A Floresta Amazônica perde, por dia, cerca de 4,6 mil km² de cobertura vegetal, uma área correspondente a mil campos de futebol. Os dados são da plataforma de inteligência artificial PrevisIA. Para especialistas, é preciso intensificar políticas de reflorestamento e de manejo florestal sustentável. A medição da plataforma leva em conta o calendário de desmatamento — entre agosto de um ano e julho do ano seguinte — e a taxa anual medida pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do governo federal.
Apesar de a plataforma ter previsto queda no ritmo da devastação em relação ao mesmo período de 2022/2023, 2024 ainda deve apresentar grandes desafios para as políticas de combate ao desmatamento na Amazônia Legal.
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Segundo Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon e coordenador técnico da PrevisIA, a redução do desmatamento que está sendo observada nos monitoramentos mensais é uma boa notícia. "Mostra os primeiros resultados da reestruturação das políticas ambientais, principalmente, em órgãos importantes para a proteção da Amazônia, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai)", disse.
"No entanto, ela precisa ser ainda maior para que a derrubada da floresta volte ao patamar de 2012, quando tivemos menos de 5 mil km² destruídos, e possa chegar ao prometido e necessário desmatamento zero em 2030", ressalvou o pesquisador.
A notícia positiva é que ainda é possível evitar 94% do desmatamento estimado para o calendário de agosto/24 a julho/25. Isso porque a previsão para agosto deste ano é de apenas 568 km² de florestas devastadas. "Nós queremos errar essa previsão para 2024, porque criamos a PrevisIA justamente para que ela identifique as áreas sob maior risco, e ações sejam tomadas para protegê-las, mantendo-as em pé", acrescenta Souza Jr.
Um exemplo está na Terra Indígena Apyterewa, em que a PrevisIA estimou maior risco de derrubadas em 2021, 2022 e 2023 — previsão que se confirmou em todos os anos. Porém, no mês passado, começou uma grande operação de retirada dos invasores do território, que deverá impactar na redução do desmatamento a partir deste ano.
"Ações como essa são essenciais para proteger as áreas mais pressionadas da Amazônia, que estão sendo alvo de crimes como grilagem, exploração madeireira não autorizada e garimpo ilegal. É possível usar a PrevisIA para avaliar o grau de impacto dessas operações e estimar o quanto de floresta, de biodiversidade, de carbono e de outros serviços ambientais foram poupados ao evitar o desmatamento", comenta Carlos.
Influências
Para o biólogo e professor no Aprova Total Paulo Jubilut, o desmatamento na Amazônia é impulsionado por diferentes fatores. A expansão de áreas para agricultura e criação de gado leva à derrubada de árvores para abrir espaço a plantações e pastagens. "A busca por recursos como ouro e minério de ferro também provoca a abertura de novas áreas, muitas vezes, com impactos negativos grandes para a floresta", explicou.
Uma das alternativas para reduzir o desmatamento é o reflorestamento, "uma opção importante para ajudar a reverter o cenário de desmatamento, mas, desde que seja feito com as espécies certas, e acompanhado por profissionais da área", diz Jubilut.
Como levaria muitos anos para restaurar a floresta, o biólogo defende a adoção de medidas imediatas, como a aplicação rigorosa das leis ambientais para combater atividades ilegais e o uso de tecnologias avançadas para monitorar e deter o desmatamento. "A cooperação internacional e o financiamento para iniciativas de conservação e reflorestamento também são essenciais, já que a proteção da Amazônia é uma preocupação global devido a sua importância para o clima e a biodiversidade", acrescenta.
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