Rio Branco — Após ser duramente atingido pelas enchentes, com a baixa das águas, o Acre pode voltar a enfrentar picos nos casos de dengue, além de diversas outras doenças associadas ao alagamento. Segundo o secretário de Saúde do estado, o médico Pedro Pascoal, quando a água inunda, as larvas podem ser levadas. Só que depois é grande a possibilidade de o quadro se agravar.
"O ambiente mais propício para o mosquito é a água parada. Com a chuva, os pontos de água parada foram lavados. Mas agora, após a enchente, novos pontos de água parada poderão se formar", explica Pascoal.
Para o secretário, o risco é a dengue superar o pico da segunda semana epidemiológica do ano, no início de janeiro, quando o estado chegou, proporcionalmente, à quarta posição em número de casos no país. Na ocasião, registrava um crescimento de 350% no número de casos em comparação com 2023. Depois, com as chuvas, o índice caiu. Agora, na 10ª semana epidemiológica, a alta está menor, em "apenas" 264%. "É grande a possibilidade de se ultrapassar o pico de janeiro", alerta o médico.
Conforme os dados do controle epidemiológico, até o momento, as variantes do vírus da dengue predominantes no Acre são as de tipo 1 e 2, menos propensas a causar os casos mais graves da doença.
"Por sorte, nós não tivemos nenhum paciente que evoluiu para a forma grave da doença. Nosso rastreio mostrou que o vírus circulante é do tipo 1 e 2, com os pacientes não tendo a necessidade de internação em unidade de terapia intensiva", pondera o secretário.
Vacina
O Acre conseguiu junto ao governo federal ser o primeiro estado da Região Norte a receber a vacina contra a dengue. O imunizante é destinado às crianças de 10 a 14 anos, população mais propensa a desenvolver as formas graves.
Apesar da entrega rápida da vacina, a imunização está muito distante do ideal. O estado recebeu 66 mil doses, o suficiente para imunizar 33 mil pessoas. Mas, até o momento, apenas 2.857 crianças tiveram a primeira dose aplicada. O esforço em divulgar a imunização não tem sido suficiente para reverter a baixa procura. O desinteresse é creditado, em parte, à atuação de movimentos antivacina no estado, aponta Pascoal.
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"Infelizmente, só 2.857 doses foram aplicadas. O esforço do estado para ser o primeiro a ser contemplado (com a vacina) foi gigantesco, só que não existe a procura pela população. O estado do Acre tem uma particularidade, que é um movimento antivacina. Em 2017, foi até mesmo criada uma associação, com CNPJ, sem nenhuma base científica, desse movimento", lamenta.
O secretário refere-se à Associação Brasileira de Vítimas de Vacinas e Medicamentos (Abravac), registrada e com sede no Acre. A entidade afirma ser formada por mães de crianças que teriam sofrido reações adversas com a vacina contra o HPV. A Abravac é contrária à aplicação do imunizante contra a dengue.
Com a baixa adesão e o recente anúncio do Ministério da Saúde de que pode redistribuir doses de vacina não utilizadas, o secretário de saúde teme não alcançar o nível de imunização, agravando o quadro de dengue no estado.
Na última semana, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a medida. "Vamos fazer a redistribuição das doses que não foram aplicadas e que estão nos municípios", afirma.
Mais doenças
Além do risco de aumento nos casos de dengue, o estado está receoso da ameaça de surtos de leptospirose, tétano e hepatite. Essas são algumas das doenças típicas após inundações, pontua o secretário de Saúde.
"Nós sabemos que o período mais crítico para a saúde é o pós-alagação, 10 a 15 dias. É nesse momento que a população tem contato direto com a lama e com os dejetos da alagação, para a propagação das doenças que nós chamamos de hídricas, as hepatites, a própria leptospirose, as doenças diarreicas", descreve.
Apesar do cenário preocupante, o secretário demonstra confiança na parceria com o governo federal e na força do Sistema Único de Saúde (SUS). "Quero frisar que temos todo o apoio da ministra Nísia Trindade ao Acre, que estendeu todo o auxílio possível, estendeu a mão mesmo. Deixaram de prontidão as equipes da Força Nacional do SUS, da mesma forma como foi feito com os ianomâmis em Roraima" destaca.(HL)
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