O ex-policial militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa e o sargento reformado da Polícia Militar do RJ Edmilson Macalé, acusados de matar a vereadora Marielle Franco, em 14 de março de 2018, receberiam pelo assassinato uma “grande extensão de terras” como forma de pagamento. De acordo com relatório final da Polícia Federal (PF) sobre o caso, o qual teve sigilo quebrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), neste domingo (24/3), os loteamentos eram de interesse dos executores por se tratarem de uma “empreitada milionária”.
Lessa foi contatado por Macalé para participar do assassinato de Marielle. No primeiro contato entre os dois, o sargento reformado explicou para o colega de corporação qual seria a “missão” e informou que, em contrapartida, ambos receberiam “um loteamento a ser levantado nas imediações da Rua Comandante Luís Souto, Tanque, Rio de Janeiro”.
“Ao vislumbrar uma boa oportunidade de negócio e se desgarrar da imagem de ser um mero sicário, Ronnie Lessa prontamente aceitou, de modo que Macalé o levou, mediante a intermediação de Robson Calixto Fonseca, vulgo Peixe ou Peixão, assessor pessoal Domingos Brazão, para a primeira reunião do enlace”, detalhou o relatório da PF.
De acordo com a delação premiada de Lessa, conforme consta do documento da Polícia Federal, os loteamentos seriam obtidos por meio de invasão e grilagem de terras, a ser realizada pelos irmãos Brazão, apontados como os mandantes da morte de Marielle. Seriam duas extensões de terras, cada uma com mais de 150 mil m², em Jacarepaguá.
“Trata-se de duas grandes extensões de terra não ocupadas nas adjacências da Estrada Comandante Luís Souto e da Estrada da Chácara, no bairro da Praça Seca, em Jacarepaguá, contínuas à Vila Valqueire e à Comunidade da Chacrinha”, detalha o relatório. Os irmãos Brazão têm grande influência nessa região, sendo Jacarepaguá um dos redutos eleitorais do deputado Chiquinho Brazão, também preso neste domingo (24/3), apontado como um dos mandantes do crime.
“Ronnie Lessa narrou que receberia, juntamente com Macalé, uma grande extensão de terras que os Irmãos Brazão estavam planejando invadir para promover o parcelamento do solo para posterior revenda dos lotes. Ressaltou que, pelas dimensões das terras, se tratava de uma empreitada milionária”, constata o relatório.
A promessa também envolvia o comando de um grupo de milícia no local. Com isso, Lessa disse ter ficado seduzido pela proposta, já que sua ideia era fazer do loteamento a sua base de atuação para atividades paramilitares. O ex-militar tem mais de duas décadas envolvido em milícias, mas não tem poder de comando e, com as terras que receberia após matar Marielle, tinha a intenção de ganhar protagonismo.
“O maior atrativo da iniciativa residia na exploração dos serviços típicos de milícia decorrentes da ocupação dos loteamentos, como exploração de ‘gatonet’, gás, transporte alternativo, dentre outros, pelos quais o colaborador [Lessa] e seu comparsa [Macalé] seriam os responsáveis”, ressaltou o documento da PF.