímulo à ingestão de determinados alimentos. Por isso, a pouca familiaridade dos profissionais de saúde com esses aspectos culturais e sociais pode gerar desconfiança durante as abordagens — o que impacta os atendimentos médicos.
“Um dos aspectos fundamentais para o êxito na atenção primária à saúde é a construção de vínculos com a comunidade, sobretudo no contexto da saúde dos povos indígenas. Profissionais de saúde devem respeitar e considerar esses aspectos para promover o desenvolvimento integral das crianças nas
comunidades indígenas”, defende Marcia Machado.
Recomendações
O estudo, intitulado Desigualdades em saúde de crianças indígenas, aponta caminhos para focar na atenção primária da saúde indígena. O primeiro passo é estabelecer um calendário permanente de capacitação para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), com temática específica sobre culturas indígenas, seus modos de vida e de cuidado, assim como as melhores formas de abordagem de pacientes indígenas.
Além disso, a pesquisa frisa que é importante adaptar o cuidado em saúde das equipes da Estratégia Saúde da Família, reformulando programas e políticas sempre que necessário, e facilitar o acesso aos serviços de saúde a gestantes, puérperas e crianças na primeira infância, com o cumprimento do calendário recomendado de consultas de pré-natal ou puericultura.
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