O Brasil superou ontem os 2 milhões de casos de dengue em pouco mais de dois meses de 2024. De acordo com o painel do Ministério da Saúde, são 2.010.896 prováveis infecções da doença, além de 682 mortes registradas e 1.042 óbitos em investigação.
O coeficiente de casos de dengue no país está em 990,3 a cada 100 mil habitantes. O Distrito Federal apresenta a maior incidência de prováveis infecções — 5725,8 a cada 100 mil habitantes. Somente em 2024, o total de notificações na capital federal é de 161.299, segundo o Ministério da Saúde.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que a concomitância entre os casos de dengue e de gripe poderá pressionar o sistema de saúde. Conforme ressaltou, o aumento precoce de registros de vírus respiratórios está ligado a fatores climáticos.
"A dengue é o mais grave problema de saúde pública que temos hoje, mas não é o único. E nós não queremos descuidar das outras doenças", alertou a ministra.
No mesmo período de 2023, o Brasil tinha 400.197 casos de dengue e o total de notificações no ano passado foi de 1.658.816. O recorde anterior de registros era de 2015, quando houve 1.688.688 notificações ao longo daquele ano.
A pesquisadora Joziana Barçante, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Biomédica da Universidade Federal de Lavras (MG), afirma que as mudanças climáticas são as grandes causadoras da epidemia de dengue. No entanto, ela lembra que a população tem responsabilidade no combate ao Aedes aegypti — vetor da dengue — e destaca a falta de saneamento básico como outro fator para a proliferação do mosquito transmissor.
"Temos uma enorme produção de material plástico e metálico. Mesmo uma tampinha de refrigerante com água é um possível criadouro. Tudo isso, associado às condições de infraestrutura muitas vezes precárias, em regiões onde você não tem o esgotamento sanitário tratado, canalizado, uma água potável para a subsistência das famílias, você acaba mantendo ciclos de pobreza que favorecem a proliferação do mosquito", ressaltou.
O mestre e doutor em epidemiologia Paulo Petry destaca que o país vive uma emergência em saúde pública. "Corremos o risco de sobrecarga no sistema de saúde e, eventualmente, uma exaustão do sistema. Embora a dengue mate menos do que a covid-19, por exemplo, traz uma história de internações e sintomas mais intensos. O governo está tentando redistribuir as vacinas de dengue que ainda não foram aplicadas. É preciso que haja um esforço conjunto, tanto dos gestores quanto da população, no sentido de eliminar os criadouros dos mosquitos", advertiu.
Na quarta-feira, o ministério anunciou que os estoques da vacina Qdenga parados nos municípios considerados prioritários serão remanejados para outras cidades. Essas doses estão próximas do prazo de validade (encerra-se em abril) da primeira leva e serão redistribuídas para que não se percam.
Segundo o Ministério da Saúde, as mulheres são a maioria das vítimas da dengue, com 55,5%. Em relação à idade, a maior quantidade de pacientes está na faixa etária entre 20 e 29 anos.
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