saúde pública

Vacina da dengue não usada será redistribuída; entenda

Ministério da Saúde remanejará estoques de imunizantes remetidos a municípios que estão na zona de prioridade, e que não foram aplicados. Faixa etária para recebimento das doses, de 10 a 14 anos, não muda

Estoques dos municípios que têm prioridade serão recompostos pela nova remessa da Qdenga. Doses remanejadas estão perto do fim da validade -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Estoques dos municípios que têm prioridade serão recompostos pela nova remessa da Qdenga. Doses remanejadas estão perto do fim da validade - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Ministério da Saúde redistribuirá as vacinas contra a dengue distribuídos para municípios considerados prioritários, mas que não foram aplicadas. Segundo a ministra Nísia Trindade, a estratégia é ampliar o oferecimento de imunizantes para outras cidades foi decretada a emergência em saúde pública.

Apesar da redistribuição, a faixa etária de quem está apto a receber as doses não vai se alterar — continuará sendo aplicadas em jovens entre 10 e 14 anos. As vacinas serão reencaminhadas para outros municípios dentro do mesmo estado para facilitar a logística de distribuição, segundo a pasta.

De 1,2 milhão de doses da Qdenga entregues na primeira leva, segundo o ministério apenas 450 mil foram aplicadas até agora. Ao todo, são 350 cidades divididas em 10 estados, além do Distrito Federal, que estão em alerta para a doença.

Além da ampliação do leque de municípios que receberão a vacina, o ministério tem outro motivo para fazer a redistribuição: as doses distribuídas têm validade até o fim de abril. De acordo com a pasta, esse primeiro lote foi uma doação do laboratório Takeda, que fabrica o imunizante, e mesmo estocadas estavam em um momento crítico para serem utilizadas. Outras 6,5 milhões de doses começaram a ser recebidas nos próximos dias.

Reposição

A secretária de Vigilância em Saúde Ethel Maciel garantiu que todas vacinas serão repostas aos municípios que estiverem com sobra de estoque para a redistribuição. Ela frisou que as doses complementares das crianças que foram vacinadas serão as do novo lote enviado pela fabricante, para que não fique próximo à data de vencimento.

Em complementação à vacinação, Nísia anunciou o repasse de mais R$ 300 milhões para estados e municípios adquirirem medicamentos para o tratamento da dengue — como soro fisiológico, sais minerais e analgésicos. Como não há tratamento para a doença, a principal forma de enfrentá-la é aumentando a hidratação da pessoa infectada e o conforto contra as dores.

Tais recursos se somam aos R$ 260 milhões anunciados no ano passado para o combate às arboviroses — dengue, zika, chikungunya. Neste ano, já foi repassado cerca de R$ 1,5 bilhão para estados e municípios que decretaram emergência em saúde.

Onda de calor 

O interior do Brasil ultrapassou o litoral na incidência de dengue por conta do aumento das ondas de calor. A região costeira que vai de Santos (SP) a Belém tipicamente apresentava maior proporção de casos da doença em comparação com sua população. Entretanto, o oeste do Paraná, o oeste de Santa Catarina o oeste de São Paulo, o interior de Minas Gerais, uma parte do Tocantins, o Goiás e o Mato Grosso do Sul viram a transmissão da doença aumentar.

De acordo com o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz e autor do estudo, Christovam Barcellos, a maior quantidade de dias de calor nas áreas está relacionada ao desmatamento. Atualmente, o país assiste a um recorde de casos de dengue, o que tem feito cidades decretarem emergência e adotarem medidas de mitigação.

O estudo da Fiocruz, publicado na revista Nature, correlacionou o aumento dos casos de dengue na região com a maior frequência de dias com temperaturas acima da média — ou seja, ondas de calor. Outro fator que tem provocado o aumento de doença é a urbanização desacompanhada de melhorias nos serviços oferecidos pela cidade.

O mosquito Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C, sendo que a faixa ideal para manter a transmissão do vírus é entre 21°C e 30°C. Essa média é padrão em boa parte do Brasil, mas, em alguns lugares do sul e do Planalto Central, a temperatura média fica abaixo dos 18°C, em especial, durante o inverno.

Um clima mais quente nessas regiões pode viabilizar a reprodução do mosquito durante todo o ano, em vez de surtos sazonais. O estudo constatou que apenas poucas áreas no extremo sul do país permanecem sem incidência de dengue.

No interior, o verão está se estendendo ainda mais, segundo o pesquisador da Fiocruz. "Em 2023, a gente começou a observar onda de calor no inverno, uma coisa inédita no clima. Isso disparou a transmissão da dengue em outubro e novembro do ano passado", explica Barcellos.

O aumento dos dias de ondas de calor tem entre seus fatores como a devastação do Cerrado. O bioma tem sido um dos mais desmatados e, em fevereiro, o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) detectou um aumento de 99% de perda de vegetação em comparação com o mesmo período de 2023.

 

 

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postado em 21/03/2024 03:55
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